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Novo formato
Eventos em drive-in podem ser saída para cultura em BH durante a pandemia
O movimento vem acompanhado de um boom em cidades como São Paulo, Rio e também da região metropolitana, mas produtores preferem avaliar com cautela a situação
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A pandemia do novo coronavírus e a recomendação de distanciamento social têm dado uma nova cara aos eventos culturais em todo o mundo. Além das lives – que se popularizaram no Brasil –, shows, concertos, apresentações circenses e sessões de cinema, entre outros, estão sendo retomados no formato drive-in.
Nele, o público assiste a apresentações e filmes de dentro do carro, usando estruturas montadas em locais abertos. Em Belo Horizonte, a Câmara dos Vereadores aprovou, no início do mês, o projeto que permite a realização de eventos culturais nesse modelo e que, para entrar em vigor, depende apenas da sanção do prefeito Alexandre Kalil.
O movimento vem acompanhado de um boom de drive-in em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e também BH e região metropolitana, como Nova Lima e Santa Luzia. A notícia foi recebida com entusiasmo por profissionais do setor de eventos e entretenimento que atuam na capital mineira, porém eles garantem que preferem agir com cautela neste momento de incertezas provocado pela pandemia.
Diretor da Associação Mineira de Eventos e Entretenimento (Amee), Julio Vermelho acredita que a medida é uma luz no fim do túnel para o setor em BH, que está parado há quatro meses. “Qualquer sinalização que nós temos para podermos desenvolver as nossas atividades, mesmo que seja em um novo formato, mais limitado, com certeza já é um norte, um caminho a ser seguido. Entendemos isso como algo positivo”, afirmou.
Cláudio Martins, da Trio Produtora (que realiza em BH festivais como Villa Mix e o Buteco do Gusttavo Lima), diz que “vê com bons olhos” o projeto. “É uma possibilidade para a gente começar a entender como as coisas serão”, garantiu ele, que revelou que a empresa adiou cerca de 20 eventos em todo o Estado por causa da pandemia.
Para Daniel Zago, da Ímpar Shows, é muito importante essa sinalização que o setor recebeu na capital mineira. “Isso é muito animador. Qualquer passo para uma solução ou o retorno das nossas atividades é válido”, pontuou o produtor, que estava com shows de Djavan e de Caetano Veloso, entre outros artistas, agendados para acontecer em BH neste ano e que foram adiados.
“É um processo que já deveria estar acontecendo há muito tempo, assim como vem acontecendo em várias cidades do Brasil e do exterior”, comentou o produtor e empresário Cristiano Carneiro, da Nenety Eventos (responsável pelo Samba Prime e pelo Festeja Belo Horizonte, entre outros). “Ainda estamos na expectativa de poder realizar eventos no formato drive-in em Belo Horizonte”, completou ele. Segundo Carneiro, somente sua empresa deixou de fazer 15 eventos neste ano.
Os três produtores ouvidos pela reportagem ressaltaram que o projeto aprovado pelos vereadores da capital mineira pode trazer uma solução paliativa para o setor. “Toda uma cadeia produtiva foi afetada com a paralisação dos trabalhos”, afirmou Cláudio Martins.
O mesmo ponto foi citado por Daniel Zago. “Belo Horizonte tinha uma média de 60 eventos por fim de semana. Então, era muita gente envolvida”, disse ele, destacando que nem todos os profissionais serão absorvidos quando o novo modelo começar a funcionar na cidade.
“O formato drive-in é muito bem-vindo nesta época de pandemia. Não acho que terá continuidade no Brasil porque é um modelo frio; os mineiros vão a shows para ter uma experiência, para encontrar os amigos”, ponderou Cristiano Carneiro.
Cautela
Apesar do otimismo, os profissionais do setor de eventos e entretenimento de Belo Horizonte preferiram adotar a cautela neste momento. Enquanto aguardam o projeto ser sancionado, eles se dedicam a planejamentos para verificar a viabilidade do formato drive-in na cidade e elencar possíveis espaços que possam receber esse tipo de evento – o Mineirão, a Arena Independência e o Espaço Bella Vista são ventilados entre as opções de locais para receber a estrutura drive-in.
Julio Vermelho, diretor da Amee, afirmou que o modelo esbarra em uma questão: a econômica.
“Temos conversado com produtores de outras cidades que já adotaram o formato drive-in e percebemos que esses eventos não são tão rentáveis quanto aqueles no formato usual”, revelou. Segundo ele, os gastos com a estrutura física e a aquisição de equipamentos de proteção para funcionários, entre outras despesas, encarecem esse tipo de evento. “Então, tem que ser em um lugar muito grande, que comporte muitos carros para o evento poder começar a se tornar mais viável”, explicou.
Com o aumento das despesas, o produtor poderia repassar os custos para o valor dos ingressos ou, então, ficar no prejuízo, pontuou Julio Vermelho. “Aqui, em Belo Horizonte, se colocar um valor de R$ 500 (por carro, com até quatro pessoas) para um show, por exemplo, como foi praticado em São Paulo, vão dois, três gatos pingados. O público em massa não lota”, garantiu ele.
