'Viva Caymmi'

Loas em memória do mestre

Danilo, caçula de Dorival, traz a Belo Horizonte espetáculo cênico-musical que marca os dez anos da morte de seu pai

Por Patrícia Cassese
Publicado em 06 de outubro de 2018 | 03:00
 
 
 
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Além de passear pelo rico repertório musical deixado por Dorival Caymmi (1914-2008) está a proposta de mostrar a personalidade do homem por trás de uma lavra criativa de tal calibre. Esse é o objetivo de “Viva Caymmi”, espetáculo dramático-musical que aterrissa na capital mineira para única apresentação, no palco do Centro Cultural Minas Tênis Clube, neste sábado (6), às 20h.

“A ideia foi aproveitar as canções para falar do homem por trás da criação. E, para poder apresentá-lo mais, começamos falando do cenário no qual ele nasceu e das influências que teve enquanto crescia”, revela Danilo Caymmi, filho do genial compositor e um dos mentores da empreitada, ao lado do diretor musical Flávio Mendes e do ator Nilson Raman. A iniciativa, cumpre frisar, insere-se na agenda de ações referentes aos dez anos de morte do autor de pérolas como “É Doce Morrer no Mar” e “Marina”.

“Estamos falando de uma Salvador do início do século passado, imagine só”, diz Danilo, ainda referindo-se ao cenário onde seu pai foi paulatinamente se rendendo à música, de início inebriado pelos acordes do piano que ecoavam com vigor em sua casa.

E, a partir daí, o talento do artista emergiu. O espetáculo também aborda “a simplicidade sofisticada de suas letras e músicas”. “Também seu amor pela Bahia e a grande admiração pelas mulheres – às vezes, admiração até demais”, ri o herdeiro. E foi uma carreira linda, prossegue o rebento, em sua análise: “Uma coisa foi puxando a outra. Uma história que aconteceu aqui ou ali, mas que sempre levava a novas músicas, a novas canções”.

O espetáculo tem sua base estruturada num storytelling, palavra em inglês que, lembra a produção, está relacionada a uma narrativa e significa a capacidade de contar uma história, especialidade de Raman. Nos últimos 20 anos, o ator foi idealizador e mestre de cerimônias dos espetáculos da atriz Bibi Ferreira, 96.

Aliás, a montagem foi desenvolvida pensando em ter Bibi Ferreira no palco, reconhece Danilo Caymmi. “Há muito tempo ela vinha falando que queria fazer um espetáculo em homenagem a meu pai. E estava tudo certo, mas, como todo mundo acompanhou, ela teve alguns problemas de saúde neste ano e optou por não mais se apresentar ao vivo. Mas sugeriu que eu fizesse”, relembra ele.

Danilo, por sua vez, já havia participado da gravação do álbum de Natal de Bibi Ferreira, “Natal em Família”, de 2012. “E de uma apresentação desse concerto de Natal em Petrópolis. Naquele período, já tínhamos trocado ideias sobre o que ela ia fazer. Aí o Raman, com quem já trabalho há muitos anos e que também é o empresário da Bibi, me chamou. E deu supercerto, pois manteve esse formato que faz tanto sucesso com o público e que Bibi fez em ‘Piaf’ (espetáculo sobre a vida de Edith Piaf), ‘Amalia’ (sobre a cantora de fados portuguesa Amalia Rodrigues) e ‘Sinatra’ (sobre o cantor norte-americano). Pelo fato de ser meu pai, foi possível um olhar mais particular – e gosto muito disso”, reconhece o artista, irmão de Nana, 77, e Dori, 75, os outros dois filhos do mestre Dorival (aos 70, Danilo é o caçula).

Ao fim, o time é o mesmo que estava já afinado com Bibi Ferreira. “E estamos todos felizes com o resultado. Eu, o Raman e o Flávio Mendes, que já trabalha comigo há muito tempo, mas também era o maestro da Bibi nos últimos 13 anos”.

No repertório de “Viva Caymmi” estão canções como “Promessa de Pescador/Noite de Temporal”, “A Jangada Voltou Só”, “O Vento”, “A Lenda do Abaeté”, “Saudade de Itapoã”, “Pescaria”, “O Mar”, “O Samba da Minha Terra / Vatapá /Acontece Que Eu Sou Baiano”, “Marina /Nem Eu” e “Maracangalha”, entre outras. Ao todo, serão 21 composições, de uma obra que perpassa 60 anos, com 20 discos lançados.

 

Mais ações para saudar Caymmi

O espetáculo “Viva Caymmi” terá seu devido registro. “Vamos gravar o DVD ao vivo em Salvador, no Teatro Castro Alves”, adianta Danilo. E há outras homenagens que se destacam no horizonte. “Estamos promovendo o livro da Stela Caymmi, minha sobrinha, e em novembro será lançado um documentário, ‘Dê Lembranças a Todos’. Além disso, estamos promovendo os CDs do meu pai. Neste ano completam-se 55 anos do disco ‘Caymmi Visita Tom’, que ficou antológico na discografia dos dois artistas”, recorda.

O livro de Stela é “Dorival Caymmi, o Mar e o Tempo” (Editora 34). “É uma obra muito completa, com muitas histórias. Ela teve tempo de conversar muitas vezes com o meu pai, então as (histórias) mais significativas estão ali. Na minha opinião, é um livro que merece a leitura, pelo detalhamento dos fatos”, diz Danilo.

Agenda

O que. Show “Viva Caymmi”, com Danilo Caymmi

Quando. Sábado (6), às 20h

Onde. Teatro do Centro Cultural Minas Tênis Clube (rua da Bahia, 2.244, Lourdes)

Quanto. R$ 50 (inteira)

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