Segurança

Igrejas e museus em Minas não possuem estrutura contra incêndio

Governo estadual planeja medida para sanar problema

Por Etienne Jacintho e Rafael Rocha
Publicado em 18 de abril de 2019 | 03:00
 
 
 
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As labaredas que deixaram a Catedral de Notre-Dame em cinzas na última segunda-feira parecem ter ligado novamente a sirene de alerta nos museus e igrejas de Minas Gerais. Conforme apurou o Magazine, 80 igrejas mineiras tombadas e outros 15 equipamentos culturais – como o Arquivo Público Mineiro e a Biblioteca Pública Estadual – têm problemas no sistema de combate a incêndio e equipamentos de segurança. 

Procurado pela reportagem, o governo estadual confirmou que programa uma série de intervenções em várias regiões do Estado. A medida aguarda captação de parte do recurso junto à iniciativa privada. Apesar da urgência, o governo afirma que ainda não há previsão de prazo nem valores envolvidos.

A intenção é sanar problemas específicos de combate a incêndios e implementar equipamentos de segurança. Alguns museus, por exemplo, não possuem brigadistas, extintores e sinalização adequada. Na parte documental, que exige laudos, a imensa maioria é reprovada.

Um levantamento sobre a real situação dos museus mineiros foi finalizado em fevereiro, mas ainda não divulgado. Corpo de Bombeiros e Secretaria de Cultura e Turismo visitaram cerca de 400 endereços em todo o Estado. O trabalho começou em setembro do ano passado. 

Enquanto o poder público aguarda, a situação das igrejas e museus vai se deteriorando. No mês passado, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Ouro Preto, passou por um susto, quando um incêndio afetou suas instalações. Por sorte, nenhum dano grave ocorreu. Na mesma cidade, outra pérola em situação complicada é o Museu da Inconfidência. “É preciso toda atenção a Ouro Preto nesse momento de grande apreensão após o sinistro na França”, comentou o secretário de Cultura e Patrimônio do município, Zaqueu Astoni.

A cidade de Mariana também teve boas notícias. No último sábado, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) anunciou obras de restauro nas igrejas de Nossa Senhora da Conceição, no distrito de Camargos – considerada uma das mais antigas de Minas – e na de São Francisco de Assis. 

Além do Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, outros museus sob gestão do governo federal estão em situação igualmente preocupante. O Museu do Ouro, em Sabará, aguarda o início de reparos paliativos. Após cerca de seis anos fechado, o Museu Regional de Caeté foi restaurado e deve ser reaberto no dia 18 de maio. Situado no Serro, o Museu Regional Casa dos Ottoni espera a finalização do projeto de restauro do prédio. A entidade aguarda também o resultado do edital do Ministério da Justiça para uso de verba do Fundo de Direitos Difusos (FDD). O Museu do Diamante, em Diamantina, também enviou projeto para esse edital, cujo resultado deve sair na próxima semana. 

Diferentemente do que saiu publicado ontem no jornal “Folha de S.Paulo”, o Museu da Inconfidência não está entre os beneficiados do FDD, pois não enviou projeto

Federal

Segundo museu federal mais visitado do Brasil, o Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, busca verba para segurança e recuperação de seu arquivo e acervo. O espaço, por conta da mudança de gestão, perdeu o prazo de inscrição do edital do Ministério da Justiça para pleitear verba do Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD) para recuperação do patrimônio. O edital foi aberto nas semanas em que Deise Lustosa pediu exoneração da diretoria da instituição e foi substituída interinamente por Margareth Monteiro.

Segundo a interina, o museu enviou, então, outro projeto para o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), pedindo R$ 4 milhões. “É um projeto grande, que envolve segurança e acessibilidade, como instalação de corrimões, hidrantes, mais detectores de fumaça, revisão do telhado e tratamento do acervo, que está uma calamidade”, diz Margareth. Ela informa que a última grande reforma no museu foi em 2006, com patrocínio do setor privado. “Desde então, foram realizadas pequenas reformas de manutenção”, conclui. 

Comparações

O incêndio da Catedral de Notre-Dame criou uma onda de solidariedade na França. A situação é bastante diferente da que ocorreu no Brasil, em setembro de 2018, quando o Museu Nacional foi destruído pelo fogo. Até hoje, a Associação dos Amigos do Museu recebeu um montante de apenas R$ 1,1 milhão. Em Paris, já são R$ 2,6 bilhões arrecadados. 
“O Brasil não se dá conta disso, mas o que perdemos aqui é muito maior do que o que foi perdido na Notre-Dame. Não estou falando do prédio, mas de uma coleção de 20 milhões de itens, um acervo muito mais importante para a humanidade”, disse o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner. 

Museus federais situados em Minas

Museu do Diamante – Diamantina: conserva diamantes brasileiros e obras de arte sobre o tema.

Museu da Inconfidência – Ouro Preto: preserva objetos e documentos sobre a Inconfidência Mineira.

Museu do Ouro – Sabará: exibe objetos ligados à prática da mineração nos séculos XVIII e XIX.

Museu Regional de Caeté: acervo sobre cultura popular.

Museu Regional Casa dos Ottoni – Serro: preserva o passado histórico e cultural do Serro.

Museu Regional de São João del Rei: abriga mobiliário e objetos de arte sacra oitocentista produzidos em Minas Gerais.

 

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