Ficção

Narrativas ancoradas em relatos autobiográficos

Luís Capucho, escritor e compositor, lança o livro “Diário da Piscina e faz pocket show em BH

Por Carlos Andrei Siquara
Publicado em 09 de setembro de 2017 | 03:00
 
 
 
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Foi com a música que o escritor e compositor capixaba Luís Capucho começou a sua carreira artística, atraindo o interesse de nomes como Cássia Eller, Rogério Skylab, Daúde, Pedro Luís e a Parede, além de Wado, Clara Sandroni e Ney Matogrosso, que gravaram algumas de suas composições. Mas, a partir de 1996, enquanto buscava superar as sequelas motoras deixadas pela neurotoxoplasmose, ele passou a expressar-se também por meio da literatura.

Surgiram, assim, os títulos “Cinema Orly” (1999), “Rato” (2007), “Mamãe me Adora” (2012), além do mais recente “Diário da Piscina”, que Capucho lança neste sábado, dia 09/09, após realizar um pocket show no Espaço 171, localizado no bairro Santa Tereza, em BH. Em comum com os trabalhos anteriores, o novo segue o fio da autoficção.

“Todos os meus livros são mais ou menos confessionais e se relacionam com cada um dos momentos que estou vivendo. Portanto, embora eles tenham uma constância, as obras trazem pontos de vista diferentes. Cada título traz uma maneira de olhar para as situações que não se repete. Afinal, eu também vou me transformando e me modificando”, observa Capucho.

Os textos que constituem “Diário da Piscina” foram produzidos entre 2000 e 2001. Naquela época, ele não tinha a intenção de publicá-los. Ao revisitar os escritos em 2015, ele os deu outro tratamento, utilizando os recursos da ficção.

“Eu escrevi esse diário que refletia absolutamente o que eu estava vivendo naqueles anos. Mas quando o preparei para ser publicado, ficcionalizei bastante o que tinha registrado. O fato de este ser o meu quarto livro também ajudou nesse processo. Aos poucos, a gente vai aprendendo uma forma e aprimora os caminhos da escrita”, diz o autor.

O ambiente em que se passa a história é uma referência direta às aulas de natação que ele frequentou para superar os danos provocados pela neurotoxoplasmose. Mas, apesar dessa relação com os acontecimentos passados, Capucho ressalta que “Diário da Piscina” dialoga com o presente.

“Este é um livro que eu apresento como se tivesse sido todo escrito agora. Há uma tristeza no início dele porque a história, afinal, fala sobre recuperação. Porém, ao mesmo tempo que em que abordo isso, o título também traz uma alegria que vem da própria possibilidade de a cada dia você perceber que está melhorando. Então, eu não acho que esse seja um livro que olha para trás. Lendo as descrições da cidade, das pessoas e do modo como o personagem se relaciona com elas na piscina, eu noto que a narrativa trata do presente. Pode soar algo pretensioso, mas eu produzi uma história que é perene”, comenta Capucho.

Outra característica frequente na literatura dele e que também ressoa em “Diário da Piscina” é a abordagem da sexualidade, principalmente do universo gay, algo explorado por ele desde “Cinema Orly”. Mas, diferentemente do seu romance de estreia, o novo trabalho, a seu ver, expressa uma perspectiva mais sutil ao lidar com essa temática.

“Os outros livros tratavam o sexo gay mais pelo viés da clandestinidade e eu acho que ‘Diário da Piscina’ traz isso para o cotidiano, o que dá a impressão de tornar a abordagem da sexualidade algo ainda mais forte, embora, na verdade, seja mais sutil”, compara Capucho.

“A sutileza pode aumentar o lance da sensualidade. Em ‘Cinema Orly’, o sexo gay era tão escancarado que no final a narrativa ia além do ato. Mas quando se é sutil, às vezes você não consegue ultrapassar rapidamente aquele ponto, como se ficasse mais tempo parado nele”, acrescenta o escritor, que, em seguida, ressalta como “Diário da Piscina” não se fecha apenas na experiência do protagonista.

“O livro permeia todo o ambiente da piscina, refletindo um pouco o olhar dos outros frequentadores, o que eu acho que contribui para englobar outras visões. A ficção reflete um espaço que abriga muito mais do que a minha experiência”, pontua ele.

Agenda

o quê. Luís Capucho lança “Diário da Piscina” e faz pocket show

quando. sábado, dia 09/09, às 16h30

onde.Espaço 171 (rua Capitão Bragança, 75, Santa Tereza)

quanto. Ingressos R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Disponíveis no site: www.sympla.com.br

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