Uma freira que se isolou do mundo, uma atriz falida e uma jovem apaixonada por séries de TV podem, à primeira vista, não ter nada a ver uma com a outra. Mas, na verdade, elas são da mesma família, filhas de uma mulher que está à beira da morte. É sobre as diferenças entre essas irmãs que forçosamente se aproximam que fala “A Ponte”. A estreia nacional do espetáculo acontece nesta sexta-feira (23), em Belo Horizonte, onde permanece em cartaz por um mês, com apresentações que vão de sexta a segunda.
A dramaturgia é do canadense Daniel MacIvor, responsável por textos aclamados mundo afora e já montados no Brasil pelo ator Enrique Díaz, casos de “In on It”, “À Primeira Vista” e “Cine_Monstro”. Foi assistindo a essas peças que a atriz Maria Flor, 35, despertou para o desejo de atuar em uma obra de MacIvor. Para tanto, começou a pesquisar vários títulos do autor. Até se deparar com “A Ponte”.
“Achei que era um texto possível de se adaptar e que tem tudo a ver com o momento do Brasil. Precisamos falar sobre as diferenças, entender que as pessoas são múltiplas”, justifica Maria Flor. Apesar disso, ela considera que a abrangência da peça vai além. “As relações humanas são universais, e no ambiente familiar esse tipo de conflito costuma ser mais exacerbado”.
No espetáculo, Maria Flor dá vida a Louise, a irmã mais nova, que só tem olhos para o que acontece na televisão. Bel Kowarick, que também participou da produção, interpreta a religiosa irmã mais velha. Já Débora Lamm é a irmã do meio, uma atriz que não conseguiu alcançar a fama e abandonou a cidade natal. No contexto do iminente falecimento da matriarca, elas se reencontram, e daí surgem as inevitáveis farpas.
“É sobre relações que não escolhemos ter. A família é o lugar onde acontecem os primeiros afetos, mas também os primeiros enfrentamentos e as trocas entre diferenças. A disponibilidade para o entendimento, nesses tempos de polarização política, é algo que tem nos faltado”, afirma Débora, 40. Associada à comédia, ela lembra que sua experiência mais recente no teatro foi como Medeia na tragédia grega “Mata Teu Pai”.
“Acho um luxo ser reconhecida como comediante, mas passo pelos outros gêneros, até como exercício. O que aproxima a comédia da tragédia é que as duas existem na nossa vida, durante o mesmo dia você passa por elas, a vida não é chapada, ela é temperada”, diz. Para Maria Flor, não é possível definir o gênero da atual empreitada. “Não sei se é um drama porque, apesar de a peça falar sobre morte, isso não é o principal. Ela tem muito humor e termina de forma otimista. É como na vida, tem drama, comédia, suspense, romance”, avalia.
O fato de ser protagonizada por três personagens femininas foi outro ponto que aguçou em Maria Flor a vontade de levar o texto para o palco. “Os homens da narrativa são apenas citados e não têm importância nenhuma na vida daquelas mulheres. A grande referência dessa família é a mãe e depois a irmã mais velha. Cada vez mais temos casas chefiadas por mulheres”, observa a atriz.
Diretor da montagem, Alexandre Guimarães escreveu com Maria Flor e Emanuel Aragão o roteiro do longa “Filme Ensaio”, mas nunca tinha trabalhado com elas como atrizes. “São pessoas com trajetórias profissionais diferentes, o que só enriquece a peça”, declara.
Serviço
“A Ponte”, peça com Maria Flor, Débora Lamm e Bel Kowarick, de 23/11 a 23/12, às 20h, no Centro Cultural Banco do Brasil (Circuito Liberdade, 450). De R$ 15 (meia) a R$ 30 (inteira).