Mostra

Humberto Mauro exibe o cinema do francês Philippe Vallois

‘Cartografia do Desejo’ programa não só os longas do diretor, mas também alguns de seus curtas-metragens

Por Patrícia Cassese
Publicado em 21 de agosto de 2022 | 20:40
 
 
 
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Com cinco décadas de carreira e aproximadamente 30 potentes trabalhos realizados, o cineasta francês Philippe Vallois ganha pela primeira vez no Brasil uma mostra dedicada à sua trajetória. “Philippe Vallois: Cartografias do desejo”, realização da Fundação Clóvis Salgado e da Embaixada da França no país, apresenta até o próximo dia 25, no Cine Humberto Mauro, um panorama de sua obra, por meio de longas como “Johan” (1976), “Nós Somos um Só Homem” (1979), “Halterofilia: a serpente arco-íris” (1983), “Um perfume chamado Said” (2006) e “O círculo dos pervertidos” (2016), além de curtas. 

Mas não só. O próprio realizador estará presente na capital mineira, inclusive para comemorar seu aniversário de 74 anos, em evento na noite de encerramento da iniciativa – precisamente, a partir das 22h, nos jardins internos do Palácio das Artes. Com tradução simultânea para o português, Vallois ainda irá ministrar, no dia 23, às 19h30, uma masterclass sobre sua trajetória.

O curador Bruno Hilário conta que realizar essa mostra era um desejo antigo do Humberto Mauro. “Primeiro pela importância dele, pelo pioneirismo. Mas nem só isso. É um iconoclasta, pensa a imagem na sua dimensão poética e política, social. Acho que tem muita consciência de como seu trabalho se insere nas políticas contemporâneas nos temas que dizem respeito à comunidade LGBT”, explana.

Hilário também ressalta o quanto Vallois se esforça para tratar esses temas de forma universal. “De modo a alcançar todas as pessoas, em diferentes extratos sociais e gêneros. E um segundo ponto é entender como ele está sempre lidando com a temática do outro, o encontro com o outro. E através desse desejo pelo outro, dá a entender dinâmicas político-sociais específicas”. 

O curador cita o filme “Um perfume chamado Said”. “Com ele, a gente viaja ao Marrocos partindo do desejo do personagem por um nativo. E por fim, gostaria de frisar que a condição de homossexual, no caso dele é importante, mas não esteticamente falando, e sim do ponto de vista dos meios de produção. Um cineasta com 50 anos de carreira que teve que lançar mão de muita inventividade para fazer seu cinema, que não era prioridade nas políticas de fomento francês naquele período. Vallois foi cavando, forjando seu lugar”, destaca. 

Programação

Segunda (22)

13h - Curta no Almoço | 29min |16 anos

Time de Dois (André Santos, Brasil, 2021) | 11’

Acesso (Julia Leite, Brasil, 2020) | 18'

20h - Johan (Johan: Mon été 75, Philippe Vallois, FRA, 1976) | 18 anos | 1h21

Johan - Segredos de Filmagem (Johan - Secrets du tournage, Philippe Vallois, FRA, 2006) | 18 anos | 27min

Terça (23)

17h - Nós Somos um Só Homem (Nous étions un seul homme, Philippe Vallois, FRA, 1979) | 18 anos | 1h31

19h30 - Masterclass com Vallois

A masterclass terá tradução simultânea para o português.

Quarta (24)

16h - Halterofilia: A Serpente Arco-Íris (Haltéroflic, Philippe Vallois, FRA, 1983) | 18 anos | 1h30

19h - Johan (Johan: Mon été 75, Philippe Vallois, FRA, 1976) | 18 anos | 1h21

Johan - Segredos de Filmagem (Johan - Secrets du tournage, Philippe Vallois, FRA, 2006) | 18 anos | 27min

Quinta (25)

16h - O Círculo dos Pervertidos (Les cercles du vicieux, Philippe Vallois, 2016) | 18 anos | 1h50

19h - História Permanente do Cinema | Um perfume chamado Said (Un parfum nommé Saïd, Philippe Vallois, FRA, 2006) | 18 anos | 1h33 | Sessão comentada pelo professor Paulo Maia, da FAE, UFMG.

22h - Aniversário do cineasta nos Jardins Internos do PA

SINOPSES

Johan (Johan: Mon été 75, Philippe Vallois, FRA, 1976) | 18 anos | 1h21

Quando Johan, um jovem ator principal de um filme, é preso pouco antes do início das filmagens, o diretor de cinema chamado Philippe empreende na busca por um ator substituto, perambulando por territórios da cidade de Paris ocupados pela comunidade LGBT+. Este é o fio condutor da narrativa de Johan: Mon été 75 (França, 1976), dirigido por Philippe Vallois, considerado um dos primeiros filmes franceses a abordar com complexidade a efervescência da cultura gay local e a subjetividade desses corpos em meados dos anos 1970.

