Di Ferrero, 34, tinha 8 anos quando participou de um congresso da Legião da Boa Vontade, entidade brasileira de assistência social fundada por Alziro Zarur (1914-1979). Ao lado da mãe, no ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, o garoto foi surpreendido por um homem que, ao ler sua mão, determinou: “Você vai ser um condutor de massas, vai bombar e fazer muito sucesso”, recorda o cantor.
“Eu era moleque. Sempre acreditei em tudo, até que me provassem o contrário”, garante Ferrero. O preâmbulo é para explicar a gênese do primeiro álbum solo de sua carreira. Desde que anunciou, em 2017, o hiato por tempo indeterminado do NX Zero – banda que liderou por 16 anos –, o músico lançou singles e videoclipes de forma esporádica, como em “No Mesmo Lugar”, em que contracena ao lado da mulher, Isabeli Fontana.
Agora, ele apresenta “Sinais: Parte 1”, EP que traz as seis primeiras faixas de um trabalho que já promete uma continuação. Com a ideia de “uma série com começo, meio e fim” e a promessa de “várias participações”, Ferrero prefere manter a segunda parte “em suspense”. Mas não se furta a falar sobre o atual lançamento.
“As ideias desse álbum vieram do meu interesse pela energia, estou sempre olhando para cima, buscando o universo e prestando atenção na intuição que vem dos sinais”, define. O título do disco é oriundo da faixa “Seus Sinais”, mas não nasceu de forma espontânea. A “criança” chegou a mudar de nome mais de uma vez, e foi apenas quando o cantor Lulu Santos intercedeu que o batismo se tornou definitivo.
“O Lulu acompanhou todo o processo, há muito tempo que ele é um grande mentor para mim”, enaltece Ferrero. Os dois eram vizinhos de camarim nos estúdios Globo quando, certo dia, Ferrero apareceu com “cara de angústia”. Ao analisar a música “O Sol Não Saiu Mais”, Lulu decidiu que o título “longo e depressivo” deveria ser trocado para algo mais “poético e literal”. E deu-se à luz “Seus Sinais”.
“Saí correndo para avisar a gravadora que o título da música tinha mudado”, conta ele, que teve a sorte de se encontrar com outra figura ímpar da música brasileira durante as gravações. Sem saber, Ferrero foi levado pelos produtores a um estúdio que, segundo ele, ficava numa “casa linda”. Qual não foi a surpresa quando ele descobriu que a moradora do imóvel era a cantora Elba Ramalho. “Ela apareceu, e ficamos horas falando de ufologia e ETs”, revela.
Para completar o ciclo de coincidências, Ferrero se preparava, na época, para viver Alceu Valença na atração “Show dos Famosos”, da qual saiu vencedor ao lado da funkeira Ludmilla. “A Elba me deu várias dicas sobre o Alceu, disse que, apesar de ser um senhor, tudo nele tem muita virilidade e força, não existe meio-termo, e isso me ajudou a ajustar o jeito de voz e até o gestual do corpo”, observa.
Foi nesse contexto que surgiu a música “Viver Bem”. “Acordei querendo ver o mar/ Tem um sol lá fora só pra mim/ Pra fluir desligo o celular/ Off-line pra notícia ruim”, dizem os versos. Essa concepção “good vibes” ganhou uma tradução imagética, que ilustra a capa do CD.
“Ela é toda escura, como se fosse o universo, mas com pontos de luz. O meu rosto não tem expressão, mas diz muito ali. É para todo mundo se sentir representado da sua maneira”, explica Ferrero, que tem uma relação própria com a fé. “Cada um tem um modelo de Deus. Se você parar para pensar, são 7 bilhões de pessoas e de religiosidades diferentes. Não tenho religião, mas sou cheio de religiosidade. Meu modelo de Deus é a fé, é pisar no escuro sabendo que não vai cair”, filosofa.
Trajetória. A história de Di Ferrero com o “Show dos Famosos” lembra aqueles relacionamentos em que depois da rejeição nasce o amor. O músico admite que recusou o primeiro convite para participar da atração e que só foi convencido pela insistência da produção. Flechado pelo cupido, ele se entregou “de corpo e alma” e acabou levando o troféu para casa.
“Descobri um lado intérprete que me fez crescer muito, porque antes eu só cantava, basicamente, as minhas músicas”, informa. Uma dessas experiências mais desafiadoras foi se caracterizar como Cássia Eller, inclusive por “se tratar de uma mulher”. “Tive que colocar minha voz em outro lugar. Fiquei com o meu músculo de voz dolorido, como quando a gente volta para a academia”, compara.
Com a parada por tempo indeterminado nas atividades do NX Zero, o cantor se habituou a outras mudanças em sua rotina. “Passei a fazer música em momentos felizes. Antigamente, eu compunha como uma espécie de terapia; quando eu estava bem, eu ia para a praia curtir o dia”, admite.
O efeito foi sentido nas novas canções que, segundo ele, “ficaram mais alegres e para cima”, analisa. Ironicamente, Ferrero anda sentindo falta desses “bons sentimentos e do espírito de comunhão entre os brasileiros”.
“Num momento de polarização como esse, fica tudo muito raso, como se fosse um time de futebol em que a torcida sempre briga no final”, reflete. Mas ele tem um antídoto. “A música não tem rótulos, ela pode falar para várias pessoas que pensam de forma diferente e, naquela hora, cantam juntas”, finaliza.
Serviço. “Sinais: Parte 1”, primeiro álbum da carreira solo de
Assista ao mais novo videoclipe de Di Ferrero: