Poucos sentimentos foram tão explorados nas artes quanto o amor. Canções, filmes, peças de teatro, óperas, pinturas e outras manifestações culturais tentam dar suas versões para o que poderia ser esse tal arrebatamento. Para o diretor e ator João Valadares, o amor não é um – é diverso, contraditório, paradoxal. É esperança e medo, liberta e sufoca.
Sob essa perspectiva, o espetáculo “Amor”, da Preqaria Cia. de Teatro, chega neste fim de semana ao palco da Funarte para uma minitemporada. “Entendemos que estamos em um momento em que é importante falar de amor, vivenciar o amor de diversas formas, quase um sinônimo de vida”, avalia Valadares.
Contudo, o diretor enfatiza que a proposta da montagem não é simplificar, resumir ou tentar entender um sentimento tão ilimitado quanto complexo. “O tema é tão universal que assumimos que não damos conta dele”, comenta.
Por isso, ele diz, a peça sempre estará em transformação. A cada apresentação, a Preqaria convida artistas, poetas e palhaços para participar do espetáculo e responder à seguinte pergunta: qual amor lhe é caro hoje? No fim de semana, a cantora Eda Costa, o grupo Companhia Pigmentar e o coletivo de dança Movasse darão suas impressões sobre o questionamento. “A criação é coletiva”, destaca João Valadares.
“O mais caro, para mim, é o amor ao próximo, amar o outro com todas as suas diferenças, riquezas e pobrezas”, responde à questão a atriz Izabela Oliveira, integrante da Preqaria desde 2014.
Peça
“Amor” traz cinco atores em cena, que lançam mão de outros elementos artísticos além da atuação. Dança, música, audiovisual e capoeira fazem parte desse jogo que também propõe a participação da plateia. As questões abordadas no palco podem ser extremamente pessoais – como o ator que viu a morte levar duas de três noivas que teve, ou de outro que quase não conviveu com o pai, que se foi cedo demais.
Os relatos encontram eco nos espectadores: quem não se identifica com o amor romântico, vai se reconhecer em um testemunho de cunho mais político, por exemplo. Para Izabela Oliveira, vivemos um momento de ódio explícito, e falar de amor “é uma forma de se posicionar e de resistir para construir novos caminhos”.
Porém, tudo na medida certa, seja no diálogo, seja na troca entre as pessoas: “O amor, quando é demais, sufoca”, considera a atriz.
O diretor João Valadares também acredita nesse sentimento como discurso contra o machismo, a homofobia e a aversão à diversidade. “Amor”, nesse sentido, cumpre seu papel de teatro manifesto: “É nosso desejo de ver o amor sempre vivo, ativo e lutando contra todas as formas de opressão e de desamor”, afirma.
Serviço
Espetáculo “Amor”, da Preqaria Companhia de Teatro. Apresentações sexta (12) e sábado (13), às 20h, e domingo (14), às 19h, na Funarte (rua Januária, 68, centro). Ingressos: R$ 44 (inteira) e R$ 22 (meia-entrada).