Xande de Pilares, 50, conta que “tinha tomado um pé na bunda” de sua ex-noiva quando entrou em uma loja à procura do disco ao vivo de Vander Lee (1966-2016), lançado em 2003. “Hoje, você vai no YouTube e encontra a música, naquela época era mais difícil”, compara o entrevistado. O interesse pelo cantor belo-horizontino surgiu em um show de Alcione. Xande estava na plateia e ouviu a cantora tecer elogios sobre um compositor de quem, segundo ela, “as pessoas ainda iriam ouvir falar muito”, recorda.
De cara, o sambista decidiu regravar “Esperando Aviões”, até receber a notícia de que o sucesso tinha ganhado uma versão do conjunto paulista Doce Encontro pouco tempo antes. “Estava crente que só eu estava descobrindo o Vander Lee”, diverte-se Xande, que realizou o desejo de interpretar o autor mineiro com o registro de “Contra o Tempo”, para o seu primeiro DVD solo. “Nos Braços do Povo” foi filmado em novembro, no Rio de Janeiro, com convidados como Diogo Nogueira e Jorge Aragão.
“O samba nasceu no meio do povo. Na época do (grupo) Revelação, ao final dos shows a gente descia do palco e ficava no meio da galera. Quando a gente se aproxima dessa maneira, a emoção fica mais natural e verdadeira. O artista, principalmente da música, não deve se afastar do povo nunca”, avalia Xande.
Sucessos
Neste sábado (11), o músico estará na Feira do Mineirinho, dando voz a hits de sua trajetória, como “Tá Escrito”, que se tornou tema de abertura da novela global “A Dona do Pedaço”. Composta com Carlinhos Madureira e Gilson Bernini, a música dos versos “erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé/ manda essa tristeza embora/ basta acreditar que um novo dia vai raiar”, surgiu em um momento dramático. “O Gilson (Bernini) era um compositor mais de samba-enredo e tinha acabado de perder um filho. A música foi criada nesse período, e eu logo tive a ideia de mandá-la para o Zeca Pagodinho”, informa.
Lançada pelo conjunto Samba pra Gente, a canção obteve regravações que confirmaram o seu êxito, como a do próprio Revelação e a de Caetano Veloso. Com “essa evidência e a imensa repercussão” apareceu o interesse da Rede Globo, diz Xande. “Sempre fui noveleiro, acompanhei artistas como Gal Costa, Fábio Jr., Baby do Brasil, Nelson Gonçalves e Beth Carvalho tendo essa oportunidade de cantar em novelas. Quando essa chance chegou para mim, aí considerei que tinha virado um artista de verdade”, confidencia.
Outra faixa incontornável do repertório é “Clareou”, de autoria de Serginho Meriti e Rodrigo Leite. A música ganhou as vozes de Paula Lima, Diogo Nogueira e do padre Fábio de Melo, mas ficou marcante mesmo na interpretação de Xande. “Gosto de cantar músicas que tragam uma mensagem. Mesmo falando de amor, a canção precisa de uma frase de efeito que chegue ao coração das pessoas. Estamos num momento difícil, principalmente no nosso país. As pessoas querem brigar por tudo, você não pode ser partidário, que é agredido na rua. A política só divide, e a música tem o poder de combater o mal, elevar a nossa autoestima”, conclui o cantor.
Samba
Xande de Pilares diz que, “para começo de conversa, o samba nunca saiu de seu lugar”. Ele defende que, desde que era criança, no auge da Jovem Guarda, “surgiram diversos movimentos, cada um com o seu momento, como pop rock, axé, forró, sertanejo e funk, que já foi muito discriminado e hoje dá oportunidade para a molecada da favela”, aponta. “E o samba permanece”, completa.
Ele também discorda que “o pagode seja um gênero”. “Pagodeiro frequenta o pagode onde o sambista toca”, declara. E se mostra incomodado com a noção de que o ritmo tenha ficado no passado. “Tem umas balelas por aí, por exemplo dizer que o samba é patrimônio cultural. Patrimônio é o escambau! Não concordo. Sai do país e fala que é brasileiro, que a pessoa logo chuta uma bola ou pensa em samba”, afirma.
O futebol, aliás, é outro assunto do seu interesse. Depois de gravar com Jota Quest e se tornar amigo dos integrantes, o compositor foi levado pelos irmãos Rogério Flausino e Wilson Sideral a uma partida de futebol entre Atlético e São Paulo no Morumbi. “Sou um cara que sempre valorizou o futebol brasileiro. Não sei se os torcedores atuais sabem quem foram Paulo Isidoro e Reinaldo, talvez o maior atacante dentro da área que eu tenha visto”, elogia.
A ligação com Minas vai além. Neto, por parte de pai, de uma mineira, Xande sente saudades da comida preparada por ela. E não se esquece de citar Toninho Geraes e Serginho BH como “craques do samba”.
Serviço
Show com Xande de Pilares e outros sambistas, neste sábado (11), a partir