Aos 7 anos, o menino Vítor Rocha começou a fazer teatro na escola. Incentivado por seus professores, ele percebeu que encarava a atividade com afinco. Tanto que, aos 13 anos, disse à mãe: “Quero ser ator”.

A mãe nem titubeou, e o adolescente, que morava em Jacutinga, no interior de Minas Gerais, passou a pegar o ônibus todo sábado para frequentar as aulas no Teatro Escola Macunaíma, em Campinas, no interior de São Paulo.

Nada foi em vão, e Vítor, aos 21 anos, recebeu prêmios teatrais, como o Bibi Ferreira de Revelação por seu “Cargas D’Água: Um Musical de Bolso”. 

“Nunca imaginei que isso pudesse acontecer”, ressalta Rocha. “A gente torce, mas a ideia de o musical ser de bolso era essa de chegar devagarinho, subir um degrau de cada vez”, diz. Para ele, a surpresa maior foi ter sido visto.

“Fico honrado e me sinto esperançoso ao perceber a crítica olhando para uma produção pequena, autoral, e reconhecendo o valor que isso tem”, diz Rocha, que, além de ser o autor do musical, atua, dirige e assina, ao lado de Ana Paula Villar, as músicas da obra.

Quando iniciou sua jornada, Rocha pensava somente em atuar. O impulso de escrever veio de um sentimento básico: o medo. “Tinha tanto medo de não passar em audição, que quis fazer o meu texto. Costumo dizer que o medo de nunca conseguir o papel dos meus sonhos me levou a querer transformar o meu sonho em papel”, fala.

A questão financeira também teve peso. “Queria fazer uma peça, mas não tinha dinheiro para comprar direito autoral, e tudo o que havia em domínio público já tinha sido feito”, conta. “Ou eu montava ‘Romeu e Julieta’ pela milésima vez, ou fazia algo autoral”. Ainda bem que ele arriscou e realizou, em pouco mais de um mês, ao lado de Ana Paula Villar, o musical que lhe abre as portas agora para seus muitos projetos.

“Cargas D’Água” conta a história de um menino que perde a mãe e passa a viver com o padrasto, que o chama de “Moleque”. Ao seu lado, ele tem apenas um companheiro: um peixe que ele conserva em um balde e que pretende libertar no mar.

Moleque, então, passa a viajar pelo interior rumo ao litoral. Cantada em versos, a história traz elementos regionais, algo que deve se tornar marca registrada do jovem dramaturgo.

Em “Comitiva Esperança”, musical que montou na escola de teatro, Rocha se valeu da música sertaneja de raiz para costurar histórias de gente simples do sertão mineiro.

Já seu próximo musical, “O Mágico Di Ó”, tem base na literatura de cordel e transporta Dorothy para o sertão nordestino. “Dorothy quer ver além do arco-íris, então pensei: ‘Como seria esse sonho numa terra onde não chove nunca?”.

Para Rocha, esse elemento de identidade de um povo é essencial no trabalho de um artista. “Uma história só termina quando a gente para de contar; e o povo só morre quando ele para de cantar. Então, se a gente deixa de colocar essa regionalidade, a gente perde a identidade, e o que não tem identidade não dura”.

Ao mesmo tempo em que os prêmios lhe abrem portas, eles também geram um frio na barriga. “O medo aumenta, mas aprendi a usar isso para o bem”, diz.

“Ainda é difícil pensar em audição, mas hoje me vejo atuando em peças que não escrevi e escrevendo peças que não são para mim”, ressalta ele. “Descobri que, neste processo de aceitação, o que gosto de fazer é criar”.

Artista está com a agenda estufada em 2019

Vítor Rocha quer voltar aos palcos com “Cargas D’Água” em fevereiro. “Não sei onde vamos estrear, mas gostaria de levar o musical para cidades pequenas, que não têm grandes teatros”, projeta.

Já “O Mágico Di Ó”, inspirado em literatura de cordel, está previsto para estrear no segundo semestre deste ano.

Para o primeiro semestre, ele prepara “Se Essa Lua Fosse Minha”, em que usa músicas originais para contar uma história a partir das letras das cantigas de roda.

Outro projeto para este início de ano é a obra “Uma das Bailarinas”, em coautoria com Mariana Barros. “A peça é uma fábula sobre o tempo”, diz Rocha. “Falamos sobre o que se passa na cabeça de uma bailarina no tempo de uma pirueta”.