“Somos um povo profundamente preconceituoso. A população negra é a mais exposta à violência, inclusive da própria polícia, e ao crime organizado”. Com essa frase, o jornalista e escritor Laurentino Gomes põe o dedo na ferida e toca em assunto traumático para a história brasileira: o período escravista, que durou quase 350 anos, entre 1555 e 1888. 

Laurentino se aprofundou em uma longa e complexa pesquisa para dar vida a “Escravidão – do Primeiro Leilão de Cativos em Portugal Até a Morte de Zumbi dos Palmares”, que ele lança, hoje, no projeto Sempre um Papo. Esse é o primeiro volume de uma série de três livros-reportagem.

O escritor, seis vezes ganhador do Prêmio Jabuti, estabeleceu o intervalo histórico entre o início da escravidão e o assassinato do líder quilombola Zumbi dos Palmares, em 1695, como o primeiro período a ser revisto em quase 450 páginas. Tarefa complicada, sobretudo quando a questão envolve narrativas que, ao longo dos anos, ganharam, equivocadamente, contornos reais. 

Desconstruir falsos relatos foi algo que o autor se viu frequentemente obrigado a fazer. “No passado, criou-se um mito no qual o Brasil teve uma escravidão mais benévola, branda, patriarcal, boazinha, e que o resultado seria uma grande democracia racial”, afirma. 

Para se ter uma ideia, o Brasil foi o maior território escravista do Ocidente. Sozinho, nosso país recebeu quase cinco milhões de africanos cativos, número que representa 40% das 12,5 milhões de pessoas que chegaram à América em 35 mil navios negreiros. “A escravidão é o principal assunto da história do Brasil”, aponta o autor. 

Segundo Laurentino, há uma importante produção literária e acadêmica “com enfoques diferenciados e, muitas vezes, conflitantes” sobre a escravidão no Brasil, e historiadores deram contribuições fundamentais ao tema, com o qual, ele diz, todos os brasileiros deveriam se preocupar. “Apesar disso, são poucas as obras no mercado editorial de livros que expliquem o assunto em detalhes e linguagem acessível ao leitor comum”, comenta o escritor. 

Para ele, é essencial que a memória de milhões de africanos que ajudaram a forjar o Brasil e sua cultura não seja ignorada pelos livros didáticos: “Esse é o momento adequado para estudar a história da escravidão”. 

AGENDA

O QUÊ. Sempre Um Papo recebe Laurentino Gomes
QUANDO. Hoje, às 19h30
ONDE. Teatro Sesiminas (rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia)
QUANDO. Entrada gratuita