Crítica

'Downton Abbey' mostra a nobreza por trás da etiqueta

Longa dá sequência à série homônima que, por seis anos, conquistou fãs com as intrigas e os códigos de conduta da família do conde de Grantham e de seus empregados

Por Etienne Jacintho
Publicado em 24 de outubro de 2019 | 03:00
 
 
 
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A realeza fascina. Observar lordes e ladies escondendo a humanidade atrás de pompas e códigos de condutas é um deleite para qualquer cidadão – ou proletário, palavra que Maggie Smith, na pele da viúva Violet Crawley, adora usar para descrever qualquer um que não possua um título de nobreza na série “Downton Abbey”. Obras audiovisuais criam e recriam histórias reais, mas poucas exploram a nobreza que alimenta esse sistema decadente, para alguns, e glamouroso, para outros. 

E quem melhor do que os ingleses para tratar assuntos da nobreza de forma deliciosamente cínica, mas respeitosa? “Downton Abbey” alimentou-se por seis anos de sentimentos contraditórios para retratar, com drama e humor ácido, não só a família do sétimo conde de Grantham, Robert Crawley (Hugh Bonneville), mas também os empregados de seu castelo. A série da ITV, concorrente da BBC, começa em 1912, com o naufrágio do Titanic, que mata o herdeiro da propriedade Downton Abbey e noivo de lady Mary (Michelle Dockery), a filha mais velha do lorde Crawley. Sem direito a herdar o palácio por ser mulher, lady Mary vira o centro das atenções, enquanto o novo herdeiro, Matthew (Dan Stevens), um jovem advogado sem títulos – e hábitos – de nobreza, causa uma revolução em Downton Abbey.

Após seis anos de intrigas, não somente entre os Crawleys, mas também entre os empregados do palácio – valetes, volantes, mordomos, empregadas, motoristas, cozinheiras e assistentes –, a série teve seu fim em 2015. Neste tempo, abordou temas sociais e políticos debaixo do verniz da monarquia. Socialismo, igualdade de gênero, patriarcado, feminismo, fim da hierarquia social e sufrágio universal foram alguns assuntos que permearam a trama ao longo dos anos. Quando terminou, ficou aquela sensação de “quero mais”. 

Novas intrigas

Esse “mais” chega agora com a estreia de “Downton Abbey” nos cinemas. Impecável em figurino e ambientação, o longa começa após os acontecimentos da sexta temporada, ambientada em 1925. Como na série, o filme começa com a movimentação dos empregados no castelo. Quando o agora mordomo Thomas Barrow (Rob James Collier) recebe uma carta, os Crawleys e seus empregados ficam em polvorosa: em viagem, a família real britânica passará uma noite em Downton Abbey. A notícia incendeia a propriedade e traz à tona segredos e desavenças envolvendo, claro, herança.

Assim como na série, o filme levanta questões importantes enquanto diverte o público com pratarias, bailes, vestidos de gala, coroas e jantares cheios de etiqueta. O casamento como instituição inabalável é questionado; a ascensão social é abordada com a ajudinha do queridinho Tom Branson (Allen Leech) – ex-motorista que conquistou uma Crawley e é figura central na trama do longa –; o machismo é mostrado dentro da família real. Até mesmo o antipático Thomas Barrow consegue conquistar o espectador ao vislumbrar uma vida meio fora do armário. 

“Downton Abbey” é um filmaço, mesmo para quem não acompanhou a série. Os diálogos de Maggie Smith e Penelope Wilton (Isobel/Lady Merton) são certeiros, irônicos e entoados de forma fantástica pelas duas atrizes, como já faziam na série. Já os fãs vão adorar rever Carson (Jim Carter), Bates (Brendan Coyle), Molesley (Kevin Doyle) – que protagoniza uma ótima gafe –, Anna (Joanne Froggatt), lady Grantham (Elizabeth McGovern), Edith (Laura Carmichael) e Daisy (Sophie McShera) – também com papel de destaque. O desfecho deixa no ar uma possível sequência. Será? 

Veja outras séries que ganharam as telonas

Não foi só “Downton Abbey” que voltou à vida em forma de longa-metragem. Neste mês, a Netflix estreou “El Camino”, que resgata a cena final de “Breaking Bad” para dar sequência à trama iniciada em 2008 pelo professor de química Walter White (Bryan Cranston), que usa seus conhecimentos para produzir metanfetamina. 

O quarteto de “Sex and the City” também voltou e, quem não gostou do desfecho da série da HBO, com Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker) em Paris com Mr. Big (Chris Noth), pôde ver as consequências dessa escolha, com direito até a pedido de casamento. Houve uma segunda sequência, mas com um enredo tão pobre que inibiu a produção de um anunciado terceiro filme – até porque o relacionamento entre as atrizes estava bastante conturbado. 

Séries clássicas como “Anjos da Lei”, “Starsky e Hutch” e “As Panteras” também ganharam longas. Esta última, inclusive, teve dois filmes com o trio Drew Barrymore, Lucy Liu e Cameron Diaz e, agora, terá uma nova versão com Kristen Stewart, Naomi Scott e Ella Balinska. 

Até as séries nacionais já tiveram suas versões para os cinemas. “Os Normais” virou filme em 2003 pelas lentes de José Alvarenga Jr.; “A Grande Família” ganhou a telona em 2007 sob direção de Maurício Farias; e “Sai de Baixo”, de Cris D’Amato, neste ano, fez público, mas não convenceu a crítica.

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