Paisagens interiores em foco

Orlando Castaño é homenageado em exposição na capital mineira

Galeria Labyrinthus, no Santa Tereza, recebe mostra que reúne 42 trabalhos recentes do mineiro

Por Patrícia Cassese
Publicado em 04 de março de 2020 | 03:00
 
 
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Orlando Castaño brinca que, quando tomaram ciência do título da exposição que será aberta no sábado, na galeria Labyrinthus, alguns amigos perguntaram: “São artistas que vão expor em sua homenagem?”. “Respondi que não, que eram obras de minha autoria mesmo”, diverte-se ele, com o Magazine, em bate-papo por telefone. O título em questão – “Paisagens Interiores: Tributo a Orlando Castaño” – até poderia, sim, suscitar interpretações. Mas Orange Matos Feitosa, curadora da mostra (e sócia-proprietária da galeria), explica: “Acredito que as pessoas devam ser homenageadas vivas”.

Já a primeira parte do título, ela diz sintetizar o espírito que, na sua avaliação, as obras de Castaño encerram: “Ele gosta muito de pintar paisagens – uma de suas influências foi (o francês) Jean-Baptiste Camille Corot. Só que essas paisagens têm algo de abstrato, portanto é preciso olhar para as telas com muita calma. Por isso chamo de ‘paisagens interiores’”, elucida. Seja como for, a mostra abrigará 42 obras, produzidas em 2018 e 2019, ou seja, recentíssimas. “Mesmo porque tudo o que ele pinta é vendido muito rapidamente. Ele até tem algumas coisas mais antigas, mas não quis expor, e, da minha parte, entendo que mostrar a produção mais recente é importante, até para confirmar o quanto ele segue ativo”.

Orange conheceu o trabalho de Castaño há cinco anos, quando se mudou para a capital mineira – nascida em Manaus, ela morava em São Paulo, até resolver vir para BH em busca de mais qualidade de vida (“amo São Paulo, tenho muitos amigos lá, mas é uma cidade que esgota as pessoas; salvo se estiverem na vibe da correria, o que não queria mais”). Ela conta que, assim que chegou, começou a pesquisar a produção artística local. “E fiquei muito feliz ao ver quantos grandes artistas há aqui. Conheci, então, o trabalho dele, e, pouco depois, fomos apresentados”, recorda.

No ano passado, mais precisamente em julho, ela inaugurou a galeria Labyrinthus, que já recebeu exposições de artistas como Selma Weissmann. Mais recentemente, veio a ideia de expor as obras de Castaño. “No início, ele brincou: ‘Ah, ninguém quer mais saber do meu trabalho’. Não disse em tom de lamento, mas eu fiquei rindo e disse: Então vou a seu ateliê ver isso que ninguém quer ver”.

Ao Magazine, Castaño desconversa, modesto. “Eu sou tão ruim de prosa! São umas manchas pequenas de paisagens, mas não têm um significado. Estou com 75 anos, e aos 15 já trabalhava com a consciência de pintura. Depois, é a história que você deve ter lido, estudei na Guignard, fui para a Alemanha... Mas continuo pintando o que acho bonito, sou um artista romântico, não tenho essa coisa que muitos hoje têm, de um significado a ser dito em muitas palavras. A pintura, para mim, é um exercício mental, não intelectual. Uma coisa simples. Manchinhas”, descreve, acrescentando que são telas de pequenos formatos, a maioria, de 20 cm x 30 cm.

Já Orange não poupa adjetivos para falar do artista que vai ocupar as paredes de sua galeria. “Ele tem um trabalho muito profundo, e acho que estamos precisando disso, de profundidade. E belo, no sentido mais amplo do termo, como os gregos o pensavam. Além disso, é provocador e até mesmo irreverente, traço que por vezes o fez ser criticado”, elogia ela.

Programe-se

Onde. Labyrinthus (rua Hermílio Alves, 322)
Quando. Abertura para convidados no sábado. Para o público, de 10/3 a 7/4, de terça a sexta, das 10h30 às 19h30, sáb., das 11h às 17h.
Quanto. Entrada franca.

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