A parceria entre O Grivo, formado pela dupla Nelson Soares e Marcos Moreira, e o artista Roberto Freitas é longa. Juntos, eles vêm trabalhando há mais de uma década e agora trazem a público uma nova exposição, “Sonar”, que pode ser vista a partir desta sexta-feira (10), na Funarte MG. Neste dia de abertura, o trio vai realizar uma performance que acontecerá em dois momentos, às 20h e às 21h. Sábado (11), eles vão repetir essa mesma apresentação às 19h e às 20h.
“A gente vai estar lá com alguns instrumentos que construímos e que têm a ver com a sonoridade das peças que compõem essa exposição. A ideia é que os instrumentos interajam com as obras”, detalha Freitas. Ele, ao lado de Soares e Moreira, participou de uma expedição na Serra do Cipó, que durou uma semana, no início deste ano. A viagem serviu para eles buscarem referências que foram elaboradas, aos poucos, após o retorno.
“Nós fizemos lá vários vídeos e desenhos. O que estamos mostrando agora é um desdobramento dessa experiência. De lá para cá, as ideias foram se modificando e o trabalho mudou muito, ganhou outros caminhos. Mas eu acho que as sensações compartilhadas na Serra acabaram se reverberando nas criações. A decisão de trabalhar com a noção de vento e com os sons graves, entre outras coisas, por exemplo, eu acho que vieram de lá”, diz Freitas.
Soares também observa que o processo criativo foi bastante livre e não necessariamente seguiu uma rota linear. Por esse motivo, as obras, para ele, não estabelecem uma associação direta com o ambiente da Serra do Cipó, mas trazem aspectos possíveis de serem relacionados aos elementos predominantes naquela paisagem. “Acho que outros motivos foram também se associando à ideia de trabalhar com o vento, e por isso a instalação não necessariamente surge como uma resposta às questões levantadas naquele local”, relata ele.
Peças. Quem visitar o galpão cinco da Funarte MG vai deparar-se com obras de grande proporção que resultaram dessas inquietações. Uma delas, composta por foles de seis sanfonas, possui cerca de 10 metros de extensão. “Ela produz um vento que faz tocar três tubos de órgão, gerando uma espécie de variação rítmica. Os tubos têm quase a mesma afinação, mas eles não emitem as mesmas notas, apesar de elas serem bem próximas”, pontua Soares.
Freitas relata que a sonoridade originada por essa peça é sutil e muito próxima do universo orgânico. “É como se estivéssemos ouvindo uma respiração, um barulho do corpo humano”, define ele. A outra obra é construída a partir de nove hélices que, de acordo com Freitas, estão no limite entre o equilíbrio e a precariedade.
“Elas se constituem como peças que parecem estar prestes a se desfazer e também produzem um barulho agudo que lembra o som das cigarras e grilos. É algo bem delicado”, completa.
Por fim, vai estar exposto também um vídeo baseado na paisagem da Serra do Cipó. “Este é um trabalho mais discreto se comparado aos outros que são grandes e chamam mais a atenção. Ele se configura como um ‘work in progress’ e é um vídeo que fala dessa afetividade com um espaço, mas não é algo narrativo. Ele funciona mais como um vídeo de paisagem que mostra alguns eventos sem movimento de câmera”, diz Freitas.
Diálogos. Ao comentar sobre a parceria com O Grivo, Freitas sublinha que a dinâmica é sempre bastante fluida e o resultado traz nuances diferentes daquelas encontradas nas obras concebidas por ele e pela dupla separadamente. “Quando a gente trabalha junto, parece que sempre fizemos isso, porque é tudo muito orgânico e fluido. A gente conversa de maneira tão transparente e verdadeira que no final acabamos produzindo uma coisa que não é nem o que eles fariam nem o que eu faria. Nós chegamos realmente a algo que é fruto desse encontro, e leva o nosso trabalho para outros lugares”, reflete Freitas.
Soares também observa que a relação entre eles revela uma saudável simbiose. “Nos do Grivo e o Roberto temos em comum essa ligação forte com a manufatura, e cada um vai desenvolvendo um jeito próprio de fazer as coisas. Mas quando estamos trabalhando juntos, eu percebo que um acaba contaminando o outro de maneira muito positiva”, avalia ele.
Agenda
o quê. Abertura da exposição “Sonar” com performance de O Grivo e Roberto Freitas
quando. Sexta (10), a partir das 18h. Peformance sáb., às 19h e às 20h. Visitação até o dia 30; de 4ª a dom., das 14h às 22h
onde. Funarte MG (rua Januária, 68, Centro)
quanto. Entrada gratuita