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Júlia Medeiros encena 'Casamento' no #Quarentemas

A Inês (Peixoto, diretora) disse que eu deveria criar a partir da minha experiência pessoal, incluindo um momento expressionista, vestida sempre de camisola (ou pijama). Pensei: 'Que gatilho, hein?', diverte-se ela

Por Patrícia Cassese
Publicado em 26 de novembro de 2020 | 13:46
 
 
 
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Dando prosseguimento à websérie #Quarentemas, a atriz Júlia Medeiros assume o protagonismo do episódio que vai ao ar nesta quinta (26), às 20h, pelo perfil do Instagram @teatroemmovimento e pelo canal no youtube.com/teatroemmovimento. Casada com o também ator Pablo Bertola, com quem se relaciona há 17 anos e tem dois filhos, Júlia tem seu episódio norteado justamente pelo tema “Casamento".  

Ela conta que encarou o convite como um desafio - e relata que a experiência acabou sendo um grande aprendizado. "Pela condição de isolamento, pelo fato de a gente não ter podido se encontrar, com esta condição de fazer arte atípica para nós, que estamos acostumados com a troca, o convívio, esses componentes tão importantes do fazer artístico", discorre ela, que filmou da sua casa (moro em Barbacena). "Aliás, esse é um ponto muito legal desse projeto, porque a Inês (Peixoto, diretora) quis muito que a diversidade fosse contemplada, seja de gênero, etária, geográfica... E isso foi muito lindo".

Uma curiosidade é que Júlia quis gravar seu episódio. completamente sozinha. "Foi um desafio que eu me propus. No início, vieram várias questões sobre como falar sozinha sobre esse tema em um momento em que, entre casais, há um excesso de presença. Como falar sobre esse tema sem ter esse companheiro em cena. E, na verdade eu não quis nem que ele (Pablo) gravasse, então, acabou sendo um desafio ainda maior". 
Júlia reconhece que, para construir o roteiro, optou por um processo um pouco mais lento, cuidadoso. "A ideia era que a gente investigasse e criasse a partir do que a gente estava vivendo, da nossa própria experiência na quarentena. Mas eu acho que esse é um tema bem complexo. Primeiro, porque, particularmente, eu passei por varios momentos, desde o início da pandemia, com todas as questões que ela impôs, mas também no casamento. De uma semana para outra, às vezes de um dia para o outro, a coisa mudava muito, então, eu fui também tateando essas temperaturas desse tema ao longo do processo. E tinha já pensando e decidido desde o príncipio que não queria ir para um lugar de fazer humor, com os clichês e com situações engraçadas que surgem, e nem de colocar o amor num lugar muito heróico, como algo que atravessa todas pandemias. Porque, honestamente, para mim, soaria ingênuo, perto do caldeirão que a gente está vivendo". 

Um outro aspecto que ela colocou na mesa foi ter uma responsabilidade -  "talvez seja essa a palavra" - com todos os relacionamentos, de uma maneira geral. "Embora a minha tarefa fosse elaborar o episódio a partir apenas do meu, resolvi pesquisar um pouco. E quando eu comecei a ler como estavam os casamentos na pandemia, me deparei com dados que os divórcios tinham aumentando muito - na época (da pesquisa dela), 40%. Pensei muito também nisso, em ser cuidadosa, responsável com todos esses casados e casadas espalhados - ou não espalhados -, confinados por aí. E num determinado momento, comecei a achar até um pouco injusto que casamentos às vezes longos fossem expostos a uma prova tão radical, assim. Por outro lado, em outros casamentos, e dentro do meu próprio, houve momentos também de profunda parceria e cumplicidade. E amor, colocado num lugar muito bonito. Então, acho que tudo se acentuou, né?".

A atriz entende que o bem o mal acabaram ganhando uma intensidade grande nesta quarentena. "No fim das contas, busquei ser honesta com o que estava sentindo, honesta com a complexidade do tema. Assumi que ele tem muitas temperaturas mesmo, mesmo em situações comuns. Mas num momento de confinamento, em que existe um excesso de convívio, um excesso de encontro, quando a gente não tem um momento sozinha - eu tmabém tenho dois filhos - abre-se essa outra perspectiva, que é: onde eu estou dentro desse conjunto? Ou seja, o indivíduo em relação ao coletivo, e vice-versa. Foi outro lugar que apareceu também. Vale dizer que convívio e o encontro não são necessariamente a mesma coisa. Então, como existir encontro em meio a tanto convívio? Sedução em meio à rotina? Presença, ausência, todas essas questões que acho que quem está vivnedo uma vida a dois talvez se identifique", aventa.

Sobre o fato de contar com a direção de Inês Peixoto, ela é só elogios. "Tive a sorte de poder compartilhar todas essas inquietações com a Inês, que foi super paciente, querida, atenciosa. A gente trocava bastante ideia, ao mesmo tempo em que ela me estimulava muito a improvisar, porque essa também era a ideia da série. Embora eu tivesse uma elaboração interna maior, as cenas foram feitas também no improviso. Eu sabia o tom que existiria, mas ligava a câmera e ia experimentar também. E acho que a gente conseguiu um equilíbrio bacana entre essas duas coisas". 

Ao fim, ela conta que certamente essa iniciativa vai ficar na memória. "Foi muito legal encarar esse desafio. Mesmo sozinha, não me senti desamparada, e, ao mesmo tempo, foi leve, o que acho bacana. Houve uma confiança grande da Inês com os nossos processos, cada um no seu canto. Uma confiança de que nasceria algo interessante, e isso me deixou segura para criar e experimentar. Foi muito lindo da parte dela, pois estamos lidando com muitos sentimentos neste momento, e outra carga de tensão seria bem complicado. Mas ela, não, sempre dizia: 'Se joga, arrasa", diverte-se Júlia.

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