“Era uma Vez em... Hollywood”, em cartaz nesta quinta-feira (15) nos cinemas, é uma obra para cinéfilos como o próprio diretor. O nono longa-metragem solo de Quentin Tarantino celebra o audiovisual com referências a filmes, séries, locações e atores. E, antes que a palavra “cinéfilo” assuste os leitores, vale ressaltar que se trata de Tarantino. O que se vê em duas horas e 40 minutos não é nada “cabeça”. O cineasta é pop. Quando se fala em Roman Polanski, por exemplo, Tarantino traz “O Bebê de Rosemary”, o filme mais conhecido do cineasta franco-polonês.
O extenso elenco é encabeçado por Leonardo DiCaprio e Brad Pitt – que fizeram “Django Livre” (2012) e “Bastardos Inglórios” (2009), respectivamente, com o diretor. Al Pacino está no filme, ao lado de atores de TV como Luke Perry (“Barrados no Baile” e “Riverdale”) e Timothy Olyphant (“Justified” e “Santa Clarita Diet”).
Na trama, DiCaprio é Rick Dalton, um ator que fez fama na TV nos anos 50 e 60. Já em 1969, ele está em crise e com a carreira em declínio. Em uma grande atuação, DiCaprio, na pele do personagem, representa o sonho americano vendido àquela época. No apogeu da publicidade, o mundo queria ser como Dalton: topete trabalhado na brilhantina, cigarro na boca e carrão na garagem. Até que o movimento da contracultura chegou e os hippies começaram a difundir outro tipo de comportamento. A figura de Dalton passou a representar o passado.
Com o personagem, Tarantino revive suas memórias de infância e recria cenas das séries “Lancer” e “The FBI” e de filmes como “Fugindo do Inferno”, todos dos anos 60. Os atores emblemáticos desta época – como Steve McQueen e Bruce Lee – estão em cenas imaginadas por Tarantino, que não poderiam ter outra autoria.
Dalton tem dificuldade em aceitar o novo, enquanto Cliff Booth (Brad Pitt), seu dublê, motorista e faz-tudo – além de amigo –, tenta ver qual é a dos “ripongas”, como pejorativamente são chamados pela dupla. Assim, o cineasta coloca seus protagonistas em contato com Charles Manson, que ordenou o assassinato de Sharon Tate. Dalton é vizinho da atriz na Cielo Drive, nas montanhas de Santa Mônica, por onde Booth dirige o carrão do patrão em cenas que mostram a área de West Hollywood e Beverly Hills, sonho de quem quer viver de cinema e glamour.
Esse desejo está claro na figura de Sharon Tate (Margot Robbie). Ela entra no cinema para assistir ao filme “Arma Secreta contra Matt Helm” (1968), em que atua, e se deslumbra com a reação do público e com sua “quase” fama. Alegre, ela é a personificação do glamour de Hollywood.
O bacana do filme é que, por alguns minutos, o espectador esquece que está vendo um filme de Tarantino, até que vem uma música, um diálogo ou uma carnificina que não poderiam ter sido idealizados por outro cineasta. O fetiche por pés; as falas à princípio nonsense que, no fim, fazem todo sentido; os figurinos estilosos; a trilha sonora que interfere, sim, na narrativa; a vingança final. “Era uma Vez em... Hollywood” é Tarantino puro. E dos melhores.