Na edição passada, o Oscar teve discurso forte contra o racismo, que se refletia nos filmes que disputavam a estatueta. Neste ano, no entanto, a força de resistência não está nos filmes. Dos nove indicados à categoria principal, somente um é dirigido por mulher – o morno “Adoráveis Mulheres”, de Greta Gerwig –, e outro tem direção de um asiático – “Parasita”, de Bong Joon Ho, que traz forte crítica social, como “Coringa”, de Todd Phillips.
Entre os atores, há apenas uma negra, Cynthia Erivo, indicada por “Harriet”, e um estrangeiro, o espanhol Antonio Banderas, que concorre por “Dor e Glória”. Na direção, todos os competidores são homens. As mulheres se destacam na categoria documentário: quatro dos cinco títulos têm a batuta de uma diretora – e o único que foge à regra retrata uma mulher. “Democracia em Vertigem”, da brasileira Petra Costa, está na seleção.
“Petra conta sua história de forma pessoal, o que leva as pessoas a se identificarem e entenderem a situação política do Brasil”, afirma o professor de cinema e audiovisual da ESPM Rio, Pedro Butcher. “Ela faz isso muito bem, e é curioso ver como esse elemento pessoal recebido de forma não muito boa pelos brasileiros, internacionalmente deu força ao filme”, completa.
“Ter um filme brasileiro indicado ao Oscar neste momento político em que vivemos hoje, é superimportante”, defende a cineasta Susanna Lira, de “Torre das Donzelas”. “Mostra o quanto a gente amadureceu como indústria, traz uma cineasta mulher. Mulheres têm feito filmes interessantes, e, no Brasil, isso tem muita relevância, pois somos poucas ainda no cinema. A Petra representa todas as cineastas do país”, diz Susanna.
A concorrência, porém, é forte com “Honeyland”, de Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov (Macedônia), que também concorre na categoria filme internacional; “For Sama”, da síria Waad al-Kateab; “Indústria Americana”, de Julia Reichert e Steven Bognar; e “The Cave”, do sírio Feras Fayyad.
“Essa baixa representatividade de mulheres e negros é reflexo de um ano concorrido, num contexto em que os brancos têm vantagem. Lupita Nyong’o deveria estar na lista por ‘Nós’ (de Jordan Peele)”, diz Butcher. “Isso mostra que as mudanças da Academia nessa questão da representatividade são insuficientes. Então, podemos esperar uma cerimônia de protestos”.
Briga de gigantes
Com a estreia de “O Irlandês” e “Era Uma Vez em... Hollywood” no fim do ano passado, Martin Scorsese X Quentin Tarantino era o duelo esperado para o Oscar, pois Phillips é novato. O que ninguém previa era a chegada de Sam Mendes, que surpreende em “1917”, com um plano-sequência de tirar o fôlego. Bong Joon Ho era presença incerta na lista, e a Academia pode repetir o feito de 2019, quando premiou o mexicano Alfonso Cuarón.
Entre os atores, Joaquin Phoenix (“Coringa”) é favorito, por mais que Banderas e Jonathan Pryce estejam ótimos em “Dor e Glória”, de Pedro Almodóvar, e “Dois Papas”, do brasileiro Fernando Meirelles, que disputa o prêmio de roteiro adaptado. Adam Driver (“História de um Casamento”) e Leonardo DiCaprio (“Era uma Vez em… Hollywood”) completam a lista.
Renée Zellweger é a favorita entre as atrizes por “Judy”, cinebiografia de Judy Garland. Além de Cynthia Erivo, concorrem Saoirse Ronan (“Adoráveis Mulheres”), Charlize Theron (“O Escândalo”) e Scarlett Johansson (“História de um Casamento”).