Tudo que envolve a diva Beyoncé ganha outros significados e casua alvoroço E na sexta (31), com o lançamento de seu novo trabalho, o álbum "Black is King" não foi diferente. Os elogios foram maioria, mas teve quem criticasse a estrela pop.
 
Esse foi o caso da historiadora e antropóloga brasileira Lilia Mortiz Schwarcz. Em uma análise publicada no jornal Folha de S. Paulo neste domingo (2), a pesquisadora criticou Beyoncé por “glamourizar negritude. No texto de Lilia, que é  professora da USP e da Universidade Princeton, ela afirma que o projeto da artista “chegou em boa hora”, já que os Estados Unidos protestam intensamente pelos direitos dos negros, após o brutal assassinato de George Floyd. No entanto, passagens problemáticas do ensaio encontraram reações negativas e justas nas redes.
 
Segundo a antropóloga, “causa estranheza que a cantora recorra a imagens tão estereotipadas e crie uma África caricata e perdida no tempo das savanas”. “Nesse contexto politizado e racializado do ‘Black Lives Matter’, e de movimentos como o ‘Decolonize This Place’, que não aceitam mais o sentido único e Ocidental da história, duvido que jovens se reconheçam no lado didático dessa história de retorno a um mundo encantado e glamorizado, com muito figurino de oncinha e leopardo, brilho e cristal”, escreveu.
 
Ainda na análise, Moritz pontuou que essa “África idílica combina com o ritmo e a genialidade da estrela do pop“. “Visto sob esse ângulo, o trabalho é uma exaltação, bem-vinda e sem pejas, de uma experiência secular que circulou por essa diáspora afro-atlântica e condicionou sua realidade. Mas o álbum decepciona também. Quem sabe seja hora de Beyoncé sair um pouco da sua sala de jantar e deixar a história começar outra vez, e em outro sentido”, declarou ela, que em 2006, chegou a assinar um manifesto contra as cotas raciais.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Como tudo que Beyoncé faz, seu novo álbum visual, Black is a king, chega causando polêmica e trazendo muito barulho. Ele se baseia no projeto The Lion king: the gift, álbum de 2019, lançado conjuntamente com o filme da Disney. Nele, a cantora e compositora retoma a história clássica de Hamlet, personagem icônico de Shakespeare, mas a ambienta em algum lugar perdido do continente africano.O Hamlet de Shakespeare se passa na Dinamarca e conta a história do príncipe que tem como missão vingar a morte de seu pai, o rei, executado pelo próprio irmão, Cláudio. Traição, incesto e loucura são temas fortes da trama e da própria humanidade, de uma forma geral. Já a versão da Disney é ambientada na África e tem como personagem principal uma matilha de leões – os “reis dos animais”. No enredo, o filho Simba, herdeiro do trono, instado pelo irmão invejoso, desobedece o pai e, não propositadamente, acaba sendo o pivô da morte dele e de um golpe de Estado. O tema retoma a culpa edipiana do filho que não conseguindo vingar ou salvar o pai, perde seu prumo na vida e esquece sua história. Já Beyoncé, evoca mais uma vez a tragédia de Hamlet, mas inverte a mão da narrativa. Simba vira um menino negro que procura por suas raízes para conseguir sobreviver no mundo racista norte-americano de 2020. Só não era necessário esteriotipar dessa maneira uma África isolada e perdida no mundo com muitos leopardos e oncinhas. Melhor Beyoncé sair da sua sala de estar e tomar mais ar de realidade. (Matéria completa na Ilustrada, Folha de. S Paulo)

Uma publicação compartilhada por Lilia Moritz Schwarcz (@liliaschwarcz) em

(Foto: Reprodução/Instagram)
 
E é claro que após essa analise, teve muita gente que atacou Lilia Moritz Schwarcz, inclusive, vários famosos. Iza foi uma delas e postou uma crítica a historiadora em Instagram. A cantora repreendeu a chamada do artigo, que dizia: “Diva pop precisa entender que a luta antirracista não se faz só com pompa, artifício hollywoodiano, brilho e cristal”.
 
“Quem precisa entender sou eu. Eu preciso entender que privilégio é esse que te faz pensar que você tem alguma autoridade para ensinar uma mulher negra como ela deve ou não falar sobre o seu povo. Se eu fosse você (valeu Deus), estaria com vergonha agora. Melhore!”, disparou.
 
Já o ator e cantor Ícaro Silva, foi mais incisivo em seu comentário. “Você é uma grande, grande vergonha. Não somente para o Brasil e para o povo preto, mas para todos os povos aqui presentes. Não vejo por onde defender seu declarado racismo, sua arrogância branca elitista em se dar o direito não somente de reduzir uma obra prima ao nicho ‘antirracista’, mas em acreditar que tem conhecimento antropológico sobre África”, reiterou.
 
Nesta segunda, com toda a repercussão negativa de sua resenha, Lilia se defendeu em seu Twitter.