Criador de capas antológicas famosas da MPB, o fotógrafo e artista plástico pernambucano Carlos Filho (1950-2019), mais conhecido por Cafi, é o foco do documentário "Salve o Prazer", que é destaque na programação do Canal Curta! desta segunda (28), às 23h. 
 
Ele foi responsável por algumas das capas de disco mais emblemáticas da música brasileira — quase 300 álbuns, inclusive o lendário “Clube da Esquina”, de Milton Nascimento e Lô Borges, além do disco do tênis, também de Lô. Mas sua contribuição para a arte e a cultura foram além. O documentário de Lírio Ferreira e Natara Ney apresenta a trajetória do artista a partir da década de 1960 até a sua morte, no réveillon de 2019.
 
O fio condutor da produção é o depoimento do próprio Cafi, filmado em lugares que marcaram a sua vida, entre Pernambuco, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Sua fala e a dos outros entrevistados se misturam às imagens de arquivo de seu acervo pessoal, além de vídeos antigos de cidades por onde passou. Tudo isso embalado por uma trilha-sonora de belas canções da MPB. 
 
Diante do olhar sensível dos diretores,  o homenageado recorda seu passado e reencontra parceiros e amigos, como Alceu Valença, Lô Borges, Jards Macalé, Ronaldo Bastos e a coreógrafa Deborah Colker, sua ex-mulher. Ele, que participou ativamente da vida cultural do Brasil, era entusiasta do Maracatu, manifestação cultural típica da Zona da Mata pernambucana, foi um dos fundadores do coletivo de poesia Nuvem Cigana, além de ter sido parte da história do Circo Voador. 
 
O artista coleciona histórias por trás de sua obra e conta boa parte delas durante o longa. Relembra, por exemplo, como surgiu a capa do disco “Clube da Esquina”: “Quando a gente voltou da fazenda do Ronaldo, eu vi aqueles dois meninos. Eu pedi: Ronaldo, para o carro agora. Ronaldo parou, e eu bati aquela foto de dentro do carro, bati com o vidro na frente. E o mais importante, para mim, é que tinha o arame farpado passando em cima dos dois meninos. Então, era disso que eu gostava nessa foto. Não tinha o nome do disco ainda. Quando passei essa foto, Milton disse: é essa a capa. (...) Recebi por aquela capa uma viagem de ônibus para Recife (de ida) e voltando”.