Sobre a questão do público, Cristiano Carneiro discorda e afirma que esses eventos vão atrair pessoas. “Porém, eu não consigo ver um evento desse ser rentável sem patrocínio. Porque não adianta você colocar cem carros em um espaço e cobrar R$ 500 (por veículo). Se não tiver patrocínio, a conta não fecha”, afirmou o proprietário da Nenety Eventos.
Carneiro revelou que está com o projeto de fazer um drive-in, inicialmente pensado para o Mineirão. “Como o prefeito (Alexandre Kalil) ainda não sancionou o projeto, mudamos para o Mega Space, em Santa Luzia, na região metropolitana. Só que não está sendo viável devido à falta de patrocínio”, revelou ele, adiantando que o evento, previsto para setembro, está em stand-by.
Daniel Zago, da Ímpar Shows, ressaltou que nem todo evento será viável nesse formato. Ele também destacou a importância dos patrocínios na realização. “Há, sim, uma dificuldade de viabilizar, e será necessária, inclusive, uma negociação de cachê com os artistas para os shows no formato drive-in”, observou.
Cláudio Martins revelou que a Trio Produtora também está com um pré-projeto no formato drive-in. Ele ressaltou que a empresa aguarda a sanção da proposta para dar seguimento ao trabalho.
Arena multiúso
Arenas multiúso também estão ganhando espaço por aqui. Uma proposta prevista para chegar em breve à capital mineira é o Autocine Brasil. De acordo com o produtor cultural Gipson Mol, idealizador do projeto, duas unidades serão inauguradas na cidade – uma no campus da Uni-BH no Estoril e outra no estacionamento do Expominas.
Segundo o produtor cultural, a tendência é que esses espaços não fiquem restritos à exibição de filmes. “Já recebemos convites para televisionar jogo, por exemplo”, disse Mol, que não descarta a possibilidade de esses espaços serem usados para shows e outros eventos no formato drive-in.
Entretanto, ele também cita a questão do patrocínio para tornar o projeto viável. “Não é que a estrutura seja grande, ela é custosa mesmo. Temos que seguir os protocolos de segurança, como, por exemplo, a roupa que a equipe tem que vestir para trabalhar. Tem a limitação do espaço, e, com isso, o número de carros também será pequeno”, pontuou.
Mol afirmou que algumas empresas estão “namorando” para patrocinar o Autocine Brasil. Segundo ele, em Belo Horizonte, está tudo pronto para a ideia ser executada, aguardando a sanção do projeto que permite os eventos drive-in pelo prefeito Alexandre Kalil – além do patrocínio.
O produtor também contou que a iniciativa vai chegar a outras cidades mineiras – Brumadinho, Contagem, Betim, Ipatinga e Sete Lagoas estão na lista. Ainda não há uma data de quando esses espaços serão inaugurados. “Nessas cidades dependemos da autorização das prefeituras”, ressaltou ele.
SAIBA MAIS
O projeto Go Dream vai inaugurar na próxima sexta-feira (24), na Universidade Milton Campos, em Nova Lima, uma arena multiúso que será usada para a exibição de filmes, shows e apresentações culturais. O Go Dream funcionará de quinta-feira a domingo, e as entradas custarão entre R$ 70 e R$ 90 por veículo (valor da meia-entrada solidária), podendo conter até quatro pessoas.
Cinema
A rede Cineart, que em junho inaugurou o Cinear Drive-In, em Nova Lima (no Alphaville e no Mix Garden), tem a intenção de inaugurar um espaço em Belo Horizonte, no mesmo formato. “Existe a possibilidade de a Cineart trazer o drive-in para a capital mineira assim que as autoridades autorizarem a implantação desse formato. Já temos contato com diversos shoppings onde temos operações de cinema e devemos fazer drive-in nos estacionamentos desses espaços”, afirmou Lúcio Otoni, diretor da rede de cinema.
“A Cineart fez o drive-in neste momento de pandemia e tem tido uma receptividade muito grande. A gente está conseguindo entregar cultura, entretenimento e lazer com toda segurança e bem-estar em um momento em que os cinemas estão fechados”, completou Otoni.
Mega Space terá festival em drive-in
De olho no boom do formato drive-in, o Mega Space será o palco do DRIV.E Festival, que vai reunir uma série de atrações no espaço, localizado em Santa Luzia, na região metropolitana, no mês que vem.
De acordo com Nathália Mendes, da Plim Produtora (empresa idealizadora do projeto), o festival começará nos dias 14 e 15 de agosto, com shows de Dubdogz e da dupla Patati Patatá, entre outras atrações. “O evento está confirmado nos três finais de semana de agosto a partir do dia 14”, afirmou Nathália, que disse que novos artistas serão anunciados em breve. Segundo ela, há a possibilidade de o evento se estender até setembro.
A produtora contou que o DRIV.E Festival está sendo viabilizado por uma parceria com outras empresas e profissionais. Nathália garantiu que o evento seguirá protocolos de segurança semelhantes aos adotados por diversas cidades. Entre as medidas está a venda dos ingressos e de alimentos somente pela internet. “O espaço poderá receber até 580 carros com até quatro pessoas”, pontuou Nathália.
Os ingressos estão à venda a partir de R$ 120 (preço por carro, com até quatro pessoas; lote promocional) pelo site www.centraldoseventos.com.br/drive. A programação está disponível no perfil do DRIV.E Festival no Instagram (@drivefestivalbr).
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