“Sobre o que, em seu território, ela ajunta de tudo, os extremos, delimita, aproxima, propõe transição, une ou mistura: no clima, na flora, na fauna, nos costumes, na geografia, lá se dão encontro, concordemente, as diferentes partes do Brasil. Seu orbe é uma pequena síntese, uma encruzilhada; pois Minas Gerais é muitas. São, pelo menos, várias Minas”.

Assim escreve o mineiro de Cordisburgo João Guimarães Rosa (1908-1967) na crônica “Minas Gerais É Muitas”, publicada em 1957 na revista “O Cruzeiro”. É esta declaração de amor a Minas Gerais que abre o livro “História Geral de Minas Gerais”, dos pesquisadores José Maria Rabêlo, jornalista; João Antônio de Paula, professor; Fernando Correia Dias, sociólogo já falecido; e Ricardo de Moura Faria, professor. A obra, editada pela Legraphar, tem prefácio de Rui Mourão. 

“Vimos que faltava um livro de história atualizado sobre Minas Gerais”, conta Rabêlo, que assina a primeira parte da obra. O jornalista faz um estudo sobre os acontecimentos dos séculos XVI e XVII, com o início da colonização até as entradas e bandeiras. Porém, quando começou sua pesquisa, constatou que os historiadores não consideravam os índios como os moradores desta terra.

“Índio, por acaso, não é gente?”, questiona Rabêlo. Ele observou que os livros sobre a história do Estado geralmente começam com os bandeirantes. “É uma falha, e decidimos preencher essa lacuna”, diz. Para isso, Rabêlo pergunta: “Quem eram esses povos? Como eles chegaram aqui?” 

A resposta levou Rabêlo a voltar 12 mil, 13 mil anos na história para chegar a Luzia, o fóssil mais antigo de um ser humano encontrado na América do Sul. O fóssil, descoberto na região metropolitana de Belo Horizonte, pertence a uma mulher que morreu por volta dos 20 anos. “Com essa descoberta, a história ganha outra dimensão”, acredita o jornalista.

Rabêlo conta que os povos primitivos como Luzia, com características africanas bem conservadas, fizeram a travessia da África para a América sem sofrer interferência asiática. Já os indígenas fizeram essa mesma travessia, mas sofreram uma miscigenação em sua passagem pela Ásia, o que resulta nessa característica física tipicamente oriental dos povos que habitam não só o Brasil, mas o restante da América Latina. 

O jornalista leva em consideração esses povos neste livro, que, dividido em quatro partes, apresenta a história mineira com base em uma visão mais crítica do que habitualmente é visto nos livros didáticos. 

“João Antônio de Paula traz o século XVIII, e é fenomenal o trabalho que ele apresenta”, diz Rabêlo. “Fernando Correia Dias mostra histórias pontuais do século XIX, resgatando esse período considerado por muitos menos importante”. Dias já tinha esse estudo feito e faleceu antes de vê-lo publicado em livro. “Já o Ricardo de Moura Faria apresenta os acontecimentos mais recentes da nossa história”, afirma. 

Faria contempla os aspectos políticos e econômicos do Estado de Minas Gerais, mas não deixa de lado os movimentos sociais, como a militância pelos direitos humanos, e as artes, pincelando a cultura mineira no teatro, na música, nas artes visuais e, principalmente, em suas festas populares. 

Para ler
“História Geral de Minas”
Editora: Legraphar
Págs.: 400
Preço sugerido: R$ 60