Válvula de escape

Jovens de vários países relatam como a arte é um respiro em tempos de pandemia

Mais do que ocupar o tempo, festivais de cinema online, visitas virtuais por museus, além de música e projetos de literatura servem como alento ao cérebro

Por *Carolina Cassese - Especial para O Tempo
Publicado em 02 de junho de 2020 | 15:35
 
 
 
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A comparação a uma "válvula de escape" cai como uma luva. Em tempos de isolamento social decorrente da pandemia do novo coronavírus, a arte vem, sim, atuando como lenitivo para quem está em casa se precavendo, em consonância com as diretrizes lançadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
 
Mais do que ocupar o tempo, manifestações como o cinema, a música ou as artes cênicas, veiculados, por ora, na web, se incumbem de dar um alento ao cérebro que, sem esse recurso, poderia estar povoado exclusivamente pelos sentimentos negativos que uma situação atípica como a que estamos vivendo naturalmente propiciaria.
 
E tem sido assim mundo afora. A reportagem conversou com pessoas que se encontram em diversos países para entender como a arte e a cultura entram em cena neste momento como uma lufada de ar fresco.
 
Aqui no Brasil, Nanda Rossi, formada em Cinema e Audiovisual pela PUC Minas, aproveita plataformas como a do Festival Varilux, que disponibilizou 50 filmes gratuitos online até 25 de agosto. Para ela, a arte serve como um lembrete de que nem todos os sentimentos precisam ser racionalizados.
 
“Também pode indicar caminhos, possibilidades que vão muito além do que somos e temos no momento presente”, reflete. A estudante garante que essas possibilidades não dizem respeito apenas à esfera individual, mas também às transformações coletivas. 
 
Mineira, Alessandra Nardini atualmente vive em Portugal, onde cursa um doutorado em Estudos Culturais. Ela se sente ainda mais atarefada na quarentena, e acredita que é indispensável buscar momentos de lazer.
 
Nos últimos dias, realizou tours virtuais por museus, como o francês Louvre e o italiano Museu Capitolino. “Estou descobrindo e aprendendo muitas coisas. Ao mesmo tempo, essa situação toda propicia um olhar mais introspectivo. Passei a assistir filmes e séries que retratam o cotidiano, histórias que se relacionam com a minha vida”, diz. Alessandra aposta ainda em playlists específicas para meditações e práticas de mindfulness, disponíveis em serviços de streaming. 
 
Já Guadalupe Boullosa, advogada espanhola que também vive em Portugal, resolveu juntar várias mulheres para a idealização de um projeto chamado Confinyarte, que tem o intuito de compartilhar conteúdos artísticos em redes sociais durante o momento tenso que o mundo atravessa. Ela cita Fernando Pessoa, que em 1996 escreveu: “A literatura, como toda a arte, é uma confissão de que a vida não basta”. Em sua opinião, recorremos à cultura como uma forma de lidar com a dor e o sofrimento: “É uma maneira de elaborar melhor os sentimentos e ainda de enxergar saídas em momentos difíceis”.
 
Também espanhola e participante do projeto 
Confinyarte, Carmen Fernández acredita que uma parcela considerável da sociedade passará a valorizar mais a arte depois da quarentena: “É uma das principais ferramentas que podemos usar para passar esse tempo”.
 
Formada em Terapia Ocupacional, ela acrescenta que um contato maior com a música e com a literatura pode auxiliar consideravelmente na manutenção da saúde mental de muita gente. “Normalmente, vivemos na correria e não dedicamos tempo suficiente para essas atividades mais artísticas, subjetivas. As pessoas estão muito centradas nas próprias rotinas e  deixam de lado afazeres que exigem uma pausa, proporcionam reflexão”, pontua.
 
A mexicana Daniela Plaza, que trabalha em uma galeria de arte em Guadalajara, repara que quem já valorizava a cultura anteriormente consegue preencher melhor a nova rotina. Ela se dedica especialmente à pintura e a literatura, além de escutar músicas enquanto realiza tarefas domésticas.
 
Daniela ressalta que o lazer muitas vezes é visto como dispensável por nem sempre proporcionar um ganho concreto ou imediato. “Na quarentena, ficou mais claro que precisamos de atividades culturais para manter o equilíbrio mental. A arte serve ainda como uma companhia para muitas pessoas que estão mais sozinhas durante esse período. Verdadeiramente ajuda em tudo, é é um combustível potente”, garante.
 
 *Sob Supervisão da editora Marília Mendonça

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