Teatro

Márcia Limma estreia nesta sexta o espetáculo 'Medeia Negra'

A atriz baiana revisita e busca reescrever mito grego que foi levado ao universo do teatro a partir do trabalho de Eurípedes

Por Carlos Andrei Siquara
Publicado em 22 de novembro de 2019 | 13:39
 
 
 
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A personagem mitológica Medeia adentrou o universo do teatro, pela primeira vez, no festival de Dionísio, na Grécia, por volta de 431 a.C, por meio da escrita de Eurípedes, que tornou possível a encenação da perturbadora história da mulher de Jasão. De lá para cá, a narrativa que coloca em cena o infanticídio cometido por Medeia, movida pela sentimento de vingança, já ganhou diversas releituras.

E agora a atriz baiana Márcia Limma revisita o mesmo mito no solo “Medeia Negra”, o qual será apresentado nesta sexta-feira e amanhã (23) na Funarte MG, dentro do Festival de Arte Negra.  A artista toma como referência a questão do encarceramento feminino e o ponto de vista da mulher negra como dois importantes pontos de partida para conceber uma visão alternativa desse clássico.

“Depois de estudar a história de Medeia, eu fiquei interessada em repensar a versão dessa história apresentada por Eurípedes. Eu fiquei muito motivada em refletir sobre a perspectiva do feminino que é colocada ali, e, claro, tendo sempre um olhar para o corpo negro, principalmente da mulher negra, e das diversas camadas de violência que elas são obrigadas a lidar”, observa Márcia.

Paralelamente à construção desse trabalho, a atriz conta que visitou o Conjunto Penal Feminino de Salvador (BA), onde conversou com as detentas e discutiu com elas o mito de Medeia. Desse diálogo, surgiram também histórias que acabaram moldando a dramaturgia da peça.

“Realizei uma série de contação de histórias e performances. Nós conversamos sobre o mito e várias questões foram aparecendo ali. A ideia do infanticídio para elas é horrível. É um crime considerado gravíssimo. Mas, nesse processo, eu pedi que elas escrevessem uma carta para Medeia e depois eu produzi outra como resposta”, conta a atriz.

Em comum, ela percebe que há nos relatos uma recorrência de revelações sobre a dor, que, a seu ver, também encontraram no exercício da carta uma possibilidade de elaboração. 
Além desse aspecto, Márcia conta que a peça também se vale muito da música e busca, por meio do figurino, se apropriar do universo grego a partir de uma matriz afro-brasileira.

“Eu busquei no universo do blues e do jazz, vozes que se posicionaram contra os problemas sociais. Eu quis trazer a imagem dessa mulher que pode, assim, ter uma voz. Já o figurino é muito inspirado na encenação do Nego Fugido que é dramatiza a luta dos negros contra a escravidão e acontece em Santo Amaro da Purificação (no Recôncavo Baiano)”, diz Márcia. 

Serviço. "Medeia Negra” será apresentada nesta sexta e amanhã (23), às 18h, na Funarte (Rua Januária, 68, Centro). Entrada gratuita.

 

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