Entrevista

Mano Brown sobre 2ª temporada do Mano a Mano: 'O importante é ser transparente'

Rapper fala do podcast no Spotify e dos desafios de se colocar mais uma vez como entrevistador

Por Bruno Mateus
Publicado em 23 de março de 2022 | 05:26
 
 
 
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Mano Brown estreou o podcast Mano a Mano em agosto de 2021. Foi a primeira experiência do rapper como entrevistador. Acostumado a dar opiniões sobre música, cultura, política e sociedade, Brown mais ouviu que falou. A primeira temporada do programa terminou em dezembro passado.

Wagner Moura, Vanderlei Luxemburgo, Karol Conká, Fernando Holiday, Djonga e Gloria Maria foram alguns dos nomes que estiveram nos 16 episódios. Mano a Mano foi o segundo podcast mais ouvido no Spotify em 2021, e a entrevista com o ex-presidente Lula foi o episódio com a maior audiência na plataforma no mesmo período.

Sucesso é só mais um sinônimo de trabalho e esforço para Mano Brown. Ele credita a ótima repercussão e a grande audiência do podcast à seriedade com que ele e a equipe de produção tocam o projeto. É curioso que até hoje Brown, findadas as entrevistas, não tenha ouvido um episódio sequer. “Não ouço nenhum, não posso mentir. É tudo de ida, não ouço na volta”, comentou o rapper em coletiva de imprensa na última quinta-feira (17).

O vocalista do Racionais se justifica: “Tem duas coisas: eu trabalho muito e nem sempre tenho esse espaço, e me resguardo para ficar o mais natural possível. Não sou profissional de jornalismo, represento os leigos e faço perguntas que vão servir a eles”.  

A entrevista da semana passada tinha um tema: a estreia da segunda temporada de “Mano a Mano”. Nesta quinta (24), o programa volta ao Spotify. Sempre às quintas-feiras, um episódio chegará à plataforma. Dos nomes já revelados por Brown, o cantor e compositor Seu Jorge, o rapper Emicida, primeiro entrevistado de 2022, e o neurocientista Sidarta Ribeiro estarão frente a frente com ele no programa.

“Seu Jorge acho que é o próximo a ser gravado, ele tem muita ideia para trocar. Com o Emicida foi sensacional. O Sidarta também estará na segunda temporada. Ele é um cara essencial para o momento que a gente vive. Um herói do nosso tempo”, diz o músico.

Jornalista investigativa e diretora do Instituto Fogo Cruzado, a mineira Cecília Olliveira também é uma das convidadas desta segunda temporada. Ela vai falar sobre segurança pública, tema abordado no programa pela primeira vez. Segundo o rapper, Dilma Rousseff e Pelé estão no radar da produção do podcast. Sobre a ex-presidente da República, Brown diz que ela é “uma das mulheres mais injustiçadas da história do Brasil”.

Apaixonado por futebol e pelo Santos, o músico também falou sobre o eterno camisa 10 da seleção brasileira e do time da Baixada Santista: “Pelé é um combo de questionamentos, divide o Brasil ao meio. Ou o admiram, ou o invejam”.

Diálogo

Após a experiência na primeira temporada, estar atrás do microfone ainda é um desafio para Mano Brown. Ao aceitar comandar um podcast e sair da zona de conforto, ele sabe que se expõe às críticas ao mesmo tempo em que revela suas fragilidades. Brown diz estar em uma fase de aprendizado contínuo para conseguir tirar dos entrevistados o que o público comum quer ouvir.

“Você leva um Lula, um Djonga ou uma Karol Conká e não pergunta o que as pessoas querem? Você acaba irritando essas pessoas. Ainda tenho que controlar a ansiedade para não interpelar o entrevistado”, reconhece.  

Mesmo ao debater assuntos complexos, o músico se esforça para que a linguagem seja de entendimento de todos, “que o cara trabalhando descarregando um caminhão possa entender e se reconhecer”. Mano a Mano não é para entendidos, é para todos, Brown faz questão de dizer.  

Grande parte dos ouvintes ligados no “Mano a Mano” é formada por jovens da periferia. Chegar ao público das favelas brasileiras deixa Brown satisfeito. Com o microfone do Racionais na mão, ele conseguiu dialogar com essa parcela da sociedade por meio das canções, dos discos e dos shows. O programa, segundo o rapper, é mais uma plataforma de diálogo com a molecada, algo que requer sintonia e transparência.

“A juventude está concentrada em várias coisas ao mesmo tempo, e você tem que ser prático e objetivo, mas não pode ser uma conversa de professor para aluno. Conhecimento tem que ser compartilhado, mas, se o moleque não entender, não valeu de nada. É sabedoria inútil”, pontua.

Dos assuntos que podem pintar na segunda temporada, afrofuturismo e teologia negra são dois deles. Entre a Bíblia e livros de antropologia, Mano Brown passa horas estudando. Nesse sentido, o podcast, segundo o rapper, contribui para tirar o aspecto marginal que as pessoas criaram para falar dele. “No imaginário delas, sou um cara extremamente ignorante e intransigente. Nunca fui nem um, nem outro”, ele argumenta. No entanto, o músico diz ainda conviver com a desconfiança que paira sobre sua inteligência e intelectualidade: “Fui obrigado a conviver com a alcunha de um cara burro”.

Se Mano a Mano inspirar e influenciar um – um que seja – jovem da periferia, Mano Brown já está feliz. Sobre o que o programa fez e ainda pode fazer pelo artista que vira entrevistador quando as câmeras começam a gravar, o rapper afirma que o futuro responderá a essa questão. 

Sem querer agradar a todos, pronto para sair da bolha e encarar contradições e controvérsias, Brown só tem uma coisa em mente: “O importante é ser transparente, não mentir para meus irmãos. Unanimidade não existe”.  

Turnê nos EUA

Mano Brown, Edi Rock, KL Jay e Ice Blue farão, pela primeira vez na história do Racionais MC’s, uma turnê nos Estados Unidos. Entre 16 e 27 de julho, o quarteto, que celebra 33 anos de estrada em 2022, se apresentará em cincos Estados norte-americanos: Connecticut, Nova Jersey, Massachusetts, Utah e Califórnia, além de fazer uma festa de lançamento da turnê em Nova York, no dia 14, com ingressos limitados. Informações sobre a “Racionais World Tour 2022” em racionaisworldtour.com

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