Roger Mello transita pela ilustração e pela escrita de ficção, estabelecendo aproximações com outras vertentes. Afinal, para o artista, o importante é nutrir-se de diversas referências, sejam elas do universo dos quadrinhos, das charges ou da literatura, entre outros.

“Eu nunca consegui ver separação entre as artes. Há artistas que costumam fazer isso e, muitas vezes, quem produz charge ou cartum não conversa muito com quem é do universo do desenho animado, e quem faz quadrinhos não dialoga com que quem produz ilustração, o que para mim é uma doideira. Acho que a geração que nasceu acessando a internet é que está misturando um pouco mais essas coisas e eu acho muito bom que as pessoas voltem a pensar na impureza dos gêneros”, pontua Mello.

Nascido em Brasília, ele recorda que costumava frequentar as mostras de filmes de animação promovidas pelas embaixadas de diversos países, o que, a seu ver, contribuiu muito para a sua formação. “Eu sou muito filho da animação. Eu vi muito desenho animado de tudo quanto é canto do mundo. Produções dos países do Leste europeu, da Coreia, da França, da Rússia. Eu passava horas vendo vários desses filmes. As cores me marcaram muito e hoje eu uso tintas que não são guache nem outras de aquarela por causa dos desenho animados. Junto com os quadrinhos, eles me formaram muito e, por isso, eu não separo quadrinho de ilustração”, relata Mello.

Ele recorda que a visão separada de cada uma das linguagens é algo mais recente e que, séculos atrás, era comum, por exemplo, o texto conviver junto com a imagem de maneira mais constante, sem que isso fosse algo estritamente relacionado ao universo infantil.

“Eu vejo as pessoas dizendo que livro para criança é muito ilustrado hoje em dia, diferentemente do passado. Mas é preciso nos perguntar se isso é, de fato, verdade. Nós só começamos a imprimir livros sem imagens porque reproduzi-los com ilustrações era algo mais difícil. O livro para adulto, então, passou a não ficar ilustrado e as pessoas começaram a achar que isso era uma obsessão, mas, na verdade, relacionava-se também a uma incapacidade tecnológica que depois foi solucionada com as gráficas modernas. Se formos ver os primeiros livros vamos notar que eram pintados à mão e isso é presente em diversas tradições, seja a árabe ou a indiana”, acrescenta o autor.

Teatro. Mello também dedica-se à escrita de peças teatrais e alguns dos seus livros já foram adaptados para os palcos, a exemplo de “Todo Cuidado É Pouco” e “Meninos do Mangue”, vencedor do Jabuti em 2002. Atualmente, ele revela que está interessado em trabalhar num novo texto centrado na trajetória do compositor carioca Lamartine Babo (1904-1963).

“Várias peças já foram feitas sobre ele, mas queria focar num episódio específico de sua vida. Lamartine foi muito influenciado pelo teatro, assim como outros compositores brasileiros, como Ary Barroso (1903-1964) e Chico Buarque. Eu estou interessado em tratar da relação de Lamartine com o teatro de revista”, diz. “Eu também hoje resido parte no Rio de Janeiro e parte em Brasília, onde existe uma cena de chorinho muito interessante, e eu sou um apaixonado pela música brasileira. Então, é possível que pinte algum musical por aí. Mas não algo tradicional e, sim, mais louco, como as produções de Bob Wilson”, completa ele.