Lançamento

Para autor, Lava Jato destrói mais o país do que a corrupção

Advogado Walfrido Warde defende em livro que operação foi prejudicial para a economia brasileira

Por Ana Weiss
Publicado em 27 de outubro de 2018 | 03:00
 
 
 
normal

Advogado especialista em litígios empresariais e presidente do Instituto para a Reforma das Relações entre Empresa e Estado (IREE), Walfrido Warde fazia parte de um segmento da sociedade que tinha muito o que comemorar com a Lava Jato. Mas, como muitos dos entusiastas da cruzada contra a cultura da propina, inspirada na italiana Mãos Limpas (Mani Pulite), entendeu logo que o contorno novelesco atenderia mais a audiência de um país cansado do que à saúde de sua economia.

Em “O Espetáculo da Corrupção”, livro que ele lança pela Leya, também em Belo Horizonte, Warde mostra como a operação encabeçada pelo juiz Sergio Moro destruiu esquemas menos relevantes do que os que ajudou a fortalecer, criando supercorruptos, como em uma seleção natural de bactérias expostas a antibióticos insuficientes. E, nesse caminho, destruiu mais empresas que reputações, mais carreiras honestas que corruptas e mais projetos longevos que ações oportunistas, encolhendo a economia nacional de maneira assoladora.

“Se é questionável que a operação Lava Jato tenha expurgado de sujidades os ambientes político e empresarial brasileiros, por outro lado, não restam dúvidas de que os seus esfregões respondem, em alguma (grande) medida, por varrer setores econômicos inteiros, pela demolição de empresas brasileiras de grande porte – tantas delas com atuação transnacional de inquestionável excelência – e pela perda de milhões de postos de trabalho”, afirma o autor.

Os números, levantados pela grande imprensa e grandes consultorias, tiram a impressão de exagero das palavras de Warde. As perdas com a operação, afirma ele, chegam a R$ 180 bilhões, sendo que se espera recuperar pouco mais de R$ 10 bilhões, “sob fé intensa e inquebrantável”.

Para o presidente do IREE, dois dos erros fundamentais da Lava Jato – ou dois principais motivos que a fazem mais prejudicial que benéfica para o país – estão no início e no final de seu escopo. Faltam, segundo ele, base legal e conceito claro do que se combate ou se deve combater. Ele usa a legislação norte-americana, que permite e regula o lobby, como um exemplo a ser seguido. Na outra ponta, o programa de sobrevivência das empresas, mesmo as que colaboram com as investigações, não dá conta de preservar a economia envolvida e, por consequência, os postos de emprego direto e indireto que elas geram. “O problema é que a punição da corrupção, protagonizada pelo Ministério Público, funciona bem, mas a leniência, não (...). A empresa que celebra acordo com o Ministério Público não se livra da mão pesada do Estado; pode ser declarada inidônea pela CGU ou pelo TCU, e a indenização e a multa podem ser revistas e aumentadas”. Para o advogado, esse desequilíbrio contra as empresas nas políticas da investigação punem mais os funcionários e a sociedade do que eventualmente os acionistas. “É como matar o paciente na tentativa de curar o câncer”, compara.

Não se espere, porém, encontrar no livro os personagens ou novas revelações sobre essa novela real, que mudou a história política e econômica do país. O texto, breve, é uma análise o mais distanciada possível dos estratagemas, na opinião do autor, falhos, que fizeram dessa, entre tantas outras operações anticorrupção, um espetáculo de altíssima audiência, com contornos heroicos e vilanescos sem precedentes.

“Quando critico a Lava Jato, não critico os homens e mulheres de bravura ou espírito público (...). Critico o Estado brasileiro, e sua desarticulação confessa, que não precisa e que não deve ser aceita pelo povo”, escreve Warde. “Critico o desnecessário desmantelamento de empresas e de setores inteiros da economia, a demonização da política e a ameaça às instituições que decorre em grande medida da politização do direito”, completa.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!