Carlos Drummond de Andrade a homenageou com poesia. Martinho da Vila, Erasmo Carlos, Rita Lee, Elton Medeiros, Paulo César Pinheiro, Carlinhos Vergueiro e Taiguara o fizeram em canções. Milton Nascimento se valeu de um delicado poema de Leila Diniz (1945-1972) para criar a música “Um Cafuné na Cabeça, Malandro, Eu Quero Até de Macaco”, título pinçado de um bordão da própria protagonista, e que ajuda a entender um pouco de sua personalidade.
Não bastasse isso, a histórica entrevista para “O Pasquim”, recheada de palavrões censurados e onde Leila pregava, principalmente, o “amor livre” e a “liberdade sexual da mulher”, gerou uma enérgica reação do regime militar em vigência, e a posterior censura da imprensa, quase na sequência dos acontecimentos ganhou, por razões óbvias e à boca pequena, o nome popular de “Decreto Leila Diniz”.
Tudo isto, no entanto, ainda não é suficiente para entender a relevância de Leila Diniz na sociedade brasileira. Nascida há 75 anos, não é por acaso que poucos ainda a reconhecem como atriz de novelas da Rede Globo e da TV Tupi, entre outras.
Justamente porque Leila foi muito mais do que isso. Vedete, professora, estrela do longa-metragem “Todas as Mulheres do Mundo” (uma declaração de amor de seu ex-marido Domingos Oliveira, em sua estreia cinematográfica), a carioca entrou para a história ao adotar uma postura livre e sem panfletagem, muito mais próxima ao universo hippie – acusado pela esquerda nacional de alienado – do que dos movimentos feministas da época.
Para Leila, as únicas bandeiras eram “as do Salgueiro e a do Flamengo”, discurso que tornava nítida e clara essa liberdade muito mais vivida do que proclamada, menos em tese e mais nos atos. Uma liberdade agregadora, da qual o desejo, a libido, o prazer e o amor, eram parte fundamental.
A morte trágica e precoce, aos 27 anos de idade, num acidente de avião quando voltava da Índia para o Brasil, após divulgar um filme na Austrália, representou para o país a perda de um jeito atrevido e irresponsável de se posicionar.
Perdia-se a beleza, a poesia de uma jovem que enfrentava as repressões sociais sem empunhar armas de fogo ou discursos inflamados. A imagem de Leila grávida, na praia, de biquíni e chapéu na cabeça, cristaliza essa possibilidade da mulher feminina, rebelde, alegre, ousada, mãe, “porra-louca” e tudo mais o que ela quisesse ser numa única personagem.
Tudo isso, ainda assim, não é suficiente para explicar Leila Diniz. Para isto, é necessário assisti-la, e compreender que ela foi, sobretudo, e antes de mais nada, uma mulher, com todas as vogais e consoantes, sem asteriscos nem cortes.