Lô Borges, 68, tem três músicas prontas para lançar um disco, em 2021, com Márcio Borges. O irmão mais velho foi seu primeiro parceiro, com quem ele compôs, por exemplo, “Tudo que Você Podia Ser”, que abre o LP “Clube da Esquina”, de 1972. Mas essa é uma história para outra hora. A principal novidade que Lô tem a apresentar é o álbum “Dínamo”, que acaba de chegar à praça, com show de estreia no dia 27 de março em BH.
O ritmo de composição do músico anda tão acelerado que o ano de 2019 só não foi preenchido por dois trabalhos inéditos devido a “razões logísticas”, conta. Em três meses, Lô poliu e lapidou dez letras de Nelson Angelo recebidas virtualmente, que resultaram em “Rio da Lua”. O tempo foi o mesmo necessário para dar acabamento a outras dez canções que chegaram a ele por mensagens de texto.
Em outubro, “Dínamo” estava pronto, mas o compositor preferiu guardá-lo para 2020. O novo CD inaugura seu encontro musical com Makely Ka. Tudo começou quando o cantor e poeta piauiense, radicado na capital mineira, foi assistir ao show de “Rio da Lua” em BH. Durante o espetáculo, a inspiração baixou e Makely enviou um texto para Lô. Era “O Caos da Cidade”, que encerra o álbum.
Os versos “o caos da cidade está no chão/ o cais tão distante do centro/ eu me concentro num instante/ e sem saber exatamente onde entro/ o céu, a claridade nos olhos do cão/ que traz sua fome por dentro”, imediatamente comoveram Lô, que se sentiu impelido a criar uma melodia.
“São imagens fortes, que retratam a realidade caótica que vivemos hoje, no Brasil e no mundo. Eu me identifiquei tanto que me prestei a fazer a música mesmo sem ter intimidade com o Makely. Foi uma coisa despretensiosa, ele nem imaginava que eu fosse musicar a letra”, observa Lô. Menos ainda que aquele era o início de uma próspera parceria.
Encontros. A faixa-título ganhou um videoclipe com a participação de Samuel Rosa, divulgado como single em novembro do ano passado. “O sol nasceu de madrugada/ E o céu ganhando tons de azul/ Lembrei da nossa caminhada/ Pelos confins da América do Sul”, canta a dupla em “Dínamo”, uma das “mais animadas do repertório, com uma melodia que se destaca”, sublinha Lô.
“O Makely me falou que essa letra é como se fosse um ‘mochilão’ entre amigos ou um casal pela América do Sul, e achei que tinha a ver o Samuel estar nessa faixa comigo, pela trajetória que temos juntos”, afirma ele. Em 2015, os dois dividiram o palco em um show registrado em DVD. Três anos depois, Lô caiu na estrada com a turnê do “Disco do Tênis”. Ele garante que, desde 2003, voltou a compor com regularidade. De lá pra cá, foram seis discos de inéditas.
“Estou num momento parecido com o do início da minha carreira, em que fazia música todo dia, ‘na hora’, ao vivo, mandando fita cassete para o parceiro. Isso me conduz a uma reflexão que é a seguinte: ‘Se eu posso passar o resto da minha vida compondo, por que não compor?’. Tenho o maior carinho pelas músicas que fiz, mas não conseguiria ficar feliz tocando o ‘Clube da Esquina’ a vida inteira”, admite.
Safra. Lô avalia que a sua mais recente leva de composições traz “uma mensagem que não é nada subliminar”. “Considero que esse é um disco de canções tranquilas, sem afetação”, observa. Em “Lava do Vesúvio”, o intérprete entoa: “Os seus olhos de dilúvio/ Afundaram dois navios/ Seu sorriso eu vi no Louvre/ E aceitei o desafio”. “É a eterna busca do desconhecido que me motiva. Adoro transformar o que não era nada em canção”, filosofa.
“A música tem um poder de transformação que começa a se dar dentro dos autores. O meu dia fica muito melhor quando eu faço uma música. E eu gosto de ter bons dias na minha vida. Como diz o Ronaldo Bastos, quero manter a fé cega e a faca amolada”, completa. Recentemente, Lô participou, ao lado de Bastos e de outros convidados, do programa “Milton e o Clube da Esquina”, exibido no Canal Brasil.
“A produção me perguntou se eu queria cantar o ‘Clube da Esquina II’ com o Bituca. Nem titubeei. Ele é meu irmão”, diz. Em outro projeto revisionista, Lô deu voz a “Durango Kid”, de Toninho Horta e Fernando Brant, no álbum em homenagem ao letrista. “Tive a honra de prestar meu tributo ao grande Fernando Brant”, conclui.