A boa sacada do título – ao colocar duas letras da palavra-chave em caixa alta – reforça um dos chamarizes da mostra “MacaBRo: Horror Brasileiro Contemporâneo”, que entra em cartaz amanhã, em ambiente online (mais precisamente, na plataforma Darkflix), seguindo até o dia 23 de novembro. Apresentando-se como “um passeio sinistro pela produção audiovisual de terror”, a iniciativa chancelada pelo CCBB-BH programa 44 filmes, entre longas e curtas-metragens, com DNA 100% brasileiro. São títulos que trazem a assinatura de expoentes da nova geração de diretores e diretoras afiliados ao gênero, mas sem deixar de prestar reverência a nomes já consagrados – incluindo, nesse último escaninho, uma lenda: José Mojica Marins (1936-2020), o Zé do Caixão.
“A mostra faz um panorama do cinema de terror brasileiro dos últimos cinco anos, compreendendo, aí, diretores e diretoras que têm se destacado como representantes do gênero. Nomes que, com muita coragem, vêm quebrando barreiras para que o cinema fantástico, de terror, de horror, se consolide de vez no cenário do audiovisual brasileiro”, conta Breno Lira Gomes, que assina a curadoria junto a Carlos Primati. “O acesso vai ser totalmente gratuito, e o interessado não precisa ser assinante da Darkflix para poder assistir aos filmes – basta se cadastrar. Cada dia, nós vamos liberar um grupo de títulos que vai ficar disponível 24 horas, ou até atingir um número limite de visualizações”, informa.
Breno acrescenta que a mostra, em sua primeira edição, vai render quatro homenagens. “À produtora paraibana Vermelho Profundo, à cineasta e roteirista Gabriela Amaral Almeida, ao diretor Denisson Ramalho, súdito de José Mojica Marins, nosso eterno Zé de Caixão, e a esse mestre, falecido em fevereiro”, adianta.
A programação também inclui lives e debates. “E também um curso sobre a história do cinema de horror no Brasil, ministrado pelo curador Carlos Primati, que vai compreender quatro sábados, a partir do dia 31 de outubro, às 16h. Já nos dias 7 e 21 de novembro, teremos duas palestras. A primeira, com a Gabriela Amaral Almeida, que vai falar sobre como escrever histórias de terror. E a segunda com a pesquisadora e crítica de cinema Beatriz Saldanha, que fala da relação das diretoras com o cinema de terror”, explica ele.
Expansão. Diante do crescimento das produções brasileiras que se arriscam a explorar esse gênero, Breno conta que foi muito difícil, para ele e Carlos Primati, fechar a programação em apenas 44 títulos. “Ajudou muito o fato de o Primati já ser um conhecido pesquisador (do gênero), então, quando tive a ideia (da mostra), já sabia que seria uma boa referência para selecionarmos os filmes”.
Como o recorte inicial era de produções realizadas nos últimos cinco anos, os dois curadores, de antemão, já sabiam que gostariam de ter no mínimo um representante de cada ano. Ao mesmo tempo, filmes de diretores desbravadores não ficariam de fora, caso do já citado Mojica. “Uma figura tão central quanto tão importante do gênero na história do audiovisual brasileiro. Porque, enquanto a gente vê que nos EUA e em outras cinematografias há vários diretores que investem (ou investiram) neste caminho e com ele sobrevivem (sobreviveram) – como (o italiano) Dario Argento, (os norte-americanos) Wes Craven (1939-2015) ou George A. Romero (1940-2017) –, aqui, até certo momento, só havia a figura dele. Hoje já vemos até veteranos se arriscando neste gênero, como o caso Walter Lima Jr, em ‘Através da Sombra’”, pontua.
