Em 1965, o professor de linguística Luiz Carlos de Assis Rocha cursava o último ano da graduação em letras na UFMG quando começou a ler, pela primeira de muitas vezes, “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa. Até aquele momento, Luiz Carlos havia lido um total de zero páginas da obra do escritor mineiro. “Confesso que nesse primeiro contato com o livro eu entendi quase nada”, brinca. Ao voltar vez ou outra às páginas do clássico da literatura brasileira, ele foi irremediavelmente fisgado: “Comecei a notar que estava entrando em um mundo fantástico, maravilhoso, metafísico”.

Nas décadas seguintes, Luiz Carlos lecionou cursos e disciplinas sobre Guimarães Rosa, tendo a linguagem tão inovadora quanto complexa de “Grande Sertão: Veredas”, lançado em 1956, como um dos principais motes. Já nos anos 80, com a bagagem do estudo da língua portuguesa, o professor mineiro decidiu fazer sua tese de doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sobre a linguagem do universo rosiano. A pesquisa minuciosa e rigorosa virou livro. 

Nesta segunda-feira (22), Luiz Carlos lança “Para ler Grande Sertão: Veredas”, projeto que nasce há cerca de 15 anos e agora ganha forma em uma publicação que tenta ajudar os leitores na difícil missão de adentrar as minúcias, particularidades e neologismos tão próprios da obra-prima de Guimarães Rosa. Lá em 1965, Luiz Carlos não entendeu quase nada de “Grande Sertão”: ele foi um daqueles tantos que se viram confusos com o texto já nas primeiras páginas.

“Faço questão de explicar frases, arcaísmos, figuras de linguagem existentes no livro. O Guimarães Rosa pega uma frase, inverte a oração inteira, criando modelos que não são comuns na língua portuguesa”, afirma o professor, que, ao lado da mulher, Maria Esther, fundou, há cinco anos, a Sociedade dos Amigos de Guimarães Rosa (Sagro), grupo que, até o início da pandemia, se reunia uma vez por semana para falar sobre “Grande Sertão: Veredas” e outros livros desse que é um dos principais nomes da literatura brasileira.

Embora trate do aspecto inovador das palavras usadas pelo escritor, “Para Ler Grande Sertão: Veredas” não se propõe a ser um dicionário. Vai além: frases, prefixos, figuras de linguagens de um estilo radicalmente novo são alvo da investigação do acadêmico. “Ele tem mesmo uma linguagem diferente, especial. Meu livro facilita a leitura do ‘Grande Sertão’, que já é muito difícil desde a primeira página. Ele agora pode ser lido com o meu livro ao lado”, diz o autor. “Explico palavra por palavra e o sentido delas, frase por frase”, completa.

A obra de Luiz Carlos, que também passa pela filosofia e as trilhas do livro de Guimarães Rosa, tem um objetivo: ser um atalho à literatura do romancista de Cordisburgo, que, segundo o professor, ainda é pouco lido, embora seja reverenciado e extremamente louvado.

O acadêmico carrega uma percepção: Muitas pessoas, e aí estamos falando inclusive de intelectuais, começam a ler e não terminam. Outras sequer começam. “Pensei: tenho que arrumar um jeito de ‘Grande Sertão’ ser um livro lido pelos brasileiros. Não pode acontecer como ‘Os Sertões’, que também é um livro muito complexo”, pondera o autor.

Lançamento

“Para ler Grande Sertão: Veredas” será lançado nesta segunda-feira (22), às 19h, em uma live no Instagram da Páginas Editora. O livro será vendido a R$ 44,90 e o box que inclui a última edição de “Grande Sertão: Veredas”, publicada pela Companhia das Letras. O kit (R$ 139) é edição limitada. A arte de capa, tanto do livro quanto do box, é do pintor e ilustrador Nelson Cruz.