“Aquaman”, que estreia nesta quinta-feira (13), foge dos padrões dos filmes de super-heróis em muitos aspectos. Caso fosse mais rebelde em sua raiz, digamos assim, seria ainda melhor. Sim, “Aquaman” não é um filme ruim nem mediano.
Tirando os excessos, trata-se de um longa-metragem divertido que conta uma saga familiar mitológica, com elementos que garantem uma boa história: tem romance, humor, aventura e um casal charmosíssimo. E todos esses ingredientes superam o que costuma ser mais valorizado nos filmes de super-herói de hoje em dia – a ação e o maniqueísmo – em detrimento ao enredo.
O diretor James Wan (“Invocação do Mal”) começa a pintar sua saga ao retratar a rainha Atlanna (Nicole Kidman), do reino das águas, sendo retirada do mar pelo faroleiro Tom (Temuera Morrison). Claro que daí nasce um amor, e o fruto dessa união é o garoto Arthur Curry, que percebe, desde criança, que não é uma criança ordinária.
Para salvar seu filho e seu companheiro, Atlanna volta a Atlantis, mas promete regressar um dia.
O tempo passa, Arthur cresce e se torna um daqueles caras cabeludos, barbudos e tatuados que poderiam viver na estrada, com sua Harley, bebendo cerveja em algum bar de beira de rodovia.
E o havaiano Jason Momoa cumpre o seu papel num figurino calça-justa/sem camisa que lhe cai bem. Injusto, no entanto, é dizer que Momoa não vai além do estereótipo. O ator consegue dar ao personagem, além de músculos, graça e sensibilidade. Seu Aquaman é um gentleman.
A exemplo de filmes como o divertido “Homem-Aranha”, de Sam Raimi, Wan acerta ao mostrar, mesmo que aos poucos, o garoto Arthur na descoberta de seus poderes. O mestiço é indestrutível, tem uma força descomunal e ainda se comunica com os seres d’água.
É divertido ver como seu tutor, Vulko (o veterano Willem Dafoe), trabalha para transformar o singelo filho do faroleiro em um guerreiro. Na outra via, o diretor ganha pontos ao mostrar também as descobertas que Mera (Amber Heard), uma criatura do mar, faz em um passeio na superfície. O casal Mera/Aquaman tem química, e é divertido vê-los juntos até mesmo nas cenas de ação.
É Mera quem tira Aquaman de sua zona de conforto ao levá-lo para Atlantis para desafiar seu meio-irmão, o rei Orm (Patrick Wilson), que quer iniciar uma guerra entre os mundos da Terra e do Mar.
Esse conflito entre irmãos dá um tempero ao filme, assim como acontece em “Millennium: A Garota da Teia de Aranha”, filme de Fede Alvarez que esteve recentemente em cartaz. Os dois longas mostram irmãos e irmãs criados separados e completamente diferentes um do outro nos seus valores provenientes de suas vivências e de seus mentores.
Enquanto corre atrás de uma lenda para destronar Orm, Aquaman precisa lidar também com o vilão Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II), arqui-inimigo de Aquaman nos quadrinhos, mas que não tem tanta importância na trama, ao menos nesta etapa da vida do herói. Assim como surge rápido, o vilão desaparece da trama na mesma velocidade.
A inserção de Arraia Negra e as lutas são um ponto negativo do filme, pois seguem essa tendência de mostrar tudo ao mesmo tempo e agora. Tem cena que junta animais marinhos, criaturas dos reinos d’água, monstros, naves, soldados com explosões, tiros de laser, de plasma…
Wan poderia ter fugido desse lugar-comum. Assim, ele teria em mãos um filme de super-herói realmente surpreendente, assim como foi “Superman: O Filme”, 40 anos atrás.