Colaborativo

Literatura sob medida para despertar interesse do leitor 

Sergipana Alana Regina pediu que futuros leitores decidissem o que aconteceria na história

Por Flávia Denise
Publicado em 29 de agosto de 2015 | 03:00
 
 
 
normal

O crescimento do número de leitores no Brasil é uma preocupação nacional. Não faltam programas do governo ou projetos de empresas privadas que tentam convencer o brasileiro a abrir as páginas de um livro e render seus pensamentos às palavras do autor. Porém, são poucas as iniciativas que estão dispostas a ceder o protagonismo da produção de uma obra ao leitor, como fez a escritora sergipana Alana Regina.

Para o seu segundo livro, “Sob Encomenda”, a autora foi às redes sociais e pediu que seus futuros leitores lhe mandassem sugestões de histórias. Quem enviasse os personagens, o lugar onde o caso se passaria e qual seria o conflito principal da obra receberia um conto finalizado. “Minha intenção foi abrir as portas da criação literária e dar voz ao público leitor e aos personagens que ele quer ver registrados na literatura brasileira. Deleguei aos leitores a autoria da obra”, confessa.

Defensora da leitura, a mestranda em estudos literários conta que a proposta surgiu durante uma aula de português na qual tentava convencer seus alunos a se envolver com a leitura. “Eu não queria chegar com algo pronto, que eles teriam que apenas digerir, sem saber se aquilo era do interesse deles ou não”, conta. Na época, a solução foi criar uma biblioteca dentro da sala de aula, na qual ela oferecia títulos de gêneros distintos e deixava que cada um escolhesse o que queria ler, mas a experiência acabou servindo de inspiração para escrever um livro no qual os leitores pudessem contribuir com a história.

O resultado foi surpreendente. “Cada encomenda recebida era uma surpresa, e todas foram um desafio”, diz a escritora, que recebeu pedidos de histórias que não vão ao encontro das narrativas dos livros presentes nas listas de mais vendidos. Três encomendas pediam conflitos em torno de relações homoafetivas e outras queriam personagens inusitados, como “um velho”, “um menino de rua” ou “um cãozinho doente”.

Para Alana, os pedidos refletem a vida e as preocupações do leitor. “Às vezes a pessoa tem necessidade de ler alguma coisa, mas os livros mais canônicos não abordam. As pessoas ficam reféns das mesmas histórias. Os três da relação homoafetiva, por exemplo, foram especiais. O público quer ver essas histórias serem contadas, não quer que elas sejam escondidas, camufladas. E, com as sugestões dos leitores, o livro não é apenas sobre o que a autora quis falar, e, sim, sobre o que os leitores querem”, explica a escritora, que recebeu 25 pedidos, dos quais 19 integram o “Sob Encomenda”.

Publicação independente. Autora de “Maria Rejeitadinha e Outros Poemas”, Alana está publicando “Sob Encomenda” de forma independente. “Escrevo uma literatura que já não é muito canônica. Não é feita para a massa. Além disso, queria entregar as histórias num material de qualidade, com boa impressão, e optei por sair de forma independente”, conta a escritora, que não chegou a buscar a ajuda de uma editora. “Sob Encomenda” pode ser comprado no site http://bit.ly/1PW5u7D.

Com o livro de contos finalizado, ela considera agora contar suas próprias histórias no seu primeiro romance.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!