Muito antes da pandemia, a advogada e escritora Flávia Vilhena já se nutria de informações cientificamente embasadas para dar curso à criação do filho, Caetano, hoje com 5 anos – ela tem, ainda, um bebê. “Tinha, por exemplo, conhecimento das diretrizes da OMS (Organização Mundial de Saúde) em relação ao tempo recomendável para uma criança ficar diante de uma tela no curso de um dia – no caso dele, pela idade, estou falando de televisão mesmo, mas o conceito de tela também abarca a de aparelhos como o celular”.
Mas foi no curso do período mais rígido da quarentena que ela se deu conta da dicotomia entre o recomendável e a realidade – principalmente em função de as telas terem se tornado um lenitivo potente no início da suspensão social, quando todos estavam assustados diante do desconhecido.
Decidida a fazer alguma coisa, Flávia recorreu a seu talento na escrita – já participou de duas coletâneas e escreve crônicas em um site –, criou uma história, que, tendo sofrido algumas intervenções do próprio rebento, agora migra para o universo dos livros. Com a flexibilização em curso, “O Menino que foi Morar Dentro da Televisão” ganhou ainda a possibilidade de ter a sua sonhada sessão de autógrafos, que acontece neste sábado, às 12h, na Livraria da Rua, na Savassi.
A história flagra um garoto, Caetano, que nutre o desejo de entrar na televisão. Só que, quando consegue realizar o sonho, se dá conta do vazio que a falta de conexão com pessoas reais provoca – mesmo tendo vivenciado aventuras incríveis por lá. “As telas são de fato viciantes, algumas (no caso de games e redes sociais) atuam até na liberação da dopamina, mas é preciso ter um limite”, diz ela.
Flávia faz um parêntese para frisar que sim, há vários artigos e estudos dispostos a orientar os pais a agir. Mas ela pontua que muitos estão descolados da realidade dos genitores, que, na pandemia, têm que lidar com oito, nove horas de trabalho em home office, com seus filhos em casa – embora, como dito, as atividades estejam sendo agora paulatinamente retomadas.
A versão fundante da história teve como primeiro ouvinte, claro, Caetano, que, no entanto, demonstrou um certo estranhamento com o conteúdo. “Ele se sentiu um pouco castigado, então, fiz algumas mudanças”. Hoje, Caetano está mais do que orgulhoso da publicação que traz a história que ajudou a criar. “A gente começou a usar como uma ferramenta, e virou a nossa ajuda. Hoje, ele está encantado com o livro, pergunta quantos exemplares já foram vendidos, pede alguns para distribuir entre os amigos...”, conta Flávia.
Alguns detalhes tratam de agregar valor à obra, caso das ilustrações, tarefa delegada à gaúcha Luíza Hickmann. “Me identifiquei muito com ela e fiquei feliz com a forma como recebeu a história, inclusive por ter um filho da mesma idade que o Caetano, o que fez com conseguisse perceber a narrativa como eu a tinha imaginado”, coloca. Outro ponto que vale ser destacado é a presença do personagem Aristóteles, que entra em cena como um ponto de equilíbrio entre os dois mundos.
Mas o mais importante, identifica ela, é a proposta de convocar a criança a ter uma participação ativa em seu próprio desenvolvimento. “Só determinar, neste assunto das telas, não funciona. O objetivo do livro é que a criança compreenda o que o excesso pode causar. Para os pais, ao fim da história, há a participação de um oftalmologista e de um pediatra, que fornecem informações técnicas sobre o tema, para conscientizar mesmo o adulto”, conclui.
Serviço
Lançamento do livro infantil: “O Menino que foi Morar Dentro da Televisão”
Hoje, às 12h
Livraria da Rua (rua Antônio de Albuquerque, 913, Savassi)