Um senhor de 150 anos que ainda precisa ter a sua história melhor contada. Essa é a constatação do pandeirista Túlio Araújo, que com o grupo Choro Amoroso abre nesta sexta (26) a Semana Nacional do Choro (confira a programação completa). “Existe um lado da história do Brasil que apagou a cultura dos negros escravos e dos povos indígenas. Com o choro não é diferente, ele tem a sua origem sacramentada no maxixe e nos terreiros de candomblé”, afiança Araújo.
Baseado em estudos históricos, ele referenda sua tese a partir da escolha de um repertório que traz “Te Cuida, Jacaré” e “Princesinha no Choro”, de Dominguinhos; “Um a Zero” e “Cochichando”, de Pixinguinha; além de obras de Hermeto Pascoal, Sivuca e Juarez Moreira. “Estamos buscando a raiz mais profunda disso tudo. O choro vem dos negros assim como o jazz. ‘Benguelê’, de Pixinguinha, é um lundu em dialeto iorubá, e no grupo Oito Batutas eram todos pais de santo”, exemplifica. “Dalí vem o suingue do choro”, completa.
Mulheres. Com o intuito de homenagear a flauta e a crescente visibilidade do protagonismo feminino, o evento conta com a participação da flautista francesa Odette Ernest, referência para Mariana Bruekers, que sobe ao palco com o Clube do Choro. “A música, em geral, era um ambiente tomado pelos homens. Isso tem mudado, estamos em processo”, diz ela, que faz questão de tocar Chiquinha Gonzaga. “Como mulher, ela passou poucas e boas pra conseguir ser reconhecida”, enaltece.