Lançamento

José Carlos Aragão autografa neste sábado 'Rio Doce Rio'

Com o subtítulo 'Elegia a um Rio Morto', o livro ecoa em versos a tristeza e a indignação do escritor quanto à tragédia de Mariana

Por Patrícia Cassese
Publicado em 02 de outubro de 2021 | 09:13
 
 
 
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José Carlos Aragão se recorda bem. No dia 5 de novembro de 2015, ele estava dirigindo pela avenida Santa Rosa - mais precisamente, no cruzamento da Antônio Carlos, a caminho do Aeroporto da Pampulha - quando ouviu, pelo rádio, a notícia do desastre ocorrido em Bento Rodrigues: o rompimento da barragem do Fundão. "Mas, ali, eu ainda não tinha noção da dimensão da tragédia. Só nos telejornais da noite fiquei sabendo que o Rio Doce estava no caminho da lama derramada e que o impacto ambiental era de proporções nunca vistas", rememora o escritor, poeta e dramaturgo mineiro.  Além do sentimento de tristeza e dor vivenciados imediatamente após a tragédia, com as imagens do rio de lama devastando casas e provocando mortes, causou-lhe inquietude as consequências que aquele evento teria para o rio Doce - "que parafraseando Fernando Pessoa, é 'o rio da minha aldeia'", cita. 

Pontuando que a maioria das pessoas guarda algum tipo de ligação afetiva com os rios de sua infância, José Carlos conta ter sido inevitável pensar como aquele desastre poderia afetar a vida de pessoas que conhecia, mesmo estando exilado da sua cidade natal - Governador Valadares - já há tantos tantos anos. "Logo vi que ali se desenhava também uma 'crônica da impunidade anunciada', tão comum no Brasil, seja pelo poder do capital econômico, pela omissão dos políticos ou pela morosidade da Justiça", repassa ele, que viu, aos poucos, nascer a necessidade de expressar tristeza e indignação com o que estava acontecendo. Nascia, assim, "Rio Doce Rio - Elegia a um Rio Morto", mostrado agora em livro, inaugurando a coleção De Versos, da Comunicação De Fato Editora.

"Nessas horas, a poesia costuma gritar em mim", explica ele, que, no entanto, não teve pressa em colocar no papel o que lhe vinha à mente. "O poema foi sendo escrito aos poucos, ao longo de meses. Escrevia, às vezes, fragmentos esparsos em agendas e blocos de anotações e, depois, os retrabalhava e reunia em uma sequência que me parecia mais rítmica, agradável ou convergente. Não houve um jorro só: foram vários – e ainda os há".

Perguntado sobre que reflexões gostaria de suscitar nos leitores, José Carlos Aragão prefere situar o poema como uma reflexão íntima. "Fala de uma tristeza minha, de uma revolta minha. Claro, também é uma denúncia, conquanto relata um crime e aponta omissões e impunidade de seus autores. Mas, talvez, seja apenas um poema triste e lamentoso, como são todas as elegias - e o poeta não tem governabilidade sobre o que escreve ou sobre  como as pessoas reagirão a suas palavras".

Palavras, aliás, fortes, como nos versos em que faz referência aos habitantes da região do entorno à barragem. "cada um que ainda vive/com casa, comida e pensão/ainda vê no Fundão vazante/insepulto/um parente, um móvel/um cão". Ou quando se refere ao avança da lama contaminada no curso do rio: "Krenak pressente a morte/o horror que passa ao largo/e faz cascudo e mandi/procurarem em terra firme/outros ares, outra sorte/sina - talvez - mais feliz". "Rio Doce Rio" tem prefácio do escritor Leo Cunha e posfácio do escritor e dramaturgo Wilson Coêlho.
 

Em tempo: Dedicada à poesia, a coleção De Versos terá seu segundo lançamento em novembro. 
 

Serviço
"Rio Doce Rio" (Comunicação de Fato, 48 páginas, R$ 35)
Lançamento neste sábado, de 15 às 19h, no Agosto Butiquim (rua Esmeralda, 298, Prado)

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