Em 1995, um timaço formado por Tim Maia, Milton Nascimento, Jards Macalé, Luiz Melodia e Itamar Assumpção foi responsável pelas atrações musicais de um festival pioneiro que debatia e promovia a cultura de matriz africana em Belo Horizonte. Era a primeira edição do Festival de Arte Negra (FAN), que, após um hiato de oito anos, voltou a acontecer, em 2003, e, desde então, a cada dois anos, transforma a cidade em um imenso palco de discussões e arte. Nesta terça-feira (12), no Teatro Francisco Nunes, a programação da décima edição foi anunciada pela Prefeitura de BH.
Serão seis dias – de 18 a 24 de novembro – de uma intensa programação com mais de cem atrações gratuitas do Brasil e do exterior em mais de 20 espaços da capital. Esse imenso caldo cultural contempla música, teatro, cinema, dança, exposições, seminários, residências, minicursos e oficinas.
Para 2019, o orçamento do FAN, proveniente de recursos que saíram exclusivamente dos cofres da prefeitura, quase triplicou – saltou de R$ 1,1 milhão para os atuais R$ 2,8 milhões. A presidente da Fundação Municipal de Cultura, Fabíola Moulin, comemora o aumento nos investimentos e diz que isso possibilita a diversidade de programação e permite “fazer um festival complexo e que revele toda a potência da produção cultural negra”.
“É muito significativo ter um orçamento pujante assim, que se iguala aos valores do FIT (Festival Internacional de Teatro) e de outros grandes festivais na cidade”, acrescenta a gestora.
Eixo
A trajetória da ativista dos direitos humanos, historiadora, poeta e professora sergipana Maria Beatriz Nascimento (1942-1995) serviu de inspiração para que o trio de curadoras do FAN – Aline Vila Real, Grazi Medrado e Rosália Diogo – buscasse nas palavras “território” e “memória” a celebração da ancestralidade do povo negro e sua história na capital.
O FAN revela, assim, a riqueza de uma cultura plural, pulsante e questionadora, resgata raízes que remetem à própria formação do Brasil e reforçam a identidade da nossa raiz africana.
“É bom pensar que essa ideia de território e memória nunca estará descolada da existência dos povos negros, de suas capacidades de se relacionar e das formas com que elas se traduzem no campo artístico”, explica Grazi Medrado.
A programação do festival, inclusive, propõe a troca de experiências entre artistas de diferentes Estados brasileiros e também dos estrangeiros com o público em oficinas de cinema, teatro, luta antirracista, história da África pré-colonial, empreendedorismo, criatividade e moda. Para Rosália Diogo, “reverberar a força da cultura negra e dar visibilidade a ela é contribuir para que os negros de BH e do Brasil dialoguem com outros povos, como os indígenas”.
“O FAN é, sobretudo, um lugar de encontro e não apagamento das identidades. Preservar a memória também é resistir”, completa Aline Vila Real.
Programe-se
O FAN começa no dia 18, às 20h, no Cine Theatro Brasil Vallourec, com o show “Aclamação a Olurum”, com Mateus Aleluia, Thalma de Freitas e Laércio de Freitas. O festival traz a BH nomes como os rappers BNegão e Black Alien, os atores Rocco e Antônio Pitanga e a artista multidisciplinar ganense Va-Bene Fiatsi, entre outras atrações. Alguns representantes da cena mineira são os músicos Roger Deff e Sérgio Pererê, os cineastas André Novais e Gabriel Martins e a atriz Lira Ribas. Programação completa no site.