Aos 46 anos, Madeleine Peyroux não esconde seu desapontamento ao se deparar com alguns aspectos do mundo atual. De pronto, a cantora norte-americana cita o ressurgimento de ideias fascistas em vários países. Também lamentando a divisão da sociedade em vários pontos do planeta, a cantora e compositora não se furta a empunhar as bandeiras que considera necessárias para um movimento de resistência ao chamado “capitalismo selvagem”: entre elas, acesso à educação e à saúde, consciência ambiental e, sobretudo, respeito aos mais necessitados, o que inclui o fim da xenofobia e do racismo.

Não por outro motivo, seu mais recente álbum, “Anthem”, é assumidamente político – o que não quer dizer propositalmente político. Tampouco panfletário. O viés surge espontaneamente. “Todas as faixas certamente tentam dizer algo”, diz ela, ao Magazine, para emendar, na sequência: “Na verdade, sempre tentei, de alguma forma, passar meu ponto de vista político em meus trabalho”. A bordo do novo repertório, Madeleine volta a adentrar o palco do Grande Teatro do Palácio das Artes nesta sexta-feira, a partir das 21h.

A apresentação por aqui insere-se em uma turnê pelo país que segue até este final de semana, com dois shows no Rio, sábado e domingo (ela também passou por Porto Alegre, Curitiba e São Paulo).

“Anthem” é o nono disco de uma carreira que já perpassa mais de duas décadas – e que, como os fãs da cantora sabem, incluiu uma temporada em Paris, onde costumava se apresentar nas ruas. 

E, sim, a faixa-título é do canadense Leonard Cohen (1934-2016). Comumente descrita como “hino”, cita, em sua letra, a inevitabilidade da reincidência de guerras, por exemplo, ao mesmo tempo que atenta para o fato de que em tudo sempre há uma fenda, pela qual a luz acaba conseguindo penetrar. E é essa luz que interessa a Madeleine – pois, lembra a cantora, em outro movimento, é justamente pela mesma fresta que ela volta a se externar. “E, assim, tentar despertar o melhor (no mundo)”, diz. 

Cumpre dizer que Madeleine decidiu incluir a música no disco num momento em que, diante da confirmação da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas, em 2016, se flagrou em um momento de desesperança, junto a Larry Klein, produtor do petardo. Foi ele, aliás, que, ali, naquele momento de desalento, sugeriu que a amiga ouvisse a canção. E veio o insight de gravá-la, não como um mero cover, mas com um novo arranjo. Detalhe: Klein é casado com a cantora brasileira (radicada nos EUA) Luciana Souza, que tem uma participação em “Anthem”.

Uma outra faixa digna de nota é o poema “Liberté”, do francês Paul Éluard (1985-1952), que, na verdade, ela gravou inicialmente para “On the Tips of One’s Toes”, documentário de um amigo que narrava a história de seu filho, que sofria de uma grave distrofia muscular. O poema, por sua vez, foi publicado em 1942, durante a ocupação de Paris pela Alemanha, quando Éluard entrou para a Resistência, e discorre sobre a palavra que o nomina.

À reportagem, Madeleine também discorreu sobre a faixa “Down on Me”. “Retrata a tragédia financeira que estamos vivendo”, diz, referindo-se ao número de desempregados no mundo e à ameaça de uma nova recessão. Por último, ela também abordou a bela “On My Own”, que fala do sentimento de estar sozinha e, “a partir daí, decidir algo por si mesma”.

No clipe, ela emula um Charles Chaplin, com direito a chapéu-coco. Impossível não se emocionar também com “Lullaby”, música que fala sobre a tragédia incessante dos refugiados que tentam atravessam mares. 

Por último, mas não menos importante, Madeleine falou sobre sua relação com Minas Gerais. “Sabia que a primeira cidade em que estive no Brasil foi Belo Horizonte?”, indaga ela, lembrando que também passou por Ouro Preto (no festival Tudo É Jazz, em 2007), cidade que a conquistou de pronto. “Guardadas as devidas proporções, tem uns traços, uma atmosferea, que me lembraram Nova York”, disse, sem entrar em detalhes. 

Onde. Grande Teatro do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro)
Quando. Hoje, às 21h
Quanto: R$ 110 a R$ 360, com vendas na bilheteria ou no site ingressorapido.com.br
Informações. 3236-7400 ou poladian.com.br