Memória

Há 125 anos, nascia Alberto da Veiga Guignard, um mestre do modernismo

Nascido em Nova Friburgo, mas com trajetória atada a Minas a partir dos anos 40, ele ganha agora uma nova biografia

Por Patrícia Cassese
Publicado em 25 de fevereiro de 2021 | 03:00
 
 
 
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Há 125 anos, nascia, na cidade fluminense de Nova Friburgo, Alberto da Veiga Guignard, um descendente de portugueses e franceses que mais tarde, já na década de 40, ao migrar para a capital mineira, trazido pelo então prefeito Juscelino Kubitschek para dirigir a Escola de Belas Artes, deixou seu nome definitivamente registrado nas páginas da história da cidade. Não só. Também deixou, como legado, o feito de ter dado régua e compasso a uma leva de discípulos que, graças a uma somatória de talento próprio e ensinamentos do mestre, também contribuíram para fazer da cidade um pólo artístico de reverberação nacional - e mundial. 

Para balizar a data, a Autêntica Editora está disponibiizando no mercado o livro "Balões, Vida e Tempo de Guignard - Novos Caminhos Para as Artes em MInas e no Brasil", do jornalista, pesquisador e escritor João Perdigão. Embora com vasto material ilustrativo, a obra está centrada na biografia do homem cuja marca de nascença - o lábio leporino - marcou-lhe para sempre. A vida do artista que tem capítulos importantes em cidades europeias como Munique e Paris. O pintor que escolheu Ouro Preto como sua cidade-inspiração, e que se foi cedo, aos 66 anos.

"Este projeto começou em 2013, a partir de uma sugestão minha para a editora, quando inscrevemos o projeto na Lei Rouanet - infelizmente, ele não foi captado na época e acabou não indo pra frente", conta João Perdigão, acrescentando que só em 2016, quando estava terminando outra pesquisa - no caso, sobre o viaduto de Santa Tereza -, foi chamado pela editora Rejane Araújo, que lhe falou da possibilidade de, desta vez, o projeto ser concretizado. "No final daquele ano, então, eu e a minha equipe começamos a fazer as pesquisas".

João Perdigão pontua que, no seu entendimento, a obra de Guignard tem sido lembrada sim, na dimensão de sua estatura. Mas ele diz se ressentir da ausência de livros que se dedicam em particular à biografia, com uma linguagem mais acessível aos não iniciados. "Geralmente, a vida dele aparece relatada em livros de arte, que são muito grandes, muitas vezes inacessíveis, que não chegam a quaisquer lugares. O intuito desse livro é entender e respeitar a trajetória dele, a vida, os percalços. E não só as obras de arte, mas o Guignard também como mestre, visto que ele teve esse diferencial  em relação a seus pares. Foi um grande mestre, tendo ministrado os célebres cursos livres no parque Municipal", enfatiza. 

Para o pesquisador, o mais difícil nesta caminhada que foi do primeiro parágrafo até colocar o ponto final, foi o que ele nomina como "falta de referências de pessoas no mundo da arte com generosidade suficiente para orientá-lo". "Muitas vezes, tive que ir na marra, na unha, para entender alguns pontos". Um dos aspectos que o surpreenderam, mas que ficou como um pé de página, diz respeito à provável relação de Guignard com o LSD. "Era algo que eu até já tinha ouvido falar, até chegar a documentos que me deram a convicção de que isso realmente pode ter ocorrido", diz, referindo-se a um recorte de jornal sobre o fato de Santiago Americano Freire,  médico em cuja casa o artista residiu, estar ministrando a substância para tratamento psiquiátrico.

"Guignard, nos últimos anos de vida, estava tendo crises alcoólicas, e acho que o LSD pode ter ajudado ele a se desvincular do álcool. E isso também explicaria a retomada de temas surrealistas do início da carreira, como o fuzileiro naval, os balões, com mais frequência. Desvendaria um pouco do trabalho dele". 

Serviço

“Balões, Vida e Tempo de Guignard - Novos Caminhos para as artes em Minas e no Brasil".

João Perdigão

Autêntica (368 páginas, R$ 64,90 ou R$ 45,90, o e-book)

 

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