A tradição do choro, da seresta e da música regional brasileira renasce quando encontra jovens que se empenham em mantê-la viva e dialogar com as gerações mais antigas de músicos e compositores. O mineiro Artur Padua, 25, um dos nomes mais virtuosos da nova safra, lança nesta quinta-feira (4) seu primeiro disco, “Campo Aberto”, em que transita por canções de diferentes épocas e diversas autorias, no Centro Cultural do Minas Tênis Clube. “É muita responsabilidade manter a coisa viva, dar uma contribuição para continuar, mas é muito bom e gratificante. Tem essa de carregar o bastão, mas não é assumir as rédeas, ninguém é dono de nada. Nossa riqueza vem do encontro geracional”, pontua Padua, que já tocou com nomes importantes do choro, como Cristovão Bastos, Hamilton de Holanda, Roberto Silva, Zé da Velha, Silvério Pontes e Monarco.
Desde muito cedo, por volta dos sete anos, Padua já mostrava sua vocação para a música, pois seus presentes de aniversário preferidos eram instrumentos musicais. “Eu vivia batucando pelos cantos”, relembra ele. Precoce, Padua começou a tocar violão aos 12 anos e, a partir de então, passou a considerar que a música seria um caminho profissional a ser trilhado. “Mesmo com os questionamentos das outras pessoas, eu sempre estive determinado a seguir esse caminho”, garante.
O artista ingressou na Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mas não concluiu o curso. Foi no Rio de Janeiro, na Escola Portátil de Música, que Padua encontrou sua turma e conseguiu ecoar e materializar seus desejos pela tradição da canção brasileira. “Fui estudar com o Maurício (Carrilho), na Escola Portátil, e neste momento eu estava mergulhado na música brasileira; me apaixonei pelo choro, pela seresta”, pontua. Carrilho foi aluno de Meira, violonista do conjunto Regional Canhoto, responsável por criar um estilo de tocar o violão de seis cordas distinto, que chamava a atenção de Padua. “Eu conhecia pouco o Maurício, mas sabia que ele, assim como Baden Powell e Raphael Rabello, vinha dessa tradição do Meira. Fiquei dois anos estudando com ele, e nos tornamos grandes amigos”, relembra.
Canto
Ouvir a potência dos boleros de Orlando Silva, o “cantor das multidões”, foi a chave para que Padua também voltasse sua atenção ao canto. “Fiquei deslumbrado com aquele repertório. Eu comecei a aprender a cantar aquelas músicas e fui descobrindo meu jeito de cantar, minha voz”, revela. Em seu primeiro álbum, “Campo Aberto”, Artur Padua contou com Amélia Ribeiro para orientá-lo, desde a pré-produção do disco até a rotina de gravação nos estúdios. “A Amélia sempre quis me passar o máximo, ajudou a escolher o repertório e ainda gravou uma música no disco”, destaca o artista.
Repertório eclético e coeso
Primeiro álbum da carreira de Artur Padua, “Campo Aberto” foi imaginado e produzido com João Camarero, violonista que está presente desde cedo na trajetória do artista mineiro – Camarero é responsável pelos arranjos e pela direção musical do disco. Com 13 faixas, o álbum traz sambas já renomados, como “Pra Machucar Meu Coração” (Ary Barroso) e “Amei Tanto” (Baden e Vinicius), e composições de Paulinho da Viola, Raphael Rabello, Pixinguinha e Zé da Zilda. O disco tem quatro músicas inéditas de João Camarero com letra de Paulo César Pinheiro: “Campo Aberto”, “Olho Bento”, “Sétimo Drinque” e a valsa “Flor da Madrugada”.
“Eu não conhecia o Paulo César pessoalmente, mas ele recebeu muito bem nossa proposta e também o disco, depois de gravado. Gosto muito destas músicas, acho que ele, o Paulo César, conseguiu construir uma linguagem própria com suas composições”, avalia Artur Padua.
O repertório diverso, de músicas de diferentes épocas, segundo o artista mineiro, tem uma unidade graças aos arranjos criados por Camarero. “Ela passa por lugares diferentes. Apesar de ter música da década de 30 e de 2016, a coisa vai por um mesmo caminho. Não é tão eclético, mas sim um panorama geral da ramificação da música popular, do cancioneiro brasileiro. Os arranjos conseguiram dar uma unidade para o disco”, garante.
Agenda
O quê. Show de lançamento de “Campo Aberto”, de Artur Padua
Quando. Quinta (4), às 20h30
Onde. Centro Cultural do Minas Tênis Clube (rua da Bahia, 2.244, Lourdes)
Quanto. R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)