Elza Soares, 89, está inquieta. Pouco mais de um ano após o lançamento de “Deus É Mulher” ela coloca na praça mais uma pedrada. “Planeta Fome” chega ao mercado nesta sexta (13). O álbum mantém elevado o tom político dos últimos trabalhos da intérprete, mas troca o Estado da produção. De São Paulo, Elza migrou para o Rio, e agora conta com o auxílio de Rafael Ramos na concepção da sonoridade e na seleção das canções. O resultado é um frescor maior em relação ao clima sombrio que pautava “A Mulher do Fim do Mundo” (2015) e seu sucessor.

Mas a língua segue afiada, aliás, como nunca, e a garganta, rouca e ainda incrivelmente potente, insiste em emitir os sons que Elza aprendeu a fazer imitando o barulho que a lata fazia sobre sua cabeça quando ela carregava água na favela de Moça Bonita, onde foi criada. “Só canto o que é atual”, informa Elza, que regravou “Comportamento Geral” e “Pequena Memória para um Tempo sem Memória (À Legião dos Esquecidos)”, ambas compostas por Gonzaguinha durante a ditadura militar. “Passei pela ditadura, me lembro daquele momento e vejo que hoje é mais ou menos parecido. O Brasil está passando por uma soneca, mas vai acordar já já”, acredita Elza.

Na faixa que fecha o disco, “Não Recomendado”, a cantora dispara contra a perseguição à comunidade LGBT, e aproveita para opinar sobre os episódios de censura na Bienal do Livro no Rio, com o recolhimento de exemplares a pedido do prefeito Marcelo Crivella, e o cancelamento de produções cinematográficas aprovadas pela Ancine a mando do presidente Jair Bolsonaro. “É um absurdo tão grande que eu não sei nem o que falar. Homofobia é crime, nós já conquistamos essa vitória. Deixem a liberdade do povo em paz”, encerra Elza.

Ouça single do novo álbum de Elza Soares: