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Animação fatura de carona na Disney

Empresa paulista faz sucesso com genéricos de grandes bilheterias da Pixar, como Carros e Ratatouille


Publicado em 31 de agosto de 2007 | 22:48
 
 
 

SÃO PAULO - Já ouviu falar no desenho sobre carros falantes, entre eles um de corrida, uma Kombi e um carro feminino, que vivem em uma cidade só de automóveis? E sobre a animação que trata de um rato cozinheiro? Essas descrições trazem à mente "Carros" e "Ratatouille", os dois últimos longas da gigante norte-americana Pixar, parte da Disney. Mas não serão poucos - mais de 370 mil pessoas, no mínimo - os que também identificarão aí as tramas de "Os Carrinhos" e "Ratatoing", obras da microprodutora paulista Vídeo Brinquedo.

Os filmes da empresa brasileira, lançados diretamente em DVD e encontrados nas locadoras e lojas (inclusive as virtuais), têm semelhanças evidentes com as animações da Pixar e, guardadas as proporções, têm feito sucesso semelhante. O hit da Vídeo Brinquedo é "Os Carrinhos", lançado em 2006, quando "Carros" ainda estava nos cinemas. O filme de 45 minutos (menos da metade da duração do norte-americano) tornouse tão popular que vendeu 310 mil cópias, segundo a produtora, e já ganhou duas seqüências - a terceira está a caminho.

É vendido até para o exterior, pela Amazon.com, como "The Little Cars". "’Os Carrinhos’ já adquiriu vida própria", explica Marco Botana, gerente de produto da Vídeo Brinquedo. "Recebemos vários e-mails de gente querendo saber quando sai o próximo volume. Eles vendem muito quando são lançados. A intenção é montar uma série, fazer temporadas. Montamos aos poucos, vendemos no varejo e, com o lucro, fazemos mais episódios. É nossa forma de financiar a produção, já que não recebemos nenhum tipo de patrocínio nem usamos leis de incentivo."

A agilidade é uma das vantagens da produtora: ela lança seus DVDs antes dos estúdios oficiais e aproveita a onda criada pelos blockbusters. "Ratatoing", por exemplo, chegou às prateleiras quase ao mesmo tempo em que "Ratatouille" estreou nos cinemas, vários meses antes que seu concorrente chegue às lojas - e, nesse período, já vendeu 60 mil cópias.

A outra vantagem é o preço: como seu investimento em cada filme é cerca de dez vezes menor (com influência direta na qualidade do produto, é claro), o DVD de "Os Carrinhos" ou de "Ratatoing" pode ser comprado por R$ 10, cerca de um quarto do preço das obras da Disney. Por fim, a Vídeo Brinquedo também fatura alto com produtos licenciados - "Os Carrinhos" já renderam ovos de Páscoa, brinquedos e cadernos.

Direitos autorais
A pergunta que se impõe sobre as produções da Vídeo Brinquedo é se elas não seriam plágios e, portanto, ilegais. "Acho que, possivelmente, um juiz decidiria que isso viola os direitos autorais", afirma o advogado Ronaldo Lemos, professor da FGV e especialista em tecnologia. "É uma linha tênue, porque o direito autoral não protege a idéia, mas sua manifestação. Se há uma cópia de personagens e da estrutura, dá para dizer que está havendo violação, sim."

Lemos pondera, no entanto, que, se o roteiro tiver originalidade suficiente - as histórias dos desenhos brasileiros não são idênticas às originais -, o caso não seria considerado infração, já que a Lei de Direitos Autorais diz que "são livres as paráfrases e paródias que não forem verdadeiras reproduções da obra originária nem lhe implicarem descrédito". O estúdio Disney, dono da Pixar, já procurou advogados em busca de um parecer sobre o caso. Se condenada por violação do direito autoral, a Vídeo Brinquedo estaria sujeita a sanções civis e criminais. (Folhapress)

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