Qual é, nos dias atuais, o papel da arte e da cultura na construção e na manutenção das democracias? E como políticas públicas culturais podem colaborar para a estruturação de uma sociedade inclusiva e sustentável? Esses são alguns dos tópicos que vão estar na pauta de discussões do Encontro Internacional Arte, Cultura e Democracia no Século XXI, iniciativa conjunta da Secretaria Municipal de Cultura e da Fundação Municipal de Cultura que será aberta nesta segunda, na capital mineira, com programação que se estende até a quinta-feira, 22.
Entre os convidados estão a professora Lilia Schwarcz, da USP, a socióloga e dramaturga (referência na Nicarágua) Lucero Millián, o antropólogo mexicano Jose Antonio Mac Gregor e o gestor cultural colombiano Jorge Blandón, entre outros não menos relevantes.
A abertura oficial, nesta segunda à noite, no Teatro Francisco Nunes, será sucedida pela mesa “Cultura, civilização e democracia: Desafios e riscos atuais”, composta pelo secretário Municipal de Cultura, Juca Ferreira; pela presidente da Fundação Municipal de Cultura, Fabíola Moulin e pelos já citados Lucero, Mac Gregor, Blandón e o diretor do Sesc SP, Danilo Miranda.
O debate em questão vai mapear posicionamentos e atuações possíveis da área cultural diante de questões como a crise das democracias, o desenvolvimento tecnológico e até mesmo a crise ambiental global.
Desafios. Instado a falar sobre o embrião da ideia do encontro – que, diz, poderá ter outras edições –, o secretário Juca Ferreira reitera que nunca é demais enfatizar que, numa sociedade, a qualidade de vida e o seu espírito democrático estão intrinsecamente ligados ao desenvolvimento cultural e artístico. E prossegue salientando que, atualmente, o grande desafio dos diversos agentes que levantam essa bandeira no Brasil é recuperar a centralidade da cultura como um dos vetores para o desenvolvimento. “Políticas culturais construídas no mais longo período democrático que o país já teve estão sendo furiosamente desmontadas, tanto em nível federal quanto em muitos Estados e municípios”, lamenta o secretário municipal.
A pesquisadora e gestora cultural Lena Cunha complementa: “Hoje, os riscos que enfrentamos em âmbito nacional vêm da falta de reconhecimento da área cultural como um setor estratégico de desenvolvimento social e humano – e daí, consequentemente, a sua não valorização como política de Estado.
Ao longo dos últimos anos, conquistamos uma realidade de políticas públicas em diversas áreas artísticas e estruturais, mas, hoje, assistimos a um desmoronamento de projetos e programas. Infelizmente, esse desmonte acaba reverberando, por exemplo, no recuo de investimentos privados”. E emenda: “Precisamos refletir seriamente sobre este momento”.
Oportunidades para tal não faltarão. Já amanhã, a programação tem início às 9h30, com a mesa “Cultura, crise e democracia no século XXI: Reflexões críticas”, que também contará com a presença de Juca Ferreira. Durante a tarde, por vezes simultaneamente, tendas situadas em locais do entorno do Francisco Nunes, como o Largo do Teatro ou a praça dos Patins, abrigarão encontros temáticos. A mesma estruturação será replicada na quarta e na quinta-feira, sendo que, nesses dias, as mesas-redondas, terão, respectivamente, os temas: “Cultura e participação social no século XXI” e “Política, criação, corpo e afeto: Os desafios do século XXI”.
Para interessados em participar, a inscrição, gratuita, está aberta no portal pbh.gov.br/encontrointernacional Vale dizer que todos os debates serão transmitidos simultaneamente no canal do YouTube (youtube.com/user/videospbh).
Término. Na quinta à noite, o fecho do evento contará com uma edição especial do “Baile da Saudade”, que será realizada a partir das 19h30 (e até as 22h), no Baixio do viaduto Santa Tereza (av. Assis Chateaubriand, 889).
Diversidade caracteriza mesas
Professora de artes cênicas da ECA-USP e diretora com atuações na Itália, França, Colômbia e Rússia, Maria Thaís comemora o fato de vir à capital mineira para dividir a mesa da quinta-feira – “Política, criação, corpo e afeto” – com os brasileiros Ailton Krenak, Leda Martins e o colombiano Álvaro Restrepo.
“Acho que a beleza desse tipo de mesa está na diversidade: o que chamo de conceito de floresta, e não de pomar – que geralmente privilegia a monocultura. Fico bastante honrada de dividi-la com pessoas que são referências pra mim”, enfatiza ela, que assinala a pertinência do evento no contexto atual. “Entendo que a América – mais precisamente a do Sul – está passando por um momento de grande retrocesso, de uma crise de modelo de pensamento. A gente percebe uma grande estrutura de pressão, de diminuição, de silenciamento, de colonização, por meio de modelos que estão sendo perpetuados há séculos”, afirma.
E prossegue: “Assim, somos convocados a pensar a política, a arte e a cultura para além das nossas áreas de atuação”, diz ela, sublinhando que, mesmo se essas ações não obtiverem ressonância imediata, podem atuar como sementes. “Para um mundo que eu provavelmente não mais vou estar aqui para ver, mas que entendo ser também da minha responsabilidade”, diz.
Thaís acrescenta: “É nossa obrigação pensar o que estamos deixando como rastros para os próximos seres que vão habitar o planeta, sejam eles humanos ou não”.
A gestora cultural Lena Cunha arremata: “Mais do que resistência, esses encontros provocam reflexões coletivas. São momentos para potencializar uma pauta positiva em torno da cultura, reconhecendo o setor e a sua capacidade de provocar mudanças propositivas. Ou mesmo resistindo para garantir investimentos em políticas públicas que acreditamos ter possibilidades reais para estruturar a qualidade de vida das cidades”.
Por último, mas não menos importante, Lena ressalta que convidados e espectadores que participarão do encontro certamente retornarão aos seus ambientes levando as discussões para seus grupos – portando, disseminando a tal semente à qual Thais fez alusão.
Saiba mais
Presença.Outro convidado internacional é o bailarino, coreógrafo e pedagogo colombiano Álvaro Restrepo.
Outros nomes. Dos locais e nacionais, o ativista indígena Ailton Krenak, o ator Eduardo Moreira, o cineasta Helvécio Ratton, o produtor cultural e MC Léo Cezário, Guto Borges, o quilombola e escritor Nêgo Bispo e o bailarino e coreógrafo Rui Moreira.
Presença feminina. A poeta, ensaísta e dramaturga Leda Martins, a atriz e gestora cultural Maria Marighella, a professora de Artes Cênicas (ECA-USP) Maria Thaís, a cientista política Regina Helena Silva e a professora de análise crítica da arte Renata Marquez.
Show. Nesta segunda, o fecho do dia será marcado pelo show “Paixão e Fé”, com Titane e Túlio Mourão.