Música

Bem Gil e Moreno Veloso se apresentam em BH com show de canções inéditas

Parcerias com os pais Gilberto Gil e Caetano Veloso também estão no repertório

Por Raphael Vidigal
Publicado em 23 de maio de 2019 | 03:00
 
 
 
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Apenas Moreno Veloso, 46, guarda lembrança do momento em que ele e Bem Gil, 34, se viram pela primeira vez. O encontro aconteceu numa maternidade, e a diferença de quase 13 anos entre eles explica a assimetria das recordações. Na época, Bem era somente um recém-nascido. “No dia que ele nasceu, fui visitá-lo com meu pai. Eu já era adolescente e fiquei lá brincando com aquele bebezinho que ainda não tinha nem um dia de vida. Para mim foi incrível”, rememora Moreno.

O filho mais velho de Caetano Veloso conta que acompanhou todo o crescimento do herdeiro de Gilberto Gil e dos outros sete irmãos dele. A “ligação familiar” que ele descreve não é força de expressão. Sandra Gadelha, terceira esposa de Gil, é irmã da mãe de Moreno, Dedé Gadelha, que foi a primeira esposa de Caetano. Isso leva Moreno a ser primo de Preta Gil, Maria Gadelha e Pedro Gil, primogênito do casal, que faleceu em 1990 após um acidente de carro.

“Sempre fomos uma família”, sublinha Moreno. Agora devidamente crescidos e encarando as dores e delícias da idade adulta, os dois sobem juntos ao palco nesta quinta (23), em BH, como parte da turnê que começou no Rio, cidade natal de Bem, e depois passou por Salvador, onde Moreno nasceu. Mas essa não é a primeira vez da dupla. Quando começou a planejar, em 2017, o show em comemoração pelos 40 anos do disco “Refavela”, de Gil, Bem decidiu chamar “todos os amigos que adoravam o álbum”. Moreno era um deles.

 

“Quando anunciei para a família que o nome do meu filho ia ser Sereno, notei uma reação entusiasmada do meu pai, ele estava com um brilho nos olhos.” BEM GIL 

 

Antes, em 2014, os dois tinham produzido juntos “Gilbertos Samba”, disco de Gil em homenagem a João Gilberto. Um ano depois, conduziram as gravações da turnê “Dois Amigos, um Século de Música”, que unia Caetano e Gil. Apesar de todas essas experiências conjuntas, foi ao ser convidado para o festival A.Nota, no Rio, que Bem teve o estalo para o novo show. “A ideia desse festival é dar abertura para canções autorais, incentivando, inclusive, um viés mais experimental”, explica ele.

Ao estrear com “Máquina de Escrever Música”, no ano 2000, Moreno teve em Bem um de seus ouvintes mais assíduos. “Eu tinha 15 anos e ouvi muito esse disco. Tomei tanto gosto por ele que acabei me aproximando do Domenico (Lancellotti) e do (Alexandre) Kassin, que também estavam envolvidos com esse trabalho”, informa Bem. Em termos numéricos, Domenico se tornou o maior parceiro musical de Bem. Espertamente, ele aproveitou a oportunidade para ampliar o leque. 

Com Bruno Di Lullo formou a banda Tono, que acompanhou Jorge Mautner em seu mais recente álbum, “Não Há Abismo em que o Brasil Caiba”. Já Alberto Continentino aparece, ao lado de Bem, na banda-base do disco “Giro”, em que Roberta Sá dá voz a 11 inéditas de Gil. São parcerias de Bem e Moreno com esses e outros amigos que compõem o repertório da apresentação. “Dependo dos meus amigos para tudo, detesto fazer as coisas sozinho. Na verdade, não tenho nem capacidade para isso”, afirma Moreno. 

 

“O Bem ainda era adolescente quando um dia se virou para mim e falou que ia estudar violão e ser músico. Fiquei numa felicidade tremenda com a decisão daquele garoto que eu conhecia desde que ele era bebê.” MORENO VELOSO 

 

Curiosamente, ele e Bem não tinham composto nada em conjunto até o presente espetáculo. Foi a presença do ombro amigo de Moreno que encorajou Bem a se arriscar diante da plateia com canções que ele mantinha em segredo. “O Moreno sempre foi uma referência, e ter um show nosso, só de canções inéditas, pode ser o passo inicial para que eu venha a gravar meu primeiro disco solo”, entrega o compositor. Por enquanto filha única, a tal canção da dupla foi batizada de “Sempre Bela”. 

Bem ofereceu a melodia, Moreno entrou com a letra, e, como um casal, eles a gestaram, “lapidando algumas partes para que tudo se encaixasse, graças à intimidade” que eles têm, diz Moreno. Definida pelo rebento de Caetano como “sinestésica”, a canção traz “cheiros, cores e gostos que se misturam numa relação amorosa de admiração”, sustenta.

Além da novidade, cada um selecionou uma parceria com os respectivos pais, amarrando o roteiro a partir do que eles têm em comum. “Sertão”, lançada pela madrinha Gal Costa, foi a contribuição de Moreno. “Sereno”, feita para o neto de Gil, a parte que coube a Bem na genealogia musical. 

Serviço. Turnê “Bem Gil & Moreno Veloso”, nesta quinta (23), às 21h, no Centro Cultural Minas Tênis Clube (rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Ingressos: R$ 70 (inteira)

Veja Bem Gil e Moreno Veloso juntos no palco:

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