Em relação à presença feminina, Breno salienta o quanto ela se faz notar, nos dias atuais, em escala ascendente. "Mesmo que se possa dizer que o meio ainda é um pouco machista e excludente, temos visto exemplos muito bem sucedidos, como o da já citada Gabriela ou o de Alice Furtado, cujo filme 'Sem Seu Sangue' foi lançado nos cinemas e apresentado em Cannes, ano passado. Estou citando duas, mas há várias outras se enveredando tanto em curtas quanto longas. Noto que às vezes são mais corajosas que os homens, vão lá e se arriscam mesmo. Na verdade, as mulheres já têm que quebrar tantas barreiras no audiovisual, que no cinema de gênero, especificamente o de terror, onde você pode experimentar muito, ali ela mostra o que é capaz. 'Animal Cordial', da Gabriela, por exemplo, é um filme forte e potente, e, ao mesmo tempo, sensível", avalia.
Para os que não tiverem como assistir a todos os filmes da mostra, Breno recomenda que se assista ao menos um de cada homenageado. “O filme ‘Animal Cordial’, da Gabriela Almeida; ‘A Noite Amarela’, do pessoal da Vermelho Profundo; ‘Morto Não Fala’, longa de estreia de Dennison Ramalho, e o curta ‘O Saci’, de Mojica. São obras de realizadores de faixas etárias distintas, assim como estilos. O Dennison com um filme mais visceral; a Gabriela com seu olhar muito especial sobre temas fortes e contundentes; Mojica atuando e dirigindo um curta e nos apresentando a figura do Saci de forma bem diferente da que estudamos nos colégios e do universo de Monteiro Lobato. E ‘O Cemitério das Almas Perdidas’, do Rodrigo Aragão, hoje um dos nomes mais talentosos do gênero de terror aqui no Brasil, e que vai fechar a mostra. É uma produção de terror das mais aguardadas do ano. Acho que, se as pessoas puderem se programar para assistir ao menos esses, vão ter, ao fim, uma ideia do que está sendo produzido no gênero no país”, conclui.
Citado por Breno como um dos grandes expoentes deste nicho, Rodrigo Aragão lembra que quando lançou seu primeiro filme, "Mangue Negro", em 2008, se viu inserido em um momento que poderia ser chamado de "histórico". "Porque chegram três filmes do gênero no mercado, 'A Capital dos Mortos' (Tiago Belotti), 'Encarnação do Demônio' (José Mojica Marins) e o meu. Em 2018, para termos um parâmetro, foram 37 filmes, ou seja, um crescimento absurdo. Temos tido uma produção rica, diversificada e premiada", compara ele, lamentando, porém, o que aponta como duas tragédias constatadas neste ano, que impactam diretamente no mercado. "A pandemia, claro, e o desmonte da política de financiamento cultural. è um momento muito difícil, e, sendo assim, essa mostra é um acontecimento maravilhoso. Em um momento tão difícil, no qual não podemos lançar os filmes presencialmente, as pessoas vão ter a oportunidade de conhecer essa produção".
Rodrigo enfatiza que um dos aspectos que o público vai poder constatarr na mostra é a diversidade de estilos. "São filmes com estilos muito difernetes, muitos deles, extremamente bem premiados e bem recebidos fora. Como uma boa parte do grande público brasileiro ainda não descobriu o cinema de terror feito aqui, a mostra vem como uma ótima oportunidade de ajudar neste conversa, ainda mais sendo online e gratuita".
No novo filme de Rodrigo, corrompido pelo maligno "Livro de Cipriano", um cruel jesuíta e seus seguidores aterrorizam o Brasil nos tempos coloniais. "Eles acabam recebendo uma maldição e ficando alguns séculos presos no cemitério. É um filme com elementos que não são muito usuais nas produções brasileiras, vampiros, feitiçaria... O longa abriu o Cinefantasy esse ano, e, agora, deve participar de alguns festivais".
Serviço
Mostra MacaBRo – Horror Brasileiro Contemporâneo
Data: De amanhã a 23 de novembro
As exibições serão gratuitas e online na plataforma: darkflix.com.br/macabro
Os filmes ficarão disponíveis 24 horas e com limite de visualizações no caso dos longas, e durante uma semana, para os curtas
Debates e palestras com inscrições via Sympla
Cursos e lives disponíveis no YouTube e Instagram da @blgentretenimento