Entrevista

Eduardo Moscovis entre dois personagens: espetáculo online e 'Bom Dia, Verônica'

Dezoito anos após estrear 'Norma', ele volta aos palcos em teatro sem plateia nesta quinta-feira; ator também fala sobre o papel na série de suspense

Por Bruno Mateus
Publicado em 03 de dezembro de 2020 | 07:07
 
 
 
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Eduardo Moscovis está com o tempo corrido. Ele via as horas passarem ligeiras entre uma entrevista e outra e aproveitava para comer o resto do café da manhã que ficara de lado antes de atender nossa ligação na manhã nublada de terça-feira (1º). A agitação se justifica. Nesta quinta-feira (3), pela segunda temporada do projeto Palco Instituto Unimed-BH em Casa, o ator estreia em formato online o espetáculo “Norma”, ao lado da atriz Ana Lucia Torre.

Não só pelo fato de experimentar o ao vivo em um teatro sem plateia, Moscovis vive uma ansiedade diferente. Ele e Ana voltam a viver Renato e Norma 18 anos depois da primeira exibição da peça e 14 anos após a cortina ter se fechado para os dois em cena pela última vez. 

“São duas expectativas distintas, mas que se completam. O fato de estarmos voltando com o espetáculo tantos anos depois... Não podemos negar que envelhecemos, por mais que tenhamos envelhecido muito bem”, diz o ator, em tom de brincadeira, para acrescentar em seguida: “E vamos fazer isso em uma sessão online, no teatro, com câmeras. Ainda vamos entender como isso vai se dar”. 

A montagem, dos autores Dora Castellar e Tônio Carvalho e dirigida por Carvalho, fala do encontro de duas pessoas completamente diferentes. Norma é uma mulher solitária, que vive o isolamento voluntário para lidar com suas frustrações e prefere viver sozinha a se relacionar com estranhos. Ela acabou de alugar um apartamento, antes ocupado por Renato, um cara boa praça, bem-humorado, que pede a ela que informe seu novo endereço e telefone aos que o procurarem. Esse encontro é o ponto de partida de “Norma”.

“A peça trata de questões emocionais e comportamentais que são atemporais. Por isso ela foi escolhida para ser apresentada novamente, porque toca o público. Falamos de coisas muito atuais”, comenta o ator. “Aos poucos, a Norma vai tirando um pouco a armadura e se vê diante de um cara acessível, que sorri muito. A peça começa a avançar por aí”, conta. 

Os ensaios, intensos, têm acontecido na casa de Moscovis, no Rio de Janeiro, onde Ana Lucia Torre passa uma breve temporada. “Estamos batendo texto desesperadamente. A Ana sabe tudo, mas eu estou penando”, conta.

“Norma” não será a primeira experiência de teatro online vivida pelo ator durante a pandemia. Em agosto, ele participou com o monólogo “O Livro” do projeto #SescEMCasa, mas em processo bem diferente. Sem grande produção, Eduardo Moscovis encenou a peça de sua casa. Hoje, a investida passa por outros lugares e outras sensações, e o ator sabe que, durante a pandemia, o ambiente digital é o lugar mais acessível ao teatro. 

“Agora tem o fato de sairmos de casa com todos os cuidados, inclusive fizemos teste para a Covid, andarmos no palco, onde a produção monta o espetáculo, o cenário, a luz, o som, oferece tudo que era a montagem. O que é singular nisso é que não vai ter plateia”, ele pondera. 

Psicopatia e machismo em “Bom Dia, Verônica”

Eduardo Moscovis também pode ser visto em outras telas. Ele é um dos protagonistas de “Bom Dia, Verônica”, série exibida pela Netflix e baseada em livro homônimo. O ator dá vida ao policial Brandão, um psicopata por trás da farda que ostenta com orgulho. Homem de classe média, Brandão reprime, violenta e abusa física e psicologicamente de sua mulher Janete, interpretada por Camila Morgado, fazendo com que ela entre numa trama assustadora.

A atuação de Moscovis tem rendido muitos elogios. “Tive muita dificuldade de me aproximar dele, de estudar o roteiro. Resisti muito até começar a estudar o cara por conta da densidade dele”, conta. A composição do personagem foi muito estudada pelo ator. “Eu não queria fazer dele um psicopata o tempo todo, não é o que eu acredito. Ele é um cara que vive socialmente, cria um personagem bem casado, que leva a mulher para passear de vez em quando.

Para Moscovis, essa construção do Brandão é importante para aproximar a relação autoritária e abusiva que ele impõe à esposa da realidade de milhões de “Brandões e Janetes” no Brasil. O ator ressalta que é fundamental falar sobre violência doméstica na TV, na imprensa, em produções artísticas, e um dos trunfos da série é que ela não usa de didatismo para fazer isso: “Esse tipo de relação não é normal, e nós, enquanto sociedade, somos responsáveis por isso. Nossa organização machista e opressora vem de muito tempo, mas nós, homens com pensamento evolutivo, podemos fazer algo a respeito”. 

Programe-se

“Norma”, com Eduardo Moscovis e Ana Lucia Torre, será encenada nesta quinta (3), às 20h30, no Teatro Claro, no Rio de Janeiro. O espetáculo, com tradução em libras e audiodescrição, fecha a segunda temporada do Palco Instituto Unimed-BH em Casa e será transmitido ao vivo pelos canais no YouTube do Sesc em Minas e do Teatro Claro RJ e pelo Canal 500 da Claro TV.  

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