Em 2015, um grupo de artistas de Belo Horizonte criou um coletivo para dar voz às mulheres negras. Não só para mostrar seus talentos na música, no teatro e na poesia, mas para ter um lugar de fala e de contar suas próprias histórias.
Tanto que o nome escolhido foi Negras Autoras. “Para não só assumir a autoria de músicas, de poemas, mas da própria vida. A história do povo negro, da nossa ancestralidade, foi apagada ou mal contada, e daí a importância de contar isso sob outro ponto de vista”, analisa a atriz, cantora e percussionista Júlia Tizumba que integra o coletivo ao lado de Elisa de Sena, Manu Ranilla, Nath Rodrigues e Vi Coelho.
Cada uma delas já desenvolvia projetos ressaltando a importância do empoderamento e do protagonismo feminino negro e sentiu a necessidade de se unir para fortalecer a causa. “Ainda mais num país como o nosso, que é machista e racista, mais do que nunca temos que focar essa questão. A mulher negra ocupa um lugar importantíssimo na construção do que é a sociedade brasileira. Ela é a base, o alicerce e, muitas vezes, fica invisibilizada”, frisa.
Ao longo desses cinco anos de existência, o Negras Autoras sempre focou essa temática, e isso se faz mais uma vez presente no primeiro disco autoral do grupo, que será lançado nesta sexta-feira no formato físico na A Autêntica, na Savassi. Haverá também um bate-papo com as integrantes e a audição completa do projeto.
Negra e Eras
O disco reúne 15 canções que fizeram parte da trilha sonora dos dois espetáculos musicais do repertório do grupo, “Negra” (2015) e “Eras” (2017). “Além de músicas nossas, temos algumas parcerias com outras mulheres negras da cidade. Também temos algumas faixas faladas, com poesias. A gente sentia a necessidade desse registro, até porque a nossa cultura é transmitida através da oralidade”, afirma Júlia.
Neste sábado, o disco chega às plataformas digitais, e no dia 23 de abril será realizado o show completo (incluindo os músicos acompanhantes) no Teatro Sesiminas. “Muita gente que assistiu aos nossos espetáculos e nos acompanha há algum tempo ‘cobrava’ esse disco. Vai ser uma grande celebração”, comemora Júlia, que avisa que a ideia é fazer uma turnê com o projeto. “Queremos dar uma circulada com ele e devemos ir até para Portugal onde nos apresentamos no ano passado”, diz.
Mostra
A cantora e atriz – que é filha do multiartista Maurício Tizumba – revela que o coletivo prepara mais novidades para 2020. As integrantes continuam conciliando seus projetos pessoais com o grupo. Em novembro, Mês da Consciência Negra, elas vão realizar a segunda edição da Mostra Negras Autoras e, mais uma vez, em parceria com o Teatro Espanca!.
O objetivo da iniciativa é dar visibilidade e espaço às artistas negras locais de várias linguagens, como artes visuais, literatura, música e dança. “A gente fez a primeira edição em 2018, e foi um sucesso. Selecionamos muita gente bacana, só que daquela vez realizamos de forma independente. Agora conseguimos aprovar através do Edital Descentra, da Prefeitura. Não deixa de ser uma forma também de festejar esses cinco anos", frisa
AGENDA
O que: Pré-lançamento do disco “Negras Autoras”
Onde: A Autêntica (rua Alagoas 1.172, Savassi)
Quando: Nesta sexta-feira, às 21h
Quanto: Entrada franca.
O CD será vendido a R$ 30