Música

Marcelo Jeneci inicia por BH a turnê de “Guaia”, o seu novo disco

Álbum é o primeiro de inéditas em seis anos e reflete vivências do músico em Pernambuco e São Paulo

Por Raphael Vidigal
Publicado em 02 de agosto de 2019 | 03:00
 
 
 
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Depois de trabalhar debaixo de chuva, o avô paterno de Marcelo Jeneci, 37, foi diagnosticado com uma pneumonia e, atendido por um “sábio médico” do sistema público de saúde, recebeu um conselho precioso: “Voltar para respirar o ar puro da terra de sua infância”, relembra Jeneci. 

No retorno à cidade natal de Sairé, no agreste de Pernambuco, os avós passaram a receber as visitas frequentes do neto. “O primeiro desenho de Dia das Mães que eu fiz foi para a minha avó, porque a minha mãe trabalhava muito, coitada”, observa Jeneci, reafirmando essa ligação afetiva. 

Em São Paulo, o avô do músico exercia o ofício de pedreiro durante três turnos, em vários locais diferentes, e vivia em uma casa de dois cômodos, ao lado de outra de estrutura idêntica, onde Jeneci morava com os pais e irmãos. 

Descrito pelo artista como um “bairro construído por nordestinos guerreiros e resistentes”, o município de Guaianases, no Sul da capital paulista, foi abreviado para dar nome ao novo álbum do compositor. “Guaia” traz dez canções inéditas que serão apresentadas nesta sexta (2) em BH. 

Repertório. O trabalho se fia, justamente, no encontro desses interiores geográficos. “Fui criado em Guaianases, e Pernambuco é a minha terra ancestral e familiar. Minha música vem desse lamento de saudade da terra, com o choro da sanfona e as melodias que a gente assovia. Tem a ver com o caminhar de pés descalços”, filosofa Jeneci. 

A música “Oxente”, parceria com Chico César feita sob encomenda para Elba Ramalho, é um exemplo, com o aboio que a introduz. “Vem Vem”, com participação da jovem cantora Maya, de apenas 19 anos, traz os pífanos de Caruaru. À frente, surge o frevo. 

“Saí do urbano para o rural e fiz contato com meu ‘eu’ profundo”, destaca Jeneci. Essa investigação pessoal resultou em “Redenção”. “Comecei a tocar na igreja evangélica, acompanhando a minha mãe e, durante muito tempo, existiu em mim esse ‘eu’ gospel. Não sou religioso, mas trabalho a espiritualidade”, afiança. 

“Muitas pessoas sentem essa graça do êxtase religioso, ao mesmo tempo em que desejam o prazer para além dos dogmas cristãos, esse conflito é tratado na letra. A música serve para dizer ‘eu também’, e não criticar”, complementa.

Em “O Seu Amor Sou Eu”, composta com Luiz Tatit, o mundo se insere nessa reflexão íntima: uma batida de coração marca o compasso e, ao fim, as cordas da Orquestra Sinfônica de São Petersburgo emergem. O arranjo de Jeneci foi gravado numa catedral por 24 músicos russos. “A busca é pela dramaticidade, para ‘rasgar o coração’, como ensina o (dramaturgo) Zé Celso Martinez Corrêa”, cita. 

Já “Emergencial”, que abre o disco com um canto indígena da tribo yawanawa, repete o mantra “é emergencial a gente se conectar com a terra”. “A última notícia que tivemos foi de um massacre à tribo waiãpi, com abuso sexual de crianças e mulheres, uma barbárie”, protesta Jeneci, que faz questão de deixar claro seu posicionamento. 

“A arte é uma atitude política e espiritual. A gente vive um momento em que as bestialidades humanas e militares ganharam os holofotes. O Brasil está sofrendo uma manipulação que faz parte de um plano sinistro e aterrorizante, que envolve o assassinato da Marielle, a prisão política do Lula e o golpe contra a Dilma. É hora de falar sobre o impeachment do Bolsonaro”, conclui.

Serviço. Show de Marcelo Jeneci, nesta sexta (2), às 21h, no Sesc Palladium (rua Rio de Janeiro, 1.046, centro). De R$ 25 (meia) a R$ 50 (inteira) 

Ouça faixa do novo álbum de Marcelo Jeneci: 

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