Da periferia de Salvador até o primeiro título mundial de boxe, Acelino Popó Freitas percorreu um caminho com obstáculos comuns a muitos brasileiros. A partir da história familiar do boxeador e de seu irmão, Luís Claudio, os cineastas Walter Salles e Sérgio Machado, de “Central do Brasil”, decidiram contar uma trajetória de amor, rivalidade e superação. Nascido para ser longa-metragem, o roteiro de “Irmãos Freitas” ganhou uma nova dimensão e se tornou uma série, que o canal Space estreia neste domingo (20), às 21h, com exibição também no streaming, pela Amazon Prime Video.
“A ideia foi do Walter Salles, pois a gente falava em fazer um filme sobre o Popó desde a época do ‘Central do Brasil’. Ou seja, falamos disso ao longo de 20 anos!”, lembra Sérgio Machado. “Há nove anos, liguei para o Waltinho, e voltamos a falar disso. Era para ser um longa, passamos quatro anos nessa pegada, mas não conseguíamos chegar num termo porque a história era complexa, com os irmãos. Ficaria longo demais, e desistimos”, conta Machado, que, nessa época, comentou o projeto com o produtor Fábio Gullane, que sugeriu que os cineastas fizessem uma série.
“Foi incrível, porque era o tempo que precisávamos para contar essa história”, diz o cineasta, que já havia feito a série “Alice” com a Gullane Entretenimento em 2008, em coprodução com a HBO. “Naquela época a gente estava engatinhando neste mundo das séries”, comenta Machado, que dividiu a direção de “Alice” com Karim Aïnouz. “Agora, fizemos uma produção autoral, e o que a gente quis fazer, a gente fez. Não há nenhum frame da série que não esteja lá por decisão minha ou do Walter ou do Aly Muritiba (codiretor)”, afirma.
Depois de decidir o formato de “Irmãos Freitas”, os diretores começaram o processo “gigante” de casting para escolher seus dois protagonistas: Popó e Luis Claudio. “Foi muito difícil. A gente queria um ator baiano, mas não rolou. Aí buscamos alguém que lutasse e tivesse carisma. Fomos fazendo milhões de testes. Juro que todos os atores que você imaginar, a gente testou – desde grandes nomes até menos experientes”, diz Machado.
"Papel da vida", diz Daniel Rocha
O nome escolhido para viver Popó foi Daniel Rocha, por uma “pureza no olhar, uma ingenuidade, e o fato de ser lutador”, como explica Machado. “Daniel é fanático por boxe. Ele chegou e disse que esse era o papel da vida dele e ele faria qualquer coisa para viver o Popó”, conta o diretor. E ele fez. Daniel Rocha abriu mão de um contrato fixo com a Globo, treinou boxe três ou mais horas por dia, emagreceu 10 Kg, ensaiou sotaque, aprendeu gírias da época na Bahia...
“Nunca tinha feito biografia, ainda mais de alguém que está aí, na ativa, cuja imagem não é distante do público. Então, foi um desafio gigante e senti muita responsabilidade”, diz Daniel Rocha, que agradece o apoio dos diretores e da equipe enorme por trás do projeto. “Trabalhei com um timaço. Não só a direção, mas a maquiagem, o figurino, tudo é muito impressionante. É uma equipe dos sonhos”, afirma o ator, que não pensou duas vezes antes de deixar a Globo. “Eu nunca tive a oportunidade de fazer um protagonista, de ter um papel relevante, e me sentia preparado para isso depois de tantos papéis em novelas”, diz Rocha. “Queria me desafiar em um outro nível, com a oportunidade de ter um tempo maior de preparação”.
Essa preparação, além do treinamento de boxe “para vencer Olimpíadas”, como diz Sérgio Machado, incluiu encontros com Popó. Os dois, inclusive, treinaram juntos. “Foi massa demais. Ele me deu toques de golpes, me botou para treinar com um cara da academia dele, que conhece o estilo Popó de lutar”, diz.
“Dei toques de comportamento, e, como ele já lutava, pegou tudo fácil”, conta Acelino Popó Freitas, que está muito feliz com o resultado da série. Ele assistiu, emocionado, aos dois primeiros episódios. “A emoção foi parecida com a que senti quando ganhei o primeiro título”, lembra Popó. “Tinha uns 200 convidados, e todos saíram bem, gostaram do que viram”, diz o boxeador, que espera que o público se emocione com sua história. “É um drama com uma mensagem de esperança”, conclui.
Mineiro Rômulo Braga vive irmão do lutador
O mineiro Rômulo Braga, ator presente no cinema mais autoral, interpreta Luis Claudio, irmão boxeador de Popó. Ele recebeu o convite do diretor Sérgio Machado em 2017. “Li os episódios e gosto muito do jeito que o Sérgio escreve roteiro. Fiquei apaixonado. Essa primeira leitura do roteiro marca a alma e é o início da preparação”, afirma Braga, que lembra as histórias que Machado contava dos encontros dele com Luís Claudio, Popó, a família Freitas. “Ele é um exímio contador de histórias e já me fez mergulhar neste universo antes de começar a preparação com a Fátima Toledo”.
O ator está contente por poder se comunicar com uma parcela da população que não acessa o seu trabalho. “O cinema brasileiro encontra uma resistência do público e uma dificuldade de acesso”, mas ‘Irmãos Freitas’ vai se comunicar muito com a população, porque é emocionante e instigante”, diz o ator, em sua primeira superprodução. “Fico feliz, mas não consigo acessar essa palavra, pois toda produção, para mim, é súper”, diz
Veja o trailer da série: