'O Tempo É Agora'

Anavitória repete fórmula com canções para assoviar

As 11 baladas do novo álbum da dupla tocantinense versam sobre o amor e suas delicadezas com repertório autoral

Por Raphael Vidigal
Publicado em 18 de setembro de 2018 | 03:00
 
 
normal

Há uma diferença brutal entre os primeiros e os últimos discos de Gonzaguinha (1945-1991). Pouco restou do compositor experimental, com melodias imbricadas e discurso reativo na fase de maior sucesso do autor de “Eu Apenas Queria Que Você Soubesse” e “Lindo Lago do Amor” – quando ele afirmou que só queria “ver as pessoas assoviando” suas músicas. Essa distância percorrida por Gonzaguinha ao longo de praticamente duas décadas de carreira quase não se percebe no espaço do primeiro para o segundo disco do duo Anavitória. Lançado num intervalo de dois anos, “O Tempo É Agora” repete o número de 11 faixas do álbum anterior. E traz, principalmente, uma premissa que permanece: são “músicas para assoviar”.

Logo de cara, o sensível arranjo de “Ai, Amor”, responsável por abrir os trabalhos, potencializa a qualidade “chiclete” dos versos da canção, cujo refrão ganha graça ao final, com a singela onomatopeia das cantoras. Ana Caetano continua assinando todas as composições, mas, já na segunda, “Porque Eu Te Amo”, tem a parceria de Tiago Iorc, padrinho e produtor dos dois álbuns.

Com a mesma temática, a faixa resulta menos interessante, ainda que a autora encontre boas soluções na letra, como “eu poderia acordar sem teu olhar de sono/ sem teu lábio que é dono”, nunca pesando a mão, sempre com a singeleza apropriada. Mas, se por um lado a homogeneidade do discurso garante identidade à dupla, é ele também que indica cansaço em canções da nova safra.

“Calendário”, na sequência, acrescenta leve melancolia ao universo trilhado pelas duas garotas de Tocantins. É aqui que o vocal de Vitória se alia com precisão ao da compositora Ana. “Outrória” ainda é uma balada, mas traz elemento pouco usual para a dupla, com melodia dançante que exige velocidade no canto. “A Gente Junto” quase passa despercebida e nada agrega ao lançamento.

A faixa-título tampouco é das mais empolgantes, embora aposte em duas receitas de sucesso dos dias atuais: palavras de autoajuda e ritmo que chama a plateia a cantar junto. Mas é pouco, quase nada, diante de “Preta”, grande achado do álbum. Dolente, a música congrega o frescor da melodia à inocência que se aproxima da esperança na letra.

No entanto, “Canção de Hotel” perde essa naturalidade e recoloca o título em ambiente artificial. A inconstância do repertório é ratificada com “Cecília”, que se sobressai no conjunto da obra. Triste, a canção leva profundidade ao disco, que escapa por breves minutos do idílio juvenil. “Ausência quer me sufocar/ Saudade é privilégio teu/ E eu canto pra aliviar/ O pranto que ameaça”, cantam.

Ainda que aluda ao sofrimento no batismo, “Dói Sem Tanto” não cumpre a expectativa. A canção é mais um exemplo do melodioso campo sonoro que a dupla domina bem, embora corra o risco de escorregar nessa insidiosa máquina do mercado, que têm por hábito crer sempre nas mesmas soluções, afinal a música, como se sabe, vem de dentro e merece o auxílio de alguma subjetividade.

Pois “Se Tudo Acaba” em amor novamente, é porque começou assim. E, nesse ciclo, Ana e Vitória rodeiam juntas o mesmo umbigo. É preciso, antes, certo cuidado para não dar insistentes laços num cadarço repetido. Em tempo: a dupla acaba de ser confirmada como atração da grande final do concurso “Garoto e Garota Super 2018”, que acontece no dia 23 de novembro, no KM de Vantagens Hall.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!