Nós Somos um Só Homem (Nous étions un seul homme, Philippe Vallois, FRA, 1979) | 18 anos | 1h31

Durante os dias finais da Segunda Guerra Mundial, um simples camponês francês resgata um soldado alemão ferido e cuida dele até que ele se recupere. À medida que a camaradagem cresce, dois jovens que deveriam ser inimigos começam a se unir de maneiras que nem imaginavam ser possíveis.

Halterofilia: A Serpente Arco-Íris (Haltéroflic, Philippe Vallois, FRA, 1983) | 18 anos | 1h30

Um policial investiga a vida de um fisiculturista. Fascinado pelo atleta, o policial será levado em uma jornada de autodescobrimento.

Um perfume chamado Said (Un parfum nommé Saïd, Philippe Vallois, FRA, 2006) | 18 anos | 1h33

Uma história de amor entre um cineasta francês e um jovem marroquino. Qual é a conexão entre Gérard e o destino de um país? O filme tenta construir uma resposta.

O Círculo dos Pervertidos (Les cercles du vicieux, Philippe Vallois, 2016) | 18 anos | 1h50

Maio de 1973: Ao voltar do Festival de Cannes, um jovem caroneiro, perdido ao anoitecer, refugia-se numa fazenda onde um velho, que finge vir do futuro, afirma a sua homossexualidade.

Paris à Noite: República Bastilha (Paris by Night: Republiqué Bastille, Philippe Vallois, EUA, 1976) | 14 anos | 26min. Yves Mourousi e a atriz Evelyne Dress nos mostram o bairro République Bastille à noite em meados dos anos 1970.

Johan - Segredos de Filmagem (Johan - Secrets du tournage, Philippe Vallois, FRA, 2006) | 18 anos | 27min. Graças à sua coleção de material pessoal, Philippe Vallois nos conta a história de Johan, filme inspirado em seu amado, que, em 1975, foi considerado o primeiro filme de autor gay francês.

Sobre Philippe Vallois

Nascido em 27 de agosto de 1948, na cidade de Bordeaux, na França. Em 1967, Philippe realiza o média-metragem poético “Oraison Floraison”, premiado em um cineclube amador de Bordeaux. Em maio de 1968, Vallois muda para Paris com o pretexto de entrar para a escola Louis Lumière (antiga rua de Vaugirard). No verão de 1969, Vallois vai para o Marrocos e realiza estágio com Marlon Brando.

Em seguida, aceito na escola Louis Lumière, produz o argumento para o curta-metragem “Elisa repeats”. Posteriormente, o diretor tem diversas experiências de filmagens, entre elas com Bernard Lefort, Jacques Scandelari e Nestor Almendros.

No início de 1975, Philippe conhece Johan, que o inspira a realizar o segundo trabalho de sua carreira. Mesmo com baixo orçamento, o diretor de fotografia François About concorda em participar da produção de forma gratuita. O longa-metragem é filmado em 16mm e costura diversos métodos do fazer cinematográfico.

No ano de 1976, “Johan” é selecionado para o festival de Cannes, e exibido na seção Perspectivas do Cinema Francês. Mesmo tendo boa repercussão devido ao festival, a obra é censurada e consequentemente obliterada. “Johan” é considerado o primeiro longa-metragem realizado por um diretor assumidamente homossexual na história do cinema francês.

“Nós Somos um Só Homem” (1979), filme com repercussão internacional, possui uma narrativa que se ancora na visibilidade de pequenos gestos de carinho que emergem lentamente entre dois homens em lados opostos da Segunda Guerra Mundial. O filme foi selecionado para o festival de Chicago e também distribuído em salas de cinema de Paris.

Sem ganhar dinheiro com seus trabalhos, Philippe recorre a produção de filmes industriais. Dentre os patrocinadores estão Mobil Oil, Rhône-Poulenc, Renault, Citroën, Coca-Cola e Michelin. Mesmo atuando com publicidade é possível reconhecer o estilo próprio do diretor nos comerciais.

Nos anos 2000, dirige “Um Perfume Chamado Said”. Com uma produção de baixo orçamento, o longa-metragem tem uma narrativa inovadora, onde as linhas entre documentário e ficção se mesclam. Philippe Vallois conta, em primeira pessoa, sobre as experiências de um homem intelectualmente maduro por um jovem pobre de outra cultura.

Em 2008, o filme “Esprit es-tu là?”, dirigido por Vallois, integra a mostra paralela no Festival de Cinema de Veneza, concorrendo ao Queer Lion. A seleção do prestigiado festival reflete a maior visibilidade que o cineasta adquire a partir da virada do século.

Philippe Vallois: Cartografias do desejo
Quando: Até 25 de agosto
Onde: Cine Humberto Mauro (av. Afonso Pena, 1.537, Centro).

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