No último Natal, enquanto apreciavam as luzes que decoravam a praça da Liberdade, inúmeros visitantes davam de cara com um imóvel que chamava atenção nos arredores da lanchonete Xodó. Era uma nova galeria de arte que acabara de abrir.
“Foi um movimento inacreditável de curiosos. Tivemos que limitar a entrada de 30 pessoas por vez”, relembra o professor Yuri Simon, que coordena o Espaço Cultural Escola de Design – Uemg, inaugurado em dezembro, mas ainda pouco conhecido pelos belo-horizontinos.
Desde sexta-feira, o endereço recebe a mostra “Onde Está Sebastião Nunes?”, que agrega acervo com documentos e livros que contam a história do octogenário autor, ganhador do Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura do ano passado.
Nos últimos meses, outros cantos da capital também foram presenteados com algumas galerias – ou espaços culturais –, cada qual com um objetivo distinto, que vão desde comercializar obras de arte até realizar mostras temporárias, mas todas cumprindo a função de aumentar nosso cardápio expositivo de artes visuais.
Longe do elitismo atávico às adjacências da praça da Liberdade, o Mercado Novo, no centro, é um local mais próximo da degradação urbana, então uma galeria de arte nascer por ali seria improvável, correto? Pois aconteceu.
Entre um gole e outro nas cervejas artesanais vendidas no segundo andar do local, essa improbabilidade tem levado a clientela do conjunto de bares das redondezas a se permitir visitar o Espaço Corda, galeria que os amigos Diogo Salomão, Pablo Gomide e Humberto Hermeto abriram neste mês no novo point de moderninhos. “Queremos possibilitar que, mesmo num momento de lazer, a pessoa consiga conhecer trabalhos interessantes”, justifica Salomão.
A exposição de abertura mostra trabalhos feitos a partir de uma imersão que sete artistas fizeram pelos corredores do Mercado, como os fotógrafos Cacá Lanari e Gustavo Romanelli. Fotografia, inclusive, é um foco preferencial da galeria.
Até no tradicional bairro de Santo Agostinho, um edifício comercial acima de qualquer suspeita abriga em suas salas uma nova galeria de arte, inaugurada em setembro. Obras de grandes artistas, como Volpi, Lorenzato, Carybé e Miguel Rio Branco fazem parte do acervo do Escritório de Arte Fasam, sob os cuidados de Vanessa Monteze. “Belo Horizonte tem bons colecionadores, e nas mostras vemos como isso está crescendo”, comemora a dona do endereço.
Galeristas querem novos artistas
Além de ampliar a oferta de espaços culturais da capital, as novas galerias também cumprem um papel de permitir que novos artistas, em início de caminhada, divulguem seus trabalhos.
Vários dos galeristas entrevistados citam isso como fator fundamental na hora da decisão de abrir uma galeria de arte.
Foi por isso que a artista Gilda Queiroz resolveu ocupar um belo casarão no bairro Santo Antônio, onde, desde dezembro, funciona uma galeria que leva seu nome.
“Fiz exposições em oito países, mas aqui mesmo não tive muita oportunidade, por isso quero dar chance para algumas pessoas. Senti que era uma missão”, informa a galerista, que conta em seu acervo atual com peças de nomes de relevo, como Farnese de Andrade, Fátima Pena e Chanina, entre outros.
O mesmo lema é citado pelos amigos que resolveram investir no Mercado Novo. “Nos preocupamos em fugir do óbvio. Então, vamos atrás de artistas pouco conhecidos e gente que nunca teve a oportunidade de expor numa galeria”, informa Diogo Salomão, do Espaço Corda.