Apesar das dificuldades em se viabilizar um evento de artes cênicas no interior, o Tiradentes em Cena preferiu evitar o chororô e escolheu a alegria como tema de sua sétima edição, que se encerra neste sábado.
Nesse contexto de resistência, mas sem perder a ternura, a mostra chega ao final com 22 peças apresentadas e um balanço satisfatório, segundo Aline Garcia, organizadora do evento. “Foi um ano difícil, mas resistimos com alegria. Tivemos um público bastante interessante, realizamos boas rodas de conversa e apresentamos diversidade teatral, contemplando desde espetáculos contemporâneos até montagens de teatro de rua”, avalia.
Mesmo Tiradentes sendo uma cidade com um dos calendários culturais mais inquietos em Minas Gerais, levar teatro para ruas e praças dá ao evento um merecido destaque. O último dia da programação, portanto, segue essa linha curatorial.
Às 11h, o espetáculo “A Gota que Falta” ocupa o Largo das Forras. A montagem do Grupo Trama, com direção de Chico Pelúcio, ator do Grupo Galpão, parte de uma distopia para refletir sobre como estamos nos relacionando com nossas riquezas hídricas. A montagem propõe um cenário onde a água é um dos bens mais valiosos.
O líquido é produzido em uma fábrica onde patrões estabelecem metas impossíveis de serem alcançadas – mais um indicativo de que a curadoria está antenada com questões urgentes, especialmente em um Estado onde barragens se rompem e destroem vidas.
Situado em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, o Grupo Trama convidou Pelúcio para a direção da peça, que estreou no ano passado, quando a companhia completou duas décadas de uma existência elogiável.
Pelúcio devolve a gentileza e demonstra ser um admirador do grupo teatral, que, segundo ele, passa por um momento de renovação – os quatro atores em cena são fruto de uma oficina realizada no ano passado.
O encontro de Pelúcio com a companhia configura uma oportunidade para se debater outro tema relevante: a importância do teatro de rua, conforme propõe o diretor.
“Eles são um grupo resiliente e fazem uma provocação da cena teatral, pois Belo Horizonte é uma cidade que não atende mais ao teatro de rua”, reflete.
Para Pelúcio, cuja trajetória no teatro de rua é reconhecida, junto do Galpão, os atuais mecanismos de incentivo e fomento se esqueceram de contemplar esse segmento das artes cênicas.
“É um tipo de teatro que tem a capacidade de descentralizar e democratizar o acesso, não somente no interior, como também nas periferias. Ajuda a formar público e tem aspectos sociais importantes”, defende.
“Mais do que nunca, temos que levar esses temas para as ruas e resistir a esse retrocesso que estamos vivenciando”, completa.
Em seguida, o diálogo aproximado entre os fazedores de teatro da capital e do interior será possibilitado com um bate-papo que acontece às 16h no jardim do Espaço UFMG Cultural Quatro Cantos. “Quero descobrir como essa moçada consegue sobreviver de teatro”, brinca o diretor.
Às 20h, o grupo Teatro da Pedra realiza o cortejo cênico “Caetanar”, que sai do Centro Cultural Sesiminas Yves Alves, seguido da apresentação da banda Sagrada Profana.