Entre o livro “O Homem sem Conteúdo” (2012), do filósofo italiano Giorgio Agamben, e um pendrive com músicas dos anos 90 recolhidas no YouTube, Matheus Brant, 34, compreendeu que havia menos distâncias “entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia”, reformulando a célebre frase de William Shakespeare (1564-1616). 

“O livro mostra, de forma impressionante, o quanto era comum na história da arte os cânones apreciarem a dita baixa cultura, e a explicação está na vitalidade dessas obras, algo que, eventualmente, se perde na chamada alta cultura. Vivenciei isso na prática”, garante. Fundador, em 2014, do bloco carnavalesco “Me Beija Que Eu Sou Pagodeiro”, ele reencontrou essa vitalidade ao escutar em seu pendrive a versão original de “Supera”, gravada pelo grupo Alô Som, com a voz do autor Riquinho. 

Na mesma hora, ele sentiu bater “uma memória afetiva” e, durante a pesquisa, se deparou com um registro feito pelo cantor Belo. “Eu não consigo te esquecer/ Eu tenho medo de voltar/ Mas a vontade de te ver, supera/ Eu não aceito te querer/ Não tenho forças pra lutar/ Mas a vontade de te ver, supera”, diz o refrão. “O pagode se expressa de forma muito clara na letra, com poucas metáforas, aborda situações cotidianas. Essa comunicação direta aparece na própria melodia, que muitas vezes é quase falada”, destaca o intérprete. 

Videoclipe

“Supera” foi registrada por Brant em seu novo disco, “Cola Comigo”, cujo videoclipe será lançado nesse domingo (15). “Ao contrário de outras canções de pagode, como ‘Cilada’ e ‘Lua Vai’, percebi que essa canção ficou circunscrita ao universo dos apreciadores do gênero”, compara. “Enxerguei a oportunidade de pegar uma canção meio obscura, nem tão conhecida, e colocar a minha leitura, para as pessoas entenderem com clareza e de forma até didática o que penso esteticamente”, completa.

Filmado no Rio de Janeiro, o videoclipe acompanha a rotina de um casal contemporâneo, que se vê às voltas com postagens nas redes sociais e envios de mensagens pelo celular. “A ideia foi tirar da música qualquer afetação, a partir de uma perspectiva caseira, cotidiana, simples, com elementos do dia a dia, tentando transmitir de maneira sutil e leve o que a letra diz”, explica Brant. 

Ele pondera que “importantes questões de gênero e outros debates em voga” não entraram em cena e afirma que o arranjo seguiu na contramão daquele feito por Belo. “Eu não conseguiria cantar como ele, fomos coerentes com a proposta de algo simples, mas sofisticado, com piano e uma bonita harmonia”, encerra. 

Serviço

Pré-lançamento com exibição de videoclipe e show de Matheus Brant e participação especial de Adriana Araújo, na Querida Jacinta (rua Grão Pará, 185, Santa Efigênia) nesta terça (10), das 21h à meia-noite. Ingressos: R$10 a R